22 de jun. de 2008

Lado negro

Um lado negro do líder revolucionário Ernesto Che Guevara está sendo exposto em novas biografias que, baseadas em depoimentos de pessoas que conviveram com ele, destoam das memórias enaltecedoras que marcam as comemorações dos 40 anos da morte do guerrilheiro.

Autor de Che Guevara, uma vida revolucionária, o escritor americano Jon Lee Anderson retrata o guerrilheiro como um homem egocêntrico e arrogante.

"Era soberbo e muito severo com os demais. De estilo contundente, chegou a ser muito doutrinário com as suas opiniões", afirmou Anderson à BBC.

Guiado por grandes ideais, Che, diz o biógrafo, não tinha tempo para os que apoiavam a sua causa.

"Como ele mesmo havia se sublimado por um ideal, esperava que todos os demais ao seu redor fizessem o mesmo e isso o transformou numa pessoa muito exigente e sem nenhuma paciência. Formou em volta dele uma legião de uns poucos que viveram a sua vida totalmente de acordo com Che", disse Anderson.

O ex-agente da CIA Félix Rodríguez, que participou da captura e do interrogatório de Che na Bolívia, conta um caso que sugere que o líder guerrilheiro era implacável, até mesmo cruel, com os que não apoiavam a Revolução.

"Há 20 anos, uma mulher se aproximou de mim, em Paris, e me contou como o seu filho de 15 anos foi condenado à morte por escrever contra o governo de Fidel Castro", disse Rodríguez. “Ela conseguiu uma audiência com Che e lhe implorou que deixasse seu filho viver. Era uma sexta-feira e a execução estava prevista para segunda. Quando Che perguntou o nome do rapaz, a mãe acreditou ter conseguido salvar a vida do filho. Ele girou a cabeça e, dirigindo-se a seus soldados, gritou: 'Fuzilem o filho desta senhora hoje mesmo para que ela não tenha que esperar até segunda-feira'”, disse o ex-agente da CIA.

Lado 'oculto'
Outro biógrafo de Che, o jornalista cubano Jacobo Machover, autor do livro El rostro oculto del Che, também destoa das retrospectivas que enaltecem o líder revolucionário no 40º aniversário da sua morte.

Na biografia, Machover fala sobre o período mais obscuro da vida de Che, quando ele foi colocado à frente de uma "comissão purificadora" de uma prisão em Havana que, entre outras funções, supervisionava execuções. Durante esse período, segundo Machover, pelo menos 180 pessoas foram fuziladas depois de ser submetidas a julgamentos sumários presididos pelo próprio Che.

Segundo biografia de cubano, Che assistia às execuções fumando charuto. José Vilasuso, advogado que trabalhou com Che na prisão de La Cabaña no preparo das acusações, confirmou esse aspecto: "Os fatos eram julgados sem nenhuma consideração dos princípios de justiça".

O livro também traz o depoimento de um ex-companheiro de guerrilha de Che, Dariel Jiménez Alarcón, que descreve a frieza mantida pelo comandante durante as execuções que presenciava.
"Che subia num muro e, deitado de costas, observava as execuções enquanto fumava um charuto", disse Jiménez.

Para aqueles que não compartilhavam dos ideais de Che, mais do que um homem com defeitos, o líder guerrilheiro representava uma ameaça a toda a ordem mundial num momento em que a paz do mundo estava por um fio. 'Eu estabeleço uma analogia entre a figura de Che nos anos 60 a de Osama Bin Laden hoje" diz Lee Anderson. "É claro que são personagens muito diferentes e que não geram o mesmo tipo de reações. Refiro-me ao fato de que Che, durante a Guerra Fria, em meio ao perigo nuclear, foi o protagonista do momento culminante na história entre Ocidente e Oriente."

Segundo o escritor americano Lawrence Osborne, a retórica de Che era carregada de ódio. "Alguns de seus discursos eram quase fascistas" afirma Osborne. Ele cita o final de um pronunciamento do líder revolucionário em que ele dizia que "o incontrolável ódio ao inimigo nos impulsiona e nos transforma em máquinas de matar efetivas, frias e seletivas".
Rafael Estefanía

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