Independente da profundidade e da origem global ou local, as crises sempre acabam sendo as “grandes culpadas” pelas demissões nas empresas.
Em meio aos diversos períodos turbulentos das últimas décadas, a área de recursos humanos parece ter o papel único –e estanque - de agente operacionalizador dessas dispensas.
Ou seja, ao RH cabe a parte desagradável no relacionamento entre corporações e profissionais, a obediência ao famigerado “cumpra-se” estampado no final das cartas circulares da casa matriz ou do alto-escalão exigindo um corte linear.
Nessas horas difíceis, os gestores diretamente responsáveis pela contratação e administração da carreira do profissional a ser “guilhotinado” desaparecem, o que revela uma total falta de preparo para lidar com as questões humanas no meio profissional, seja por conta de uma formação acadêmica inadequada para o papel a ser exercido ou por falta de uma atualização contínua, que os profissionais de todas as áreas deveriam receber nas empresas ao longo de toda a carreira.
Costumo ler e ouvir muitas teorias perfeitamente tangíveis sobre a importância estratégica dos recursos humanos, que reluto em acreditar que a maioria dos RHs ainda aceite a posição de “antena repetidora”. Longe de termos as organizações adeptas do conceito de knowledge learning and teaching company (uma empresa que aprende e ensina conhecimentos), o humano das organizações continua despreparado para atuar de forma ajustada e alinhada com as respectivas oscilações e mudanças dos mercados. O mundo corporativo passa a impressão de desalinho entre o modelo de negócios e a estratégia associada com a parte dos processos, responsável pelo envolvimento direto das pessoas dentro das organizações.
Muito mais que um viés psicológico, os RHs precisam injetar uma forte dosagem de conhecimentos de pedagogia no desenvolvimento da organização. Quem tem sob sua responsabilidade a condução de pessoas dentro das empresas precisa ter conhecimentos de uma pedagogia corporativa que permita disseminar e desenvolver os conhecimentos e competências requeridas pelos processos de negócios. Isso vale com crise ou sem crise.
Sempre, e mais que nunca, é tempo de investir no capital humano. O momento é de procurar dar os primeiros passos rumo a novos caminhos. Para tanto, é necessário que a companhia esteja preparada para evoluir mesmo em períodos incertos. Contar com pessoas melhor preparadas e ferramentas que permitam enfrentar o futuro é uma questão de sobrevivência. É necessário um compromisso com a inovação da cooperação aberta e, conseqüentemente, com um estilo aberto de liderança.
Mas, afinal, qual é o papel relevante do RH seja com crises ou sem crises? Certamente não é apenas o de contratador ou dispensador de pessoas. Em função da cultura, cada organização procura achar um papel ideal que ajude a questão da gestão do capital humano. Não existe uma receita infalível, mas fica aqui uma questão: quando o RH estará pronto para mudar o discurso de “precisamos vestir a camisa de nossa empresa” para algo mais adequado aos tempos atuais, algo como “precisamos vestir a camisa de nossos clientes”.
Colocando-se no campo de visão de negócios do cliente, conseguimos surpreendê-lo com soluções inovadoras que ele precisa, mas não consegue de alguma forma comunicar. O mundo mudou, a concorrência se acirrou e o grande desafio de todas as empresas é de provocar mudanças e fazer melhor que seus concorrentes. O cliente tem o poder decretar o sucesso ou o fracasso de seu negócio. Nessa missão, as áreas da empresa devem atuar em harmonia e todos os colaboradores, sem exceção, devem dedicar-se ao processo de inovação contínua com um objetivo único: a satisfação do cliente. Quem sabe seja esta a verdadeira vocação do RH. O que você acha?
Dieter Kelber
Picture by Antov Antonov
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