As artistas dizem que são bissexuais. As meninas ficam com outras meninas. Alguma coisa está mudando ou é tudo marketing e imitação?
Elas são bonitas, femininas, vaidosas. E gostam umas das outras. Ao menos é o que dizem – e dizem cada vez mais. Em três semanas consecutivas de maio, três estrelas americanas famosas revelaram que sentem atração pelo mesmo sexo. Megan Fox, símbolo sexual da nova geração, afirmou que prefere as mulheres por serem mais “limpinhas”.
O furacão Fergie, do Black Eyed Peas, disse que gostou de experimentar moças. A performática Lady Gaga confirmou sua bissexualidade – e aproveitou para lançar um clipe da nova música beijando outra mulher. Em abril, fora a vez de Kelly McGillis, musa dos anos 80.
A jovem atriz americana Lindsay Lohan, ídolo teen do cinema, não tem escondido sua dor de cotovelo depois que a namorada, uma DJ, a abandonou. Isso sem falar na megaestrela Angelina Jolie, que, antes de se tornar mãe de família, alardeava sua bissexualidade (Brad Pitt acreditou, mas na cama do casal, em vez de outras mulheres, há cada vez mais crianças).
No Brasil, Preta Gil não cansa de se rotular como “total flex”. Afinal, trata-se da liberação de um desejo feminino ou de estratégia de marketing?
Para os especialistas, as duas respostas estão corretas. O erotismo que envolve duas mulheres é infalível em termos de mídia – graças à curiosidade geral sobre a homossexualidade e ao fato de ser a fantasia número um dos homens. Mas a natureza feminina, mais flexível e com menos defesas em relação à afetividade, acaba proporcionando uma liberdade maior no campo sexual – sem que necessariamente haja rotulações. “Viver uma ou outra experiência com alguém do mesmo sexo é diferente de ser bissexual”, afirma Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do Projeto Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP). “Nem todas as pessoas crescem com uma definição tão absoluta quanto à orientação sexual. Muitas vezes é preciso amadurecer para chegar a uma identidade. E hoje existe uma maior permissividade para a experimentação.”
Lindsay Lohan |
No clipe mais famoso, da música “All the things she said” (“Todas as coisas que ela disse”), mostravam o sofrimento por um amor proibido. Usando uniforme de estudantes. Na chuva. “Quando a dupla se desfez, uma delas engravidou do namorado secreto, com quem está casada até hoje”, diz Del. Agora querem voltar a gravar juntas e já avisaram, em entrevista recente: “Quando bebemos, ainda ficamos”. Não há dúvida de que mulher com mulher dá audiência. Há quem diga que tudo começou com o beijo cinematográfico que Madonna deu em Britney Spears no Video Music Awards, em 2003.
Não foi um selinho. Justin Timberlake, ex de Britney e a caminho, na época, de tornar-se parceiro musical de Madonna, não conseguiu disfarçar o choque, registrado pelas câmeras. Hoje, apenas cinco anos depois, talvez já achasse normal. Há uma epidemia de beijos femininos na mídia, das brasileiras do axé Daniela Mercury e Alinne Rosa, na gravação de um DVD no ano passado, às francesas Sophie Marceau e Monica Bellucci, nuas e abraçadas na revista Paris Match deste mês. No último Big brother, a sensação foi o selinho debaixo d’água de Priscila e Milena, que bateu recordes nos sites de notícias.
O recém-formado grupo nacional Sexy Dolls anunciou, em seu primeiro clipe, um “beijo triplo”. O vídeo ficou quase uma semana entre os mais vistos do portal Globo.com. Até Woody Allen não resistiu e colocou no filme Vicky Cristina Barcelona uma cena em que Scarlett Johansson beija Penélope Cruz – acontecimento que foi badalado insistentemente anos antes de o filme entrar em cartaz.
Qual é o reflexo de tantas cenas públicas e declarações de bissexualidade na cabeça das adolescentes, mulheres em formação? A psicoterapeuta e sexóloga Mara Pusch, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acredita que o fenômeno da bissexualidade feminina na mídia libera as meninas para o desejo de experimentação inerente aos seres humanos. “Quando uma menina diz que é bissexual, ela talvez nem saiba direito do que está falando. Está apenas querendo descobrir do que gosta, o que quer. Se uma pessoa famosa diz que faz o mesmo, ela se sente mais livre”, afirma. “Nesse treino de sexualidade, as meninas costumam não entender direito o que sentem pela melhor amiga, se é admiração ou atração. E ficam mais confortáveis de colocar à prova.”
Qual é o reflexo de tantas cenas públicas e declarações de bissexualidade na cabeça das adolescentes, mulheres em formação? A psicoterapeuta e sexóloga Mara Pusch, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acredita que o fenômeno da bissexualidade feminina na mídia libera as meninas para o desejo de experimentação inerente aos seres humanos. “Quando uma menina diz que é bissexual, ela talvez nem saiba direito do que está falando. Está apenas querendo descobrir do que gosta, o que quer. Se uma pessoa famosa diz que faz o mesmo, ela se sente mais livre”, afirma. “Nesse treino de sexualidade, as meninas costumam não entender direito o que sentem pela melhor amiga, se é admiração ou atração. E ficam mais confortáveis de colocar à prova.”
E onde entram os meninos nisso? Para a psiquiatra Carmita Abdo, muitas vezes eles é que estão no centro de tudo. “São jogos sexuais. Elas sabem que, hoje, beijar a amiga na boca é uma forma de atrair os meninos”, afirma. Del Torres, do Leskut, diz que “virou modinha” as garotas viverem agarradas, sentarem uma no colo da outra ou se beijarem no meio da turma – mesmo que não se digam claramente bissexuais. “Elas acham cool, gostam de chocar e também de atrair os garotos. Mas a verdade é que não se definiram ainda”, diz.
A estudante de marketing paulistana Lygia, de 19 anos, conta que seu primeiro beijo foi aos 9. Na melhor amiga. “Nós estávamos brincando, eu fui chegando perto e a beijei”, diz. Um pouco mais velha, passou a ficar com meninos, mas só porque as amigas faziam o mesmo. No ano passado seguiu seu desejo e ficou de novo com uma menina.
“Agora sou lésbica. Acho bom que hoje o preconceito seja menor”, diz. Ela já contou aos pais e a alguns amigos sobre suas experiências. Outra estudante, Aline, de 16 anos, ficou com uma menina aos 13. Tudo começou quando a amiga contou que gostava de meninas. Alguma coisa a acendeu: “Ainda é cedo para me definir. Hoje eu digo que sou bi. Mas no futuro posso mudar”. Se a homossexualidade – ou bissexualidade – feminina está mais palatável, é porque vem embrulhada num pacote delicado e feminino. Quando o armário se abre, saem dele mulheres magras, sexy, de batom. É o fenômeno chamado light lesbian chic ou lipstick lesbian, cujo símbolo televisivo é o seriado americano The L word, que já entra na quinta temporada. Nele, um grupo de lésbicas lindas vive histórias de amor repletas de cenas tórridas. Professora de literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de livros sobre homossexualidade como As heroínas saem do armário, Lúcia Facco critica a força do modelo da “lésbica de batom” como o único aceito (e até festejado) na sociedade. “De repente, mulher gostar de mulher entrou na moda.
Mas desde que elas tenham características consideradas femininas, que atraiam os olhares masculinos e não choquem”, afirma. Para ela, o imaginário social poderia ser mais bem trabalhado para compreender e aceitar bissexuais e lésbicas de uma maneira geral – bem como todo o universo homossexual. Essa é uma possibilidade. A outra é lembrar às garotas, em casa, que nem tudo o que seus ídolos fazem ou dizem que fazem precisa ser imitado. E que tampouco precisam se deixar levar pelos garotos a fingir que são o que não são.
Martha Mendonça e Fernanda Colavitti
“Agora sou lésbica. Acho bom que hoje o preconceito seja menor”, diz. Ela já contou aos pais e a alguns amigos sobre suas experiências. Outra estudante, Aline, de 16 anos, ficou com uma menina aos 13. Tudo começou quando a amiga contou que gostava de meninas. Alguma coisa a acendeu: “Ainda é cedo para me definir. Hoje eu digo que sou bi. Mas no futuro posso mudar”. Se a homossexualidade – ou bissexualidade – feminina está mais palatável, é porque vem embrulhada num pacote delicado e feminino. Quando o armário se abre, saem dele mulheres magras, sexy, de batom. É o fenômeno chamado light lesbian chic ou lipstick lesbian, cujo símbolo televisivo é o seriado americano The L word, que já entra na quinta temporada. Nele, um grupo de lésbicas lindas vive histórias de amor repletas de cenas tórridas. Professora de literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de livros sobre homossexualidade como As heroínas saem do armário, Lúcia Facco critica a força do modelo da “lésbica de batom” como o único aceito (e até festejado) na sociedade. “De repente, mulher gostar de mulher entrou na moda.
Mas desde que elas tenham características consideradas femininas, que atraiam os olhares masculinos e não choquem”, afirma. Para ela, o imaginário social poderia ser mais bem trabalhado para compreender e aceitar bissexuais e lésbicas de uma maneira geral – bem como todo o universo homossexual. Essa é uma possibilidade. A outra é lembrar às garotas, em casa, que nem tudo o que seus ídolos fazem ou dizem que fazem precisa ser imitado. E que tampouco precisam se deixar levar pelos garotos a fingir que são o que não são.
Martha Mendonça e Fernanda Colavitti
Um comentário:
ah... isso e complicado...
passei por um periodo de auto afirmação em que "se me perguntassem, eu dizia": sim sou lésbica.
e nao sei se é por que eu amo muito minha namorada, mas sabe aquela vontade de sair gritando pra todo mundo que voce encontrou a MULHER da sua vida? rsrsrsrs
me assumi quando fizemos 6 meses de namoro e pra minha surpresa minha mãe nao me criticou. no máximo ficou surpresa e continua a tratar minha namorada muito bem.
estamos na moda e o consolo é que embora essa "facilidade" ou "aceitação" ajude a desbaratinar a cabeça de algumas meninas a respeito do sentimento de culpa ou outros que possam vir as nossas cabeças quando nos descobrimos na adolescencia, essa onda passa... moda sempre passa...
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