É consenso entre os especialistas: quem decide colocar um ponto final nas baforadas pode engordar até 15 quilos em um ano. Isso ocorre principalmente porque o ex-fumante apela para a comida como válvula de escape para vencer as crises de abstinência.
A fome, então, é inevitável. Por isso, impedir que o ponteiro da balança dispare é um grande desafio para a pessoa que quer se livrar das tragadas de uma vez por todas.
Segundo uma revisão recente de estudos realizada pela organização internacional Cochrane Collaboration, somente um tratamento que combine dieta, medicamentos e terapia é capaz de minimizar esse ganho para algo entre 1 e 5 quilos — ou nem isso. Mas para que a vida prossiga sem tabaco e com uma silhueta enxuta, também é prioritário chutar o sedentarismo para escanteio. Siga o nosso passo-a-passo e veja como isso está longe de ser algo inalcançável.
1 PROCURE UM MÉDICO
Menos de 5% dos indivíduos que param de fumar por conta própria completam um ano longe do cigarro, segundo a Organização Mundial da Saúde. Ao longo de três décadas de baforadas, a paulistana Ivana Morgani, 44 anos, só foi bem-sucedida na terceira tentativa, quando, enfim, recorreu a um especialista. “Descobri que tinha um enfisema pulmonar e não tive dúvidas: comecei o tratamento médico”, diz a professora. Há cinco meses sem fumar, ganhou 4 quilos. “E olha que sempre substituí o cigarro por água”, garante. Ou seja, podia ser pior. “Só agora decidi procurar uma nutricionista e me exercitar.” Para o pneumologista Daniel Deheinzelin, coordenador do programa antibagista do Hospital Sírio-Libânes, em São Paulo, apagar o vício exige disciplina. “Quem segue o tratamento à risca corre menos risco de engordar”, afirma.
2 ESCOLHA BEM O DIA D
Não dá para parar de fumar de uma hora para outra. É preciso pensar em uma data que não faça o candidato a ex-fumante sofrer por não poder chegar perto de um cigarro e... comer para descontar. Dia próximo de uma grande festa, por exemplo, é contraindicado. “Sem orientação, a pessoa vai comer muito para aliviar os ataques de fissura e ansiedade”, diz o endocrinologista Daniel Lerario, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “É preciso conversar com o médico para desenvolver algumas estratégias. Se for proibido fumar em casa, por exemplo, é melhor parar no sábado. E, se for proibido fumar no trabalho, a opção mais certeira é a segunda-feira”, aconselha a cardiologista Jaqueline Scholz Issa, diretora do Laboratório de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração de São Paulo.
3 ENTENDA O RITMO DO SEU CORPO
O ex-tabagista tende a ganhar peso no período de seis meses a um ano após o abandono do hábito. Mas é nos primeiros 60 dias que o organismo reaprende a funcionar sem a aceleração provocada pela nicotina. Nessa fase, até o coração reduz seu baticum. “São, em média, dez batidas a menos por minuto”, revela Jaqueline Scholz Issa. E um ritmo corporal mais lento facilita o surgimento de pneuzinhos e afins. “Parar de fumar diminui as necessidades calóricas diárias do indivíduo”, explica o pneumologista Ciro Kirchenchtejn, do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo. É por isso que manter a mesma dieta dos tempos enfumaçados contribui para a síndrome do tamanho GG. Daí, cortar calorias do cardápio é imprescindível — especialmente nos tais primeiros 60 dias. Ou seja, não espere começar a engordar para maneirar.
4 FECHE A BOCA PARA OS DOCES
O fumante também come menos porque não sente o sabor e o cheiro da comida. Mas isso passa logo na primeira semana sem cigarro. “Fumar queima as papilas da gustação e os receptores do olfato, que se recompõem cerca de três dias após o indivíduo largar o tabaco”, diz Kirchenchtejn. Assim, durante a ingestão dos alimentos, o corpo volta a liberar substâncias por trás da sensação de prazer e saciedade — sobretudo se for uma guloseima. Então, como o organismo sempre tenta se defender, logo troca uma coisa por outra. “É como se o doce proporcionasse o mesmo alívio do cigarro”, diz a psiquiatra Célia Lídia da Costa, do Hospital do Câncer A.C. Camargo, em São Paulo. Por isso, opções muito calóricas precisam ficar fora da dieta. Em vez de chocolate, escolha uma fruta, que em geral tem poucas calorias e, por ser doce, elimina a fissura.
5 MEXA-SE!
Sem a nicotina para turbinar a queima de energia, um ex-fumante estoca até 500 calorias diárias na forma de gordura. “Elas devem ser gastas com exercícios, mesmo que seja uma caminhada”, aconselha Kirchenchtejn. O ginecologista Márcio Belo, 39 anos, aumentou a frequência dos treinos de triatlo. “Quanto mais me exercitava, menos sentia vontade de fumar”, conta Belo, que é de Campinas, no interior paulista, e não acende um cigarro há quatro anos. Esse efeito foi comprovado em um estudo publicado no periódico americano Psychopharmacology. Fumantes que tinham se exercitado não se sentiram estimulados por imagens ligadas ao fumo. “A atividade física libera endorfina, um calmante natural”, diz a psiquiatra Ana Cecília Marques, da Universidade Federal de São Paulo.
6 CONTROLE A ANSIEDADE
O hábito de fumar faz com que a nicotina assuma a função de substâncias reguladoras da emoção, como as catecolaminas e a serotonina. Por isso, a falta do cigarro deixa os nervos em polvorosa, o que geralmente é compensado numa comilança desenfreada. Para contornar essa situação, os médicos receitam medicamentos que induzem o organismo a liberar os hormônios capazes de promover naturalmente a sensação de prazer, saciedade e bem-estar, inibindo o efeito do tabaco. Adesivos e chicletes de nicotina são mais usados em situações emergenciais. “O aumento da fome é um dos sintomas da ausência da nicotina. Aqueles dois ou três minutos de desespero, porém, podem ser controlados mascando os chicletes”, exemplifica Kirchenchtejn.
7 APAGUE ALGUNS HÁBITOS
Parar de fumar sem engordar não significa somente tirar o cigarro do dia-a-dia e comer menos. Significa também substituir as tragadas no intervalo do trabalho, em festas e após o almoço por atividades que facilitem o reequilíbrio do organismo. “O ganho de peso é um sinal de que o organismo está sofrendo com a carência do tabaco. Por isso, o indivíduo precisa compreender quem é ele sem o cigarro, porque faz bem parar e como mudar seu comportamento”, diz a psiquiatra Célia Lídia da Costa. Com auxílio terapêutico, desenvolvem-se artimanhas para vencer a constante vontade de beliscar. “A pessoa se condiciona a pensar no que disparou a fome antes de saciá-la”, diz Kirchenchtejn. Consciência, tratamento e atitude são essenciais para se tornar um ex-tabagista — livre e leve, é claro.
Débora Didonê
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