17 de nov. de 2013

Um analista no divã

Stewart Forrest

Um analista trabalha com sua capacidade de fazer seu inconsciente vibrar. No fundo, ser analista é nunca ter deixado o divã. O divã permite ao analista livrar-se do olhar escrutador de seus analisantes. Pedir ao analisante que se deite é um gesto técnico essencial que suscita a fala íntima e favorece a escuta atenta.

O autor concebe a presença do analista como uma presença plena, ativa, inteiramente focada na presença do paciente.

O clínico deve ser um observador minucioso, atento não somente às falas e silêncios do analisante mas também às suas manifestações corporais. De fato, uma boa escuta começa com uma boa observação. Um psicanalista não escuta exclusivamente com seus ouvidos, sendo receptivo a todos os sinais pelos quais um ser comunica sua vida.

O paciente não demanda que nos apiedemos de sua sorte, mas que o ajudemos a compreender suas angústias e sobretudo a se livrar delas.

O trabalho do analista trata-se de sentir em si o que o outro esqueceu. O inconsciente do analista é seu mais precioso instrumento de trabalho.

Para um profissional, agir com seu inconsciente significa deixar ressoar em si as mais finas vibrações do inconsciente do analisante. “ Na mais viva acuidade da escuta, tenho a impressão de mergulhar sem respirar e conhecer a embriaguez das profundezas abissais”.

Freud escreveu que o psicanalista capta o inconsciente do analisante com seu próprio inconsciente. O analista se serve de seu inconsciente como um órgão receptor destinado a captar os sentimentos inconscientes do paciente. Esse engajamento de uma parte de si é a mais autêntica atitude de um clínico, que embora permanecendo ele mesmo, dispõe seu inconsciente como uma tela na qual se projetam situações do paciente.

Quando o analista utiliza seu inconsciente instrumental ele se dissocia entre aquele que controla a situação e aquele que simultaneamente mergulha em seu inconsciente. É um desdobramento: sentir-se totalmente lúcido e ao mesmo tempo operar um salto no inconsciente.

A singularidade do ser humano não está em que fale, pense e ria, mas em que seja impotente para dominar as forças às vezes benéficas, às vezes nocivas que agem nele. Essas forças que nos escapam e que ultrapassam o nosso querer e nosso saber conscientes levam o nome de inconsciente.
A tarefa da psicanálise é se ocupar do inconsciente quando ele nos faz sofrer, isto é, quando a defasagem entre o que somos e o que nos escapa nos torna infelizes.
J. D. Nasio
Adaptação Helena Maria Galvão Albino - Psicóloga Clínica

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