30 de nov. de 2013

Tomas um Mate?



O mate, ou chimarrão não é uma bebida.
Bueno, sim, pois é um líquido e entra pela boca, porém não é uma bebida.
No Rio Grande do Sul e nos países cisplatinos, ninguém toma mate porque tem sede.
É mais um costume, como coçar-se.
O mate faz exatamente o contrário da televisão: te faz conversar se estás com alguém e te faz pensar quando estás solito. 
O mate ou chimarrão é feito com a erva mate, a qual é encontrada principalmente no sul do Brasil e norte da Argentina.

É uma bebida genuinamente nativa, sendo o mais antigo e tradicional dos hábitos gauchescos. É um legado dos índios Guaranis e esse costume foi fortalecido e expandido pelos espanhóis e jesuítas. Quando chega alguém na tua casa, a primeira frase é “buenas” e a segunda é: vamos matear?

Isto se passa em todas as casas, seja de rico ou de pobre. Passa entre mulheres e homens, velhos ou jovens. É a única bebida compartilhada entre pais e filhos sem discussão e onde ninguém “enche a cara”. Chimangos ou maragatos, gremistas ou colorados cevam mate sem entreveros. 

No inverno ou no verão
É a única coisa em que nos parecemos vítimas e carrascos; bons e maus. Quando tens um filho, começas a dar mate quando ele te pede. Se o dá morno com algum açúcar, se sentem grandes. E tu sentes um orgulho enorme quando um piazito teu começa a chupar o mate, parece que o coração te sai do corpo.

Depois com os anos, eles elegem se o tomam amargo ou doce, muito quente ou tererê, com casca de laranja ou limão ou ainda com alguma planta medicinal misturada à erva. 
Quando conheces alguém e não tens confiança, ao convidá-lo para um mate perguntas:
-Doce ou amargo? 
E se o outro responde: 
-Como tu tomas 
É um bom sinal. 
Nas casas do Rio Grande do Sul sempre há erva mate.

A erva é a única que há sempre, com inflação, com fome, com militares, com democracia, com “mensalões”, ou com quaisquer de nossas pestes e maldições eternas. E se um dia não houver, um vizinho têm e te dá, pois a erva não se nega a ninguém. 

O Rio Grande do Sul é um dos poucos lugares do mundo onde a transformação de uma criança para um homem ocorre num dia em particular. Esse dia não é o dia em começastes a fumar, ou usar calças, ou quando fizestes circuncisão, ou entrasse para a universidade ou começou a viver longe dos pais. Começamos a ser grandes no dia que temos a necessidade de tomar, pela primeira vez, um mate solito.

Não é casualidade. No dia que uma criança põe a chaleira no fogo e toma seu primeiro mate sem que haja nada em casa, nesse minuto é que descobre que tem alma. 
Ou está morto de medo, ou está morto de amor, ou algo: porém não é um dia qualquer. 
Poucos são os que se recordam desse dia, mas em todos há uma revolução por dentro a partir desse dia. 
O simples mate é nada mais nada menos que uma demonstração de valores. 
É a solidariedade de bancar o mate lavado porque a charla é boa. A charla, não o mate. 
É o respeito pelos tempos para falar e escutar, tu falas enquanto o outro toma, até que num momento dizes: 
-Basta, troca a erva ! 
É a obrigação de dizer obrigado ao menos uma vez ao dia. 
É a atitude ética, franca e leal de encontrar-se sem maiores pretensões, de compartilhar.

Enviado pela Drika, gaúcha da melhor qualidade

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