A essência da liderança é, se bem pensarmos, o compromisso de construir sonhos. O filósofo Henry Thoreau afirmava que se construímos castelos no ar não devemos nos preocupar. Eles, os castelos estão onde devem estar. Cabe-nos construir os acessos.
O Líder é aquele capaz de ver o quê ainda não tomou forma no mundo fenomênico e, construindo estratégias e propósitos afinados com esta visão e com os propósitos individuais, catalisar o grupo ao seu redor para dar-lhe forma visível. Liderar é cada vez mais construir mudanças. Capra, em seu fantástico livro "Sabedoria Incomum", no qual narra a gênese de seu próprio pensamento, destaca as características da mutação que o mundo está vivenciando e a fundamenta como um processo cíclico de substituição de valores. Mudança esta que é muito bem representada pela diminuição da importância que assumem as coisas tangíveis, ou seja, ligadas à existência da matéria, e a crescente preocupação que se tem com os aspectos relacionados com o tempo , com a dimensão espiritual do homem, com a essência da liderança.
Certamente, muitos outros valores estão sendo atingidos pelo desenvolvimento tecnológico, como, por exemplo, os relacionados à informação, à individuação, criatividade, flexibilidade, autonomia e, sobretudo, intuição. O valor de uma organização não se mede mais, atualmente, em termos de seu patrimônio físico, seja ele constituído de dinheiro, prédios, máquinas ou terras. Uma empresa valerá mais do as outras em termos de comparações não corporais, tais como a capacidade intelectual das pessoas que a integram, já que o capital humano é cada vez mais vital numa sociedade em que o conhecimento se impõe como agente de perpétua transformação. A valorização do tempo, não mais simplesmente da rapidez, mas de uma quase "instantaneidade", pressupõe seres humanos cada vez mais capazes de quebrar as regras, de inovar, de deixar fluir todo o potencial de seus cérebros.
Não há mais tempo para esperar os resultados de um planejamento a longo prazo , dissociado dos inúmeros problemas do dia-a-dia. Pesquisa, desenvolvimento, produção, fabricação e consumo, tudo é virtualmente feito ao mesmo tempo. A nova organização passa a assumir a característica de ser um fenômeno intelectual, independente de tempo, espaço e massa.
Uma organização que aprende, como definida por Peter M. Senge em seu livro "A Quinta Disciplina". Quando se entende este novo conceito de organização como concepção, passa-se a compreender a importância da linguagem simbólica e lúdica na motivação , no comprometimento , enfim, na otimização dos "talentos humanos" da organização. É justamente nestes talentos que James C. Hunternos fala em livro *O Monge e o Executivo* . Não por acaso um expressivo sucesso de vendas. Desta nova concepção surge também o desafio de compatibilizar a liberdade com a ordem, a criatividade com a eficácia , a intuição com a sabedoria acumulada. É no desafio de compatibilizar estes conceitos que se encontra a busca da excelência.
Já vivemos a era do "homem máquina", filha do paradigma cartesiano-newtoniano que enxergava o homem como um mecanismo, um conjunto de peças e engrenagens , que em nada diferia das máquinas que operava. Este modelo vitoriano e desumano desconsiderava a condição de "ser humano" do homem -sua capacidade de pensar, sentir e ter idéias. Já vivemos também a era do "homem organizacional", cujo modelo é o homem que não consegue harmonizar sua vida pessoal com a vida profissional. Vive descompassado. Leva serviço e, pior ainda, problemas para casa. Esquece aniversários; não consegue viver plenamente e é movido pelas realizações profissionais.
Geralmente, quando se aposenta, morre ou adoece. Nesta era de mudança de paradigma, vivemos um novo "umanismo; surge um novo modelo de profissional com novas características , mais adaptado, não só às necessidades das organizações , mas a uma vida mais inteira, produtiva e feliz. Ele apresenta algumas características inovadoras: consciência crítica altamente desenvolvida; sólida noção de valores; percepção holística: visão da parte e do todo e aptidão para equilibrá-las; versatilidade com compromissos e resultados; urgência em obter um significado para a própria vida; capacidade crítica quanto à aceitação de papéis e funções; esforço para influenciar o ambiente, para tirar dele o máximo possível; atuação como ser político ativo, como cidadão do mundo; inconformismo com hierarquias e normas rígidas; flexibilidade para mudanças; preocupação com a ética.
Se observarmos à nossa volta, vamos identificar este novo homem bem perto, modificando a realidade nas empresas, mostrando que "quem sabe faz a hora , não espera acontecer. " Este homem novo, incompatível com ambientes autocráticos, pode ser , muitas vezes incompreendido, até marginalizado e considerado um anarquista. Mas conhece seu valor e também valoriza os outros e as instituições das quais faz parte. Reconhece-se como ser único e original que não pode ser manipulado e adestrado. Entretanto, sabe adaptar-se aos sistemas e transformá-los em beneficio do grupo. O tenho encontrado com grande freqüência.
Ele está presente nos pisos das indústrias, nas mesas dos escritórios, na prestação de serviços, no comércio, nas escolas, nos teatros, em todos os níveis de todas as organizações. Sua presença torna oportuno o momento para resgatar o homem em sua essência.
Há algum tempo, li um livro que narra algumas histórias sobre pessoas que pegam a vida em suas mãos e a transformam. Trata-se de um livro do qual os líderes corporativos podem retirar profundos exemplos e , sem dúvida , muita inspiração. Com a rara qualidade de ter sido escrito por um brasileiro Um administrador. O livro chama-se "Fora de Cena", O Teatro por trás do Palco, de Paulo Roberto Oliveira. Nele, o autor, administrador de teatro há vários anos, narra suas experiências e define sua profissão.
Em suas próprias palavras:"Administrador de Teatro - Pessoa que cuida e dirige estabelecimento, onde trabalham seres que têm como objetivo fazer as pessoas sonharem ,fantasiarem, viverem um mundo irreal. Um pouco parecido com dirigir um hospício, com a diferença que esses "loucos" podem mudar o país, as cabeças, o mundo, e que nem as guerras fizeram calar. Eles são pessoas quere presentam a magia, a fantasia, o sonho. Atores são pedaços de Deus disfarçados em demônios.( ...) Administre isso. Fale com Deus e o demônio ao mesmo tempo, sem ser artista. Consiga respeito deles. Deixe que eles façam de ti um coadjuvante de suas vidas e serás um Administrador de Teatro, profissão essa, que não existe em Plano de Cargo algum. Serás apenas o arrumador da casa de um bando degênios!"
Quando li estas palavras, pensei: aí está viva a essência da liderança. Liderar é fazer espaço seguro para o gênio de todos florescer. Que líder não anseia estar entre gênios? Para que isto aconteça a criatividade deve se somar à compaixão; a alegria à ética ; o tangível ao intangível; o sonho ao propósito. Se usarmos instrumentos que permitam ao homem a descoberta de seu potencial criativo, suas habilidades e sua riqueza, podemos transformar nossas vidas nas empresa em vidas mais criativas , mais produtivas e , sobretudo, mais eficazes. Temos um grande poder: o poder da transformação. E transformação é ação. Nossas ações podem voltar-se para a melhoria da qualidade de vida. Nestes tempos é sempre oportuno lembrar a frase do poeta Mário de Andrade: "Quem tem mais medo da mudança, do que da desgraça, não tem mais remédio do que conformar-se com a opção da desgraça".
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