12 de jun. de 2008

Ao infinito e além


A história é verídica e vale ressaltar, ele, um "gentleman", foi um pouquinho antes para recepcioná-la!...

Eles se conheciam há mais de cinqüenta anos. Ela uma nadadora famosa, já veterana, e ele, ainda um atleta de remo, endocrinologista recém-formado.

A admiração e o respeito eram recíprocos. Um desses casos de raro carinho. Mais tarde, unidos pelo esporte, médico e paciente começaram a segunda fase de uma amizade fraterna e calorosa.

Um desses casos de rara confiança. Confiavam tanto um no outro que com os anos, passaram a desafiar juntos otempo da vida. Ele, já membro do Comitê Olímpico Brasileiro, fazia questão de acompanhá-la nas competições de masters e até indicou para ela o seu cardiologista.

Um desses casos de rara devoção. E assim os dois começaram a ter mais uma coisa em comum, frequentando, não raramente, a mesma sessão de absorção injetável de nutrientes e vitaminas. E ali conversavam por horas. E ali renovavam os sentimentos que os uniam. Falavam de tudo: do esporte, do passado e vibravam com o presente, com os detalhes das competições de hoje. Passavam pela política, por momentos marcantes, e palpitavam sobre o futuro, renovando a crença na educação através do desporto. Enquanto o líquido invadia suas veias, não lhes faltava assunto para falar de suas vidas.

Um desses casos de rara alegria. Até que num encontro recente, nas mesmas poltronas, resolveram falar de suas mortes. "Só vou se você for junto", disse ela, brincando com a única e sagrada certeza. Pois na noite do último domingo, ele, aos 84 anos, teve problemas cardiácos. Levado às pressas para o hospital nas primeiras horas de segunda-feira, faleceu às 10h20m. Ela, em seus 92 anos de idade, acordou sabendo apenas que ele não andava bem de saúde e, cumprindo sua rotina, foi para a piscina nadar seus 1.500 metros diários.

No meio do treinamento, sentiu-se mal e foi levada às pressas para o mesmo hospital onde horas antes o amigo dera oúltimo suspiro. Pouco depois do meio-dia, exatamente às 12h15m, ela fechava os olhos para sempre e colocava o ponto final nessa bela história real. Um desses casos que vale a pena prosseguir no infinito... Ela é Maria Emma Hulga Lenk, primeira mulher sul-Americana a competir em Jogos Olímpicos, e recordista mundial nos 50m, 100m e 200m peito. Ele é Renato Borges da Fonseca, endocrinologista, ex-remador, ex-presidente da Confederação Brasileira de Remo e ex-membro do Comitê Olímpico Brasileiro.
A história foi contada à repórter Maura Ponce de Leon, da editoria de Esportes do Extra, pelo cardiologista Sérgio Puppin, que os atendia há vários anos.

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