Contei meus anos
e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi
até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino
que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas
percebendo que faltam poucas, rói o caroco.
Já não tenho tempo para lidar com
mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram cobiçando seus
lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha
vida. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da
idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que
brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. As pessoas não
debatem conteúdo, apenas os rótulos.
Meu
tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem
pressa…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de
gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade…
Só há que caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida
valer a pena. E pra mim basta o essencial!
Rubem Alves
Obrigado, Fátima
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