2 de jul. de 2013

Paixão e Amor

A paixão é um sentimento parecido com o amor, mas não é amor. É um envolvimento excessivo na relação amorosa. O que caracteriza a paixão é basicamente a perda da própria identidade. Ou seja, eu entrego o meu coração totalmente ao outro e perco a minha individualidade.

Na verdade, a paixão é um certo enlouquecimento. Todos nós temos uma “ferida”, que é o medo do abandono, por isso temos a necessidade de nos apegar a alguém. Tudo isso é aprendido pela nossa cultura e é uma forma de loucura. Quando a pessoa está apaixonada, ela perde a identidade. Ela já não respira sem o outro, não se alimenta direito sem o outro, pensa nele o tempo todo. Torna-se quase uma obsessão contínua. Apesar da paixão ter sido muito enaltecida pelos poetas, ela é considerada uma forma mais branda de enlouquecimento. A paixão vem do latim patere, que significa sofrer.

Por isso é que há tanto sofrimento no relacionamento apaixonado, como diz a Marias Júlia. Por outro lado, a paixão indica um desejo de amor e podemos transformar a paixão em amor. Quando você recupera sua identidade e consegue transformar a paixão em algo mais calmo, começa a ter o seu próprio espaço e tempo. Quando você consegue uma certo distanciamento do outro, a paixão pode se tornar amor.

Como fazer isto? Devolvendo a auto-estima. Gostando mais de você mesmo. Assim o amor ao outro é um transbordamento do seu próprio amor. E o amor é que nos sara da loucura. Como diz Guimarães Rosa, “qualquer amor, por menor que seja, é um descaso na nossa loucura.”

As pessoas com baixa auto-estima, normalmente se apaixonam mais facilmente pelo outro. São as pessoas que têm mais medo de serem abandonadas, que têm muita necessidade de serem amadas. É uma carência de afeto. Elas têm de preencher o vazio delas. Por isto mesmo a paixão é sempre prejudicial.

Como a paixão ocorre à partir de nossas carências, de falta de amor próprio, ela mantêm uma relação direta com a história de nossos abandonos ou carências infantis, pela ausência de amor dos pais. A paixão é mais comum na adolescência, mas pode ocorrer em qualquer idade.

A paixão como caminho para o amor é até natural que ocorra como pretexto para aprendermos a amar. O que não podemos é ficar infantilmente instalados numa ânsia de sermos amados, sem nos curar da paixão.

E a cura vem do amar a si mesmo, dos exercícios para elevar a auto-estima. Sobretudo ela se cura através do resgate da individualidade. Cada um de nós é absolutamente único, é uma possibilidade no mundo. Cada um tem o seu destino a ser traçado, o seu caminho. Cada um é responsável pelo desenvolvimento e auto-realização. É a partir daí que eu encontro com o outro e vou construir junto dele. Eu quero o outro não para me preencher, me fazer feliz. A cura da paixão se situa num trabalho psicológico em que eu exista cada vez mais como eu.

Há um autor da Gestalt que diz “eu sou eu e você é você”. Na verdade, a cura para paixão é o verdadeiro amor.

Amor é crescimento, è libertação e não posse, domínio, controle.

Distinguir a paixão do amor é fundamental para esquecermos o que séculos nos ensinaram como, por exemplo, em Romeu e Julieta, a morrermos para provar o amor. Só assim não acharemos natural misturar a dor e o Amor.
Antônio Roberto

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