9 de set. de 2013

A arte de viver em paz consigo mesmo. Uma questão de ecologia interna

Costa Dvorezky
Como já o expressamos, a maior parte das pessoas procura a Paz fora de si. Quando foi fundada a UNESCO, como organismo das Nações Unidas responsável pela educação, ciência e cultura no mundo, no seu preâmbulo se declarou que a violência e as guerras nascem no espírito dos seres humanos, e que as defesas da Paz precisam ser erguidas no seu espírito.

Na realidade não há nada a "erguer", pois a paz sempre está ali; mas deixamos de enxerga-la pois ninguém nos mostrou onde ela está. Para descobrí-la, precisamos saber que isto exige uma tomada de consciência de onde e como encontrá- la.

Há três grandes espaços do nosso ser mais íntimo, onde podemos encontrar a paz: O nosso corpo físico, o nosso espaço emocional e a nossa mente. Vamos, para cada um destes níveis, mostrar como, de maneira bem concreta, podemos experienciar e vivenciar a paz.

A PAZ DO CORPO

Esta pode ser experienciada, isto é, vivenciada através do relaxamento. Vivemos constantemente numa agitação às vezes frenética. As nossas emoções destrutivas como a raiva ou o ciúme, criam tensões no nosso corpo. A resposta a estas tensões é o relaxamento.
Relaxamento se aprende; mas você pode fazer a experiência agora, durante esta leitura. Basta para isto fechar os olhos, ficar bem a vontade, dar umas três inspirações profundas, soltar os músculos, imaginar que você está num lugar ideal de descanso como uma praia ou uma rede na montanha.
Fique uns dez minutos neste estado relaxado. Tome então consciência do seu estado físico-geral. "Bem estar, descontraído, em paz, bem, a vontade, solto, repousado", são, entre outras as declarações dos que estão saindo de um relaxamento.

Para você realmente entender de que se trata, é indicado fazer esta experiência agora. 
Caso você ter goste, convêm você fazer um curso de relaxamento ou mesmo de Ioga. A sua vida cotidiana vai mudar se você resolver praticar relaxamento todos os dias, de manhã e de noite.
Esta melhora será muito maior ainda se você for tratar da fonte das tensões musculares, as emoções destrutivas. É disto que vamos tratar agora.

A PAZ DO CORAÇÃO

Porque e como lidar com as emoções destrutivas?
Se você quiser despertar a paz do seu coração, aprende a lidar com as suas emoções destrutivas.
O estudo das causas do estresse indica as emoções destrutivas como sendo as grandes causadoras do estresse.
Que emoções são estas? Podemos definí-las como as que causam conflitos com os outros e para si mesmas. São as expressões internas e externas das nossa neuroses. Uma boa definição do neurótico é a que o descreve como uma pessoa que sofre e faz sofrer os outros; e o que faz sofrer os outros, senão o ciúme, o apego exagerado a coisas, pessoas ou mesmo idéias, a rejeição e a raiva, o orgulho e a indiferença?.
Nas próximas semanas observe bem você mesmo e os outros ao redor de si. E veja se o que está sendo questionado aqui não corresponde a uma grande verdade!
Como então lidar com estas emoções já que elas são tão destrutivas?
Grande parte da humanidade costuma se deixar levar por elas, perdendo o auto controle. Tomemos como exemplo da raiva; Elas gritam, ofendem, magoam, muitas vezes a quem amam, e depois se sentem culpadas e sofrem. Podemos afirmar que isto não é uma boa solução.

Outras pessoas, assumem um comportamento oposto: achando que a raiva é uma emoção feia e repreensível, rechaçam e recalcam o seu sentimento de rejeição. Continuam cheias de mágoas e de ressentimentos não expressos. Repetindo esta maneira de ser durante meses ou mesmo anos, acabam estressadas, somatisando a sua raiva contida sob forma de úlcera duodenal ou de enfarto do miocárdio. Então esta também não uma solução.

O que fazer então, se agredir ao outro ou agredir a si mesmo resultar em sofrimento?
Existe uma terceira alternativa, uma espécie de caminho do meio. Em vez de soltar a raiva ou de dominá-la, existe uma solução bastante esperta: simplesmente tomar consciência dela e deixá-la passar, como uma nuvem de tempestade passa e deixa o sol brilhar de novo e o céu ficar azul.
É claro que você precisará de certo tempo, algumas semanas ou meses para conseguir bom resultado. Quanto mais cedo você começar, mais cedo você se tornará um ser livre das suas emoções pesadas. A verdadeira liberdade é esta.

No início a gente se esquece; mas aos poucos você acaba constatando que você chegou ao ponto de ver a emoção chegar. Você poderá dizer com um certo senso de humor: "lá vem ela de novo!" Este será um excelente sinal de sucesso. Você não pode se livrar de todo da raiva, mas pode fazer com que ela se transforme em sentimentos de amizade ou mesmo de amor. E, aos poucos isto se transformará numa segunda natureza. Você começará a irradiar paz e serenidade em torno de você, sobretudo se paralelamente você praticar diariamente o relaxamento do corpo.
Você obterá ainda mais alegria e harmonia na sua existência, se além de lidar com estas emoções você cultivar altos sentimentos humanos, tais como a alegria, o amor, a compaixão e a equidade. A alegria de compartilhar felicidade com as pessoas. O amor no sentido de querer a felicidade das pessoas ao seu redor; a compaixão significando o sentimento e o ato de ajudar o outro a aliviar o seu sofrimento. E a equidade no tratamento igual de todos os seres deste universo, sem nenhuma preferência por um ou outro.
Assim você terá adquirido a paz do coração, além da paz do corpo.

A PAZ DE ESPÍRITO

Mas mesmo tendo adquirido a paz do corpo e a paz no nível das emoções, isto é, a paz de coração, a sua mente continua agitada, gerando uma hiperatividade no mundo externo e uma invasão, para não dizer uma inflação, de pensamentos: Idéias, imagens, formas, símbolos, memórias desfilam, numa dança incessante. No fim do dia você só tem uma vontade, de ir para cama e dormir!
Esta é a atividade típica da sua mente com as suas infinitas produções e funções bastante úteis para o nosso cotidiano. A mente nos permite raciocinar, lembrar, apreciar, comparar, julgar, decidir, avaliar, nos defender. A mente existe para, entre outras funções, defender a nossa existência. Só que de vez em quando ela nos atrapalha bastante por funcionar demasiadamente, sobretudo se fomos educados para ser um intelectual e hipertrofiamos esta função

Embora uma atividade normal do espírito, em certas ocasiões ela gera emoções destrutivas.
Basta, por exemplo, se lembrar de um inimigo seu, e você fica com raiva! 
E, com tudo isto, perdemos a paz de espírito. A mente, gerada pelo espírito, acaba obstruindo a nossa via de acesso a paz natural, caraterística do próprio espírito. E assim, perdemos o controle de nós mesmos.
Mais ainda, existe um aspeto muito sutil do pensamento: é que a sua natureza própria é de tudo dividir. Mais particularmente o conceito de "EU", divide a nossa percepção em duas partes: Eu e o mundo, o espaço interior e o espaço exterior, você e os objetos e assim por diante.

Na realidade esta divisão é ilusória, pois a ciência nos ensina que tanto o ser humano como todos os objetos e mundo ao seu redor são constituídos de energia, e da mesma energia. Assim senso nada é separado neste nível de compreensão da verdadeira natureza das coisas.
Esta ilusão ou fantasia é que constitui a causa primordial de todos os nosso problemas. 
Pois por causa desta miragem da separação, nos apegamos a tudo que nos dá prazer, evitamos ou rejeitamos tudo que nos causa dor, e ficamos indiferentes ao que nos causa nem prazer nem dor. Isto se refere a coisas, pessoas ou mesmo idéias. 
Esta é a raiz da raiva, da possessividade e da indiferença. Por exemplo, porque estamos percebendo o mundo como exterior a nos, exploramos a natureza do nosso Planeta até não sobrar mais nada.
A possessividade dos madereiros, e o seu apego ao lucro sem fim, causam a devastação das florestas tropicais.
Mas pode-se observar o mesmo apego e suas conseqüências nefastas bem juntinho de nós mesmos, dentro de cada um. O exemplo mais clássico é o que acontece no início de um namoro. Ele e ela se encontram pela primeira vez; trocam carinho, acham gostoso e na hora de se despedir um pede ao outro o seu número de telefone ou ainda marcam encontro para o dia seguinte; neste momento é o sinal de que já apegaram um ao outro. Querem a continuidade do prazer. 

O apego irá então se manifestar sob várias formas; eles vão ficar ansiosos e com medo de não se encontrar, ou com ciúmes por ignorar si existe outro ou outra. Se um chegar muito atrasado no encontro o outro ficará com raiva ou, no mínimo, ressentido.
Se soubessem que não estão separados, mas originados e constituídos da mesma essência, o próprio apego cairia por si só, pois é a energia se apegando a ela mesma! Na espera do novo encontro cada um cuidaria das suas coisas e dos seus afazeres, sem expectativa nem medo, com abertura total a tudo que vier acontecer. Se cada um vier, será uma nova alegria; se um falhar, não vai haver decepção pois não se esperou nada.

Como então dissolver esta ilusão de separatividade, já que ela é a fonte última de todo sofrimento ?
As tradições multimilenares, tanto do oriente como do ocidente, nos dão uma resposta bastante clara a respeito. Elas aconselham o recolhimento no silêncio. Isto pode ser entendido como o silêncio de um mosteiro. Realmente, para alguns mais engajados isto é uma solução que leva mais rápido ao silêncio interior, desde que acompanhado de meditação precedida e ou ajudada pela oração conforme a orientação dada pela tradição espiritual de cada mosteiro. 
Mas não há necessidade de se refugiar num mosteiro ou numa gruta do Himalaia, para sair da ilusão da dualidade. Isto pode ser feito através da meditação diária, uma ou duas vez por dia, de manhã e ou de noite
Meditar consiste em ficar quieto, se recolher, se adentrar, e deixar passar os pensamentos e as emoções que aparecem na mente. Neste ato de tranqüilizar a mente, aparece a verdadeira natureza do Espirito em que inexiste separação, pois se vivência a indivisibilidade do espírito pessoal e do espírito do universo. O universo é autoconsciente; a nossa consciência percebida pela mente como individual é a Auto Consciência do Universo. Ela é representada no meio do círculo da Arte de Viver em Paz, mais abaixo deste texto.

Inexiste separação entre as duas consciências; elas são uma só, isto é absolutamente indivisíveis.
Existem muitos cursos de meditação à sua disposição. Faça uma escolha prudente e lúcida. Informe-se antes de tomar uma decisão junto de amigos ou conhecidos competentes, sobre a idoneidade e competência do professor ou instituição.
Mas se você tiver a felicidade de encontrar um verdadeiro mestre realizado e plenamente desperto, será a melhor solução. Enquanto isto não acontecer, siga uma formação de Ioga, ou de Tai Chi, ou ainda de Meditação Transcendental, além de tudo que já foi recomendado acima. 
Pois a verdadeira paz de espírito se encontra no espaço entre dois pensamentos, lá de onde saem e para onde voltam os pensamentos. É este espaço que a prática da Meditação lhe ajudará a descobrir de modo vivenciado.
Pierre Weil

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