7 de jul. de 2007

Ininteligibilidade


É uma objeção pobre contra um filósofo dizer que ele é ininteligível. Ininteligibilidade é um conceito relativo, e aquilo que Caio ou Ticiano frequentemente louvado não entende nem por isso é ininteligível.

E mesmo a filosofia tem, de fato, algo que segundo a sua natureza sempre permanecerá ininteligível à grande multidão.
Mas é algo inteiramente outro se a ininteligibilidade está na coisa mesma. - Ocorre frequentemente que cabeças que, com grande exercício e habilidade, mas sem possuirem propriamente inventividade para tarefas mecânicas, se dispõem, por exemplo, a inventar uma máquina de tornear garrafas - fabricam perfeitamente uma, mas o mecanismo é tão difícil e artificioso ou as engrenagens rangem tanto, que se prefere voltar a tornear garrafas com as mãos, à moda antiga.

O mesmo pode perfeitamente passar-se na filosofia. O sofrimento com a ignorância sobre os objetos primeiros, sobre os maiores, para todos os homens que sentem, que não são embotados ou estreitamente auto-suficientes, é grande e pode aumentar até se tornar insuportável.
Mas se o martírio de um sistema antinatural é maior do que aquele fardo da ignorância, prefere-se no entanto continuar a suportar este.

Pode-se bem admitir que também a tarefa da filosofia, se é em geral resolúvel, tem de acabar por resolver-se com poucos traços, grandes e simples, e que não há-de ser sem valor, precisamente na maior das tarefas humanas, a invenção que se reconhece em todas as tarefas menores.
Friedrich Schelling
picture by Fulvio Pennacchi

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