5 de dez. de 2007

Fashionite aguda


Eu detesto shopping center.

Quantas mulheres você já ouviu dizendo isso? Acho que muito poucas. Mas juro que é verdade: nunca incluí entre minhas preferências de passeio de fim de semana circular por um lugar horrível, fechado e atulhado de gente. Não vou nem aos cinemas lá. Prefiro as salas (poucas, infelizmente, hoje em dia) que ficam na rua.

Se sua mulher ou sua namorada vive querendo carregá-lo ao shopping, programa odiado por todos os homens que conheço, e mais, querendo gastar os tubos em roupas caras (em alguns casos com o seu cartão), tenho o argumento ideal para demovê-la. Diga: quem precisa de roupa de grife é gente feia! Quem é bonito de verdade arrasa com qualquer trapinho.

As mulheres se iludem muito. Acham que por comprar uma roupa de marca vão se sentir melhor consigo mesmas, vão resolver problemas que na verdade estão dentro delas e não fora. Já ouvi inúmeras vezes as amigas dizendo: “Ai, tô mal, preciso de um banho de loja”. E vão e gastam e se endividam e... Continuam se sentindo péssimas.

Outro dia li que a supermodel Kate Moss entrou numa drogaria e comprou uma bolsinha qualquer por 5 dólares. A bolsa estava lá. Ninguém tinha reparado nela até miss Moss comprá-la. Mas, no dia seguinte, a tal sacola tinha virado um hit e chegava a valer 30 dólares nos sites de leilão! Depois dizem que modelo é que é burrinha...
É muita falta de auto-estima. Quer dizer que alguém (famoso) precisa dizer que algo é bom para você gostar? É a ditadura da moda contra a democracia do gosto: cada um tem o seu, pô. É por essas e outras que todo mundo hoje em dia parece igual.

Clones estéticos, com as mesmas roupas, os mesmos cabelos (dá-lhe chapinha!), os mesmos peitos (dá-lhe silicone!), os mesmos sapatos e até os mesmos sorrisos: já reparou que com a proliferação dos aparelhos as pessoas ficaram com a dentição idêntica? E eu que achava tão bonitinhos aqueles dentes um pouco tortos, dentucinhos, um tanto encavalados... Sei lá, davam personalidade.
Tem mulher que adora falar como custou os olhos da cara sua bolsa da moda, aquela que todas as amigas e celebridades compraram – quando o mais legal é comprar uma bolsa que ninguém tem e dizer: paguei uma bagatela! Não é uma roupa de grife que vai trazer a salvação para uma alma incompleta.
Não é um vestido caro que vai fazer feliz alguém que não se ama. Não é um invólucro fashion que vai encobrir um interior feioso. Mesmo porque ele escapa pro exterior: a beleza, nunca é demais repetir, vem de dentro.

Tem um poema de Pablo Neruda, Residência na Terra, que diz:
“As pessoas andam pelo mundo atualmente
sem lembrar que possuem um corpo e nele a vida
(...) E se fala favoravelmente da roupa
de calças é possível falar, de ternos,
e de roupa interior de mulher (de meias e ligas de ‘senhora’)
como se pelas ruas fossem as roupas e os trajes vazios por completo
E um obscuro e obsceno guarda-roupas ocupasse o mundo”.
Mas como em tempos mentalmente bulímicos os poetas parecem exercer influência muito menor sobre os mortais diante das modelos, também vou citar uma frase de Gisele Bündchen: “Nunca segui moda nenhuma. Posso usar a mesma roupa durante dez anos”. Menina esperta. Aposto que ficaria linda até numa temível calça baggy.
Cynara Menezes
Picture by Andrea Laliberte

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