13 de dez. de 2007

Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto



Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas da casa e de tudo aquilo com que sonhes.

Não adormeças já.
Diz-me outra vez do rio que palpitava no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi de quatro folhas; e das ervas húmidas e chãs com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje te mordem os gestos e as palavras.

O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai
demorar-se a regressar. Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres,
serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória, como na minha pesará para sempre a pedra do teu sonos e agora apenas me olhares de longe e adormeceres.
Maria do Rosário Pedreira
Picture by Jean-Honoré Fragonard

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