Hora do almoço no fast food do shopping. Eu estava enfiando o primeiro sushi de salmão na boca quando uma das amigas disparou: “Vou botar silicone na bunda!”. O hashi de madeirinha quase arrancou as minhas amídalas. Pensei: “Caramba, nem na hora de comer a gente tem sossego”.
Juro, adoraria esquecer, pelo menos 30 minutos por dia, a minha celulite e a forma horizontal que a minha traseira se tornou, expandindo para os lados. Mas fica difícil porque o sol e meu espelho estão lá por testemunhas e porque trabalho com oito mulheres paranóicas. A verdade é que morro de vergonha da cara de lua, quando vista do telescópio Humble, que a minha bunda insiste em querer mostrar para o mundo.
É claro que já não vou à praia faz tempo e é claro que desço de top e calça na piscina do prédio e só tiro a calça quando já estou refestelada na cadeira. Mas e na hora do sexo?
O que fazer já que não dá para usar roupa e nem um lençol com buraco como antigamente? Quantas e quantas vezes não levantei, depois da transa, andando como uma retardada, uma pata choca, até o banheiro, escondendo o bumbum com as mãos, pro cara não ver o lado B da mulher que aquele acabou de comer. Imagina o que o sujeito deve pensar? Ou talvez nem pense. Uma vez transei com um moço parecido com o Aragorn, do Senhor dos Anéis. Nessa época, a traseira estava boa, mas a barriguinha...
De vestido eu me sentia o próprio churrasquinho Jundiaí, com as carnes fartas fincadas na minha coluna vertebral. O que eu fiz pra dar uma disfarçada? Joguei um pedaço de lençol em cima da pança. O cara virou e me disse: “Por que você está escondendo a sua barriga?”. Fiquei com cara de idiota, sem resposta. Situação típica em que a emenda é ridiculamente pior que o soneto. Mas fazer o que? Eu tenho vergonha. Todo mundo tem vergonha. Até hoje eu não sei o que eles pensam de celulite e nunca tive saco de ler as respostas nas revistas femininas. Porque eu sei que todo mundo mente, como eu sempre menti quando um homem me perguntava se o tamanho do pinto influencia no prazer. “Não, claro que não”. Mentira deslavada. Fazer o que...
Mas a loucura é tanta que há uma semana, comecei a sair com um cara legal, que conheci no orkut. Aí, a Santa Paranóia começou a aparecer no altar lá de casa. “Caramba, como vou transar com essa bunda assim?”. E fui correndo comprar uma tal de bermuda anticelulite que prometia acabar com 60% da maldita em 1 mês. Um mês??? Como vou esperar um mês pra fazer sexo com ele? Porque todo mundo sabe que, quanto mais a gente rala e não rola, mais o cara fica com dor no saco e mais ele fica com raiva da gente.
Mas fui usando a bermuda, nesses dias calorentos de primavera, e assando bem as minhas pernas e a pobre “perseguida” que nem tem nada com isso. Domingo passado não teve jeito, ele veio em casa e transamos gostosamente. Ele de cuecas pretas até as coxas. Eu, de calcinha verde de florzinhas e celulite. Não deu nem tempo de acender as velas pra disfarçar, mesmo porque, na hora, juro que esqueci da nóia e invadi cada poro da pele desse homem. E vice-versa.
Gisela Rao
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