5 de nov. de 2008

Amor de transferência - Lacan

Lacan estabelecia o ponto central de sua teoria da transferência, propondo uma visão dialética para a questão, na qual o paciente oferecia a tese, o analista proporia a antítese, em busca de uma nova verdade e a uma nova tese por parte do paciente (síntese). Neste contexto, para Lacan a transferência só surgiria quando se interrompesse o processo dialético, ou seja dentro da estrutura lacaniana “ideal” não haveria espaço para transferência. Para Lacan, a transferência só pode ocorrer enquanto perdurar no processo de análise uma situação imaginária, enraizada no que ele conceitua como fase do espelho, na qual a criança, buscando manter o amor da mãe, identifica-se com o desejo dela, o qual, pela teoria freudiana, vem a ser o desejo do pênis: neste momento, a criança imagina-se então, de forma a manter estável esta relação dual com a mãe, como o pênis que a mãe (como toda mulher) quer ter. Ao se imaginar como desejo da mãe, a criança passa a vivenciar o desejo do desejo, uma relação que Lacan chama de imaginária, e na qual tanto objeto como sujeito são, basicamente, iguais. Abstraindo-se a introdução da figura do pai, que Lacan posiciona como o Outro, a criança ver-se-ia refletida na imagem da mãe, do outro, de onde à analogia com o espelho. Em 1964, Lacan formula sua teoria do sujeito suposto saber (S.S.S.). Então afirma que ao se estabelecer a regra da associação livre , o analista diz ao paciente que tudo o quanto disser no processo de análise terá valor, terá sentido. Com base nessa regra, o analista assume o papel, para o analisando, de S.S.S., ou seja passa a ser para o analisando aquela figura que tudo sabe sobre o que lhe acontece, pois tenta estabelecer no processo a mesma relação dual vivenciada na infância, na qual objeto sujeito são iguais. Para Lacan, o estabelecimento do S.S.S. possibilita ao paciente a construção imaginária, de que ele e o analista são um só, objeto e sujeito, e enquanto o analista não “evacuar-se” de tal posição, permanecerá “enganchado” no plano imaginário, não obtendo assim o atingimento do plano simbólico, essencial para a análise. Ao atingir o plano simbólico, no qual então o analista assume o papel de Outro, ficam retiradas as ilusões do paciente quanto ao S.S.S. e será então capaz de perceber que o objeto que sabe tudo não existe.
Andréa Luiza Puglia

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