15 de nov. de 2008

Antes do namoro, o ficar

O ficar entre jovens: um modo de aproximação ou um modo de evitar a intimidade? Influências familiares, culturais e sociais.
O que é isso que dizem a respeito de ficar com alguém, muito comum entre adolescentes e jovens adultos que buscam um modo de se aproximar de outras pessoas sem necessariamente terem o compromisso do namoro? Chamam de ficar este tipo de envolvimento que não chega a ser um envolvimento amoroso pleno, mas quase. Está mais para um ensaio do que para as vias de fato. Afinal qual a necessidade de dar-se um nome para este período? O que caracteriza esta modalidade de envolvimento conhecida por não ter o compromisso? Pois bem a relação ficar é questionada. Vez por outra é altamente defendida seja por profissionais, por jovens e até por pais que receosos de seus filhos iniciarem namoros precoces, preferem que seus filhos tenham algum tipo de experiência de conquista afetiva que os satisfaça sem o elo de ligação que um namoro propiciaria. Preferem que seja com alguém de seu grupo, alguém que se possa saber quem é. Muitos acham que isso é mais tranqüilo do que perder seu/sua filho(a) de vez para alguém que chega repentinamente e envolve o(a) tão querido(a) filho(a) do núcleo da família, fazendo-o(a) dividir as atenções. Há aqueles pais que acreditam que a relação ficar na juventude pode estar contribuindo para tornar mais precoce ainda um assunto que poderia ser mais tardio, ou melhor dizendo uma relação que pode ser adiada mais para frente, pois a medida que um adolescente se apaixona por alguém sentem-se ameaçados e às voltas de proteger o(a) tão querido(a) filho(a) dos desastres de amor, da falta de liberdade que pode propocionar, afinal é tão jovem para se prender, não é mesmo? As opiniões são de muitas controvérsia e acreditamos que para cada família e para cada jovem, a escolha será uma apesar de não termos muitas opções para se escolher. Mas entre as experimentações sem compromisso e um namoro na juventude, com qual opção você ficaria? Alguns Dados Históricos Foi marcante até os tempos atuais a diferença na prática da paquera e de aproximação entre pessoas de sexos diferentes, ou seja para a moça e para o rapaz. As diferenças foram marcantes nas décadas de 50, 60, 70 e 80 quando ás práticas de aproximação amorosa tanto entre jovens rapazes e moças como para homens e mulheres. Aos homens parece que sempre existiu uma liberalidade, uma soltura quanto às sua experimentações. Às mulheres sempre restou a sobriedade, a distinção e o não deixar se levar por instintos e desejos de conhecer e explorar o mundo do sexo oposto. É fato que aos homens sempre foi dada mais permissão quanto ao seu treino sexual e amoroso. Sempre existiu uma espécie de anuência quanto ao homem ter esse direito. Aliás o homem sem experiência antes de constituir um vínculo amoroso é tido como ingênuo, inexperiente. Algo nada sedutor pois parece que lhe falta o dom do conquistador, aqueles jeito que seduz as meninas e mulheres dada a sua vasta ou alguma experiência anterior. É esperado e sempre foi que os homens tomem atitudes quanto a se aproximar de mulheres. Eles é que sempre escolheram até a década atual, no entanto foi exatamente nesta época onde assistimos inúmeras transformações neste área. Alterou-se profundamente o comportamento social e inclusive o que é esperado das mulheres e de homens hoje em dia. Na atualidade quem modificou? Atualmente tanto um sexo como outro tomam iniciativas de querer conhecer alguém. Aproximam-se, querem conhecer, convidam para sair. Enfim facilitam ao máximo que se conheçam ou então dificultam ao máximo. Pois parece existir também um certo desinteresse da mulher em ter como meta laçar o seu homem sem demonstrar, como anteriormente era esperado e natural. As mulheres afinal possuem outros interesses e deixam claro quando não mais se derretem em função da presença de alguém que em outros tempos as fariam rastejar. Isto é uma questão cultural, foi sempre assim e não foi por culpa de ninguém, apenas haviam regras diferentes para uns e outros e hoje evidentemente continuam existindo comportamentos diferenciados entre cada gênero no entanto , é necessário observar que muita coisa se modificou em termos dos interesses. Com um mundo mais amplo a conquistar, as mulheres atualmente principalmente as mais jovens já tem atitudes que antes seriam consideradas estritamente "atrevidas" e passaram a se lançarem neste universo do relacionamento interpessoal apresentando também suas curiosidades e até facilitando as aproximações com os jovens rapazes o que antigamente eram valorizadas exatamente pelo contrário: meninas boas e de família não se mostravam fáceis. Isso mudou um pouco, não que a mulher tenha se tornado "fácil". Hoje querem conhecer e experimentar um modo de contato com o sexo oposto que lhes satisfaçam algumas curiosidades principalmente aquelas ligadas a algum tipo de contato físico mais próximo. Querem poder beijar ou serem beijadas sem que isso necessariamente precise ser com um namorado oficial. Afinal julgam que a total ignorância e o desconhecimento oriundos da repressão feminina forma alguns dos responsáveis por fracassos sentimentais. Ao invés de se caracterizarem como aquela comprometida com alguém, sentem-se livres para uma dança, um cinema, estar junto de alguém numa festa, poder ir em outra festa, em outro dia com outro colega ou amigo, sem que isso deponha contra a sua pessoa. Acabaram arrumando um jeito para não serem crucificadas e até os rapazes sentem-se aliviados pois não mais necessitam se aventurar com mulheres que não tinham atração e interesse algum em função de uma experimentação. Podem hoje satisfazer suas necessidades de aproximação com uma garota, convidando uma moça próxima de seu convívio e com mais afinidade, seja da escola, da vizinhança e poder sair com ela, fazer algum programa e isso não ter que representar um compromisso de namoro. Estas facilidades afinal liberaram os dois lados de terem que instituir em seu relacionamento uma legitimidade para então obterem a permissão de uma aproximação. O grande diferencial com certeza está e reside no fato desta grande transformação no universo feminino, culminada com as grandes opções que as mulheres atualmente possuem no mundo. Podem escolher o seu momento e assim o fazem... Mas e o preparo para isso ? Estariam ambos, meninas e rapazes se antecipando, queimando etapas ? estariam os jovens hoje banalizando algo tão belo quanto a expressão amorosa, a doce aproximação sucessiva e demonstração de interesse progressivo? Isto tudo é o que estamos questionando e trazendo à baila. Acredito que ainda haverá uma certa proteção e preocupação com relação à conduta amorosa e sexual feminina, pelo fato dela mulher ter o divino Dom da fertilidade, que é a capacidade de gerar filhos e gerar a semente que trás vida e promulgação da formação da família. Ainda reside sobre a mulher algum ônus, e ainda talvez de uma forma mascarada, a dificuldade em estabelecer a prática sexual despretenciosa. A dificuldade em se colocar algo tão simples e natural quanto a sexualidade perto de algo tão mágico e sagrado como o corpo feminino, como o Dom da fertilidade, faz com que a liberdade feminina ainda fique sendo discutida como é até hoje. Ainda se discute o direito da mulher decidir ou não sobre o prosseguimento de uma gestação. Teria ela o poder sobre uma vida que não é a sua, mas que está instalada em seu ser? É algo extremamente delicado, pois neste momento a mulher acaba ficando sem a posse do próprio corpo, visto do ângulo daqueles que defendem que que a mulher não tem direito ao aborto. Em certos momentos de sua vida, o corpo feminino é um veículo e ela está a mercê da criança, assim como está quando é responsável pela educação dos filhos e muitas vezes privando-se de uma vida particular e até mesmo de suas próprias prioridades. Seus interesse vêem depois de ter satisfeito as necessidades dos filhos. Enfim a relação da mulher com a sua autonomia é algo ainda muito discutido, envolve muita reflexão. A tentativa talvez esteja no fato de não banalizar aquilo que está posto como sagrado. Essa aliás é uma herança cultural que dificilmente se apagará. Toda esta atitude de estigma e crítica à liberação sexual de mulher reside ao modo de coibir e inibir sua opções já que pela própria natureza é dotada de um poder quase que perto do divino e ao mesmo tempo, onde útero e região sexual tornam-se uma espécie de lugar onde há demarcação da posse de algum homem, através do relacionamento sexual, dos filhos que são gerados assim tem sido. O Ficar Retomando, o ficar junto com alguém sem o compromisso de um namoro oficial parece trazer em sua relação como característica, um conjunto de regras onde ambos, rapaz e garota permitem-se a um certo envolvimento e até certo ponto. Afinal, qual é esse limite? Quando é ficar e quando é namorar? Dá-se unicamente pela necessidade de estabelecer um compromisso? Quando algo é dito ou seja verbalizado entre os jovens? O ficar atenta para o fato de poder estabelecer uma intimidade com alguém, e ela se refere à prática sexual inclusive? Uma relação consentida e recíproca neste sentido de não se estabelecer intimidade, culpa, a necessidade de compromisso, a diversidade de parceiros, não exclusividade e apenas alguns fugazes projetos comuns: a experiência de se estar juntos, é totalmente contrária às características de um vínculo amoroso, que se caracteriza por alguns aspectos, onde os imprescindíveis são a reciprocidade; o querer e ter a disponibilidade para estarem juntos; envolve compromisso; envolve intimidade; exclusividade; tem como sentimento principal a experiência amorosa; há o interesse e projetos comuns que vão se aliando a medida em que se dá o relacionamento. A relação do ficar não se refere a um vínculo, um elo de ligação, é a liberdade de poder experimentar. O ficar enquanto um treino torna-se uma experiência, ainda assim não é uma vivência com características de compromisso, talvez por isso podemos questionar as experiências de relacionamentos breves ou instantâneos que vêem a colaborar no amadurecimento dos afetos e que promovem uma escolha amorosa. Em que bases, o ficar promove o início de um ciclo que venha a anteceder o namoro, que segue as características de um vínculo amoroso? A experiência do ficar faz com que se escolha melhor os(a) parceiro(as) futuramente? Dará este prognóstico? Dá uma noção e responde uma série de curiosidades quanto a um contato físico já que de algum modo ficam liberadas as carícias, os toques, abraços beijos e etc... O que contribui para esta aproximação entre jovens? O que propriamente caracteriza a relação do ficar quanto ao aspecto da relação sexual? Até que ponto é permitido? A fase da puberdade está relacionada a um desenvolvimento de inúmeros aspectos que irão contribuir fortemente na formação do adulto. É uma fase muito dinâmica e sua complexidade reside na característica de simultaneamente em que se está voltado para si mesmo como uma forma de reconhecer-se, também está envolvido com a tarefa de identificar-se socialmente, com outras pessoas, buscando assim o reforço necessário para assegurar-se de sua pessoa. É um período de vida típico e conhecido como a fase da auto-afirmação. Admitir a existência de outros em sua vida é parte fundamental neste processo, pois buscará como parâmetro o convívio de pessoas iguais a seu estágio. Passando então à uma fase com maior amplitude para trocas, a se interessar pelo sexo oposto e buscando daí experiências que apontam estas diferenças de gênero, que aguçam a curiosidade. O reconhecimento do grupo social, tão importante para o jovem significa a identificação com os seus próprios valores. A relação do ficar está mais para o reconhecimento do jovem do que necessariamente ligado ao desenvolvimento sexual. Trata-se de um conjunto de coisas, há as necessidades pessoais de cada um, tanto que cada jovem desenvolverá mais este aspecto, quanto mais sua disposição interna movê-lo para tal. O próprio fato de intimidarem-se muitas vezes com certas aproximações resulta de um limite e querer pessoal. A adolescência é uma fase da vida onde se busca uma identidade diferente da família de origem, pois necessita-se conhecer que pessoa é. A evolução sexual na adolescência inicia-se através da experimentação do toque. Um modo de aproximação física, de um modo ainda desconhecido trás muitas dúvidas e incertezas, onde a relação do ficar encontra-se respalto por parte dos jovens pois não os coloca em conflito, não os faz optar e nem assumir elos de ligação que nem mesmo tem certeza. Sentem medo e incerteza se vão aguardar. Se o seu papo é interessante e se serão apreciados e também se terão o respeito dos demais amigos após todos de um mesmo grupo saberem que Ricardo ficou com Joana. Como é que é depois disso? O grupo aplaude? Pede bis? Como fica a relação dos jovens que ficaram em um momento e depois se encontraram no mesmo grupo em outra situação, diferente dessa? Não somente os jovens pertencentes do grupo acabam pressionando os demais para ficarem também, ou seja estimulam e até promovem fazendo-os de um certo modo fazerem se pertencer a um mesmo grupo. Há ainda o grupo daqueles jovens que nunca ficaram e temem isso e matém por sua vez seu equilíbrio agrupando-se entre aqueles que também não ficaram ou não possuem tanto interesse nisso. Digamos que sejam mais tímidos ou que requerem mais tempo para se permitirem. Os jovens acabam se unindo nos grupos que lhe convém, pois precisam com freqüência de uma confirmação do grupo quanto ao seu comportamento e a de não ser criticado. De algum modo a sociedade moderna encontrou uma forma de nomear, dar legitimidade ao estado pré-namoro, caracterizado por ser um rápido e breve contato com alguém do sexo oposto. Não há a necessidade de compromisso, mas, a procura pela descoberta de sensações e emoções. Apenas é importante ressaltar que, enquanto estabelecem esse relacionamento do ficar, tipo beija-flor, não estão se vinculando, apenas estão se encontrando um modo de resolver suas necessidades de um modo mais simples e menos complicado. O ficar não garante nenhuma experiência quanto a saber se vincular. Aponta também o receio da entrega, a insegurança pertinente a quem é jovem e desconhece as implicações afetivas de desastres amorosos ou será que os nossos jovens estão exatamente se prevenindo de dores sentimentais?
Poderíamos dizer que os jovens, tendo em vista os desencontros e as qualidades de vínculo que observam com seus pais e em sua família extensa, poderiam estar até adotando uma medida profilática: é melhor não se envolver muito para evitar a dor e o sofrimento que inevitavelmente o amor e o relacionamento a dois nos trás? Está aí uma questão para se observar. Luiza Ricotta dos Santos é psicóloga, psicoterapeuta e escritora.

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