1 de dez. de 2008

Grandes planos para a vida

Uma das maiores e mais frequentes asneiras consiste em fazer grandes planos para a vida, qualquer que seja a sua natureza. Para começar, esses planos pressupõem uma vida humana inteira e completa, que, no entanto, somente pouquíssimos conseguem alcançar. Além disso, mesmo que estes consigam viver muito, esse período de vida ainda é demasiado curto para tais planos, uma vez que a sua realização exige sempre muito mais tempo do que se imaginava; esses projetos, ademais, como todas as coisas humanas, estão de tal modo sujeitos a fracassos e obstáculos, que raramente chegam a bom termo.
E, mesmo se no final tudo é alcançado, não se leva em conta o fato de que no decorrer dos anos o próprio ser humano se modifica e não conserva as mesmas capacidades nem para agir, nem para usufruir: aquilo que se propôs fazer durante a vida toda, na velhice parece-lhe insuportável - já não tem condições de ocupar a posição conquistada com tanta dificuldade, e portanto as coisas chegaram-lhe tarde demais; ou o inverso, quando ele quis fazer algo de especial e realizá-lo, é ele que chega tarde demais com respeito às coisas.
O gosto da época mudou, a nova geração não se interessa pelas suas conquistas, outros se anteciparam, etc. O motivo deste erro frequente reside na ilusão natural, em virtude da qual a vida, vista desde o seu início, parece sem fim, ou então extremamente breve, quando considerada retrospectivamente a partir do final do seu decurso (efeito do binóculo de teatro). Essa ilusão tem, sem dúvida, o seu lado positivo: sem a sua existência, dificilmente se conseguiria realizar algo de grande.
Arthur Schopenhauer

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