12 de dez. de 2008

Irena Sendler

Enquanto a figura de Oscar Schindler era aclamada por meio mundo, graças ao filme de Steven Spielberg, ganhador de 7 Oscars em 1993, narrando a vida desse industrial que evitou a morte de 1.000 judeus nos campos de concentração, Irena Sendler era uma heroina desconhecida fora da Polônia e apenas reconhecida no seu pais por alguns historiadores, já que os anos de obscurantismo comunista apagaram a sua façanha dos livros de historia oficiais. 

Por outro lado, ela nunca contou a ninguém nada da sua vida durante aqueles anos. Em 1999 a sua história começou a ser conhecida, graças a um grupo de alunos de um Instituto do Kansas EUA, que realizou um trabalho sobre os heróis do Holocausto. Na investigação deram com poucas referencias sobre Irena e só existia um dado surpreendente: tinha salvado a vida de 2.500 meninos. Como e possível que só existisse essa informação sobre uma pessoa assim? Mas a maior surpresa chegou quando após buscar o lugar da tumba de Irena, descobriram que não existia porque ela ainda vivia, e de fato ainda vive. Hoje e uma anciã de 97 anos que reside num Asilo do centro de Varsóvia num quarto onde nunca faltam flores e cartões de agradecimento do mundo inteiro. 

 Quando a Alemanha invadiu o pais em 1939, Irena era enfermeira no Departamento de Bem-estar Social de Varsóvia, no qual cuidava das salas de jantar comunitárias da cidade. Em 1942 os nazistas criaram um “gueto” em Varsóvia e Irena, horrorizada pelas condições como se vivia naquele lugar uniu-se ao “Conselho para Ajuda aos Judeus”. Conseguiu identificações da oficina sanitária, sendo que uma das tarefas era a luta contra as doenças contagiosas. Como os alemães invasores tinham medo de que se desencadeasse uma epidemia de tifo, aceitavam que os poloneses controlassem o lugar. Logo entrou em contato com famílias oferecendo levar os filhos com ela para fora do Gueto. Era terrível: tinha de convencer os pais de que lhe entregassem seus filhos e eles lhe perguntavam: Pode prometer que meu filho viverá? Como poderia prometer se nem sabia se poderia sair com eles do Gueto? Mães e avós não queriam separar-se deles. Irena as entendia perfeitamente: o momento da separação era o mais difícil. Algumas vezes, quando Irena ou suas companheiras tornavam a visitar as famílias para tentar fazê-las mudar de idéia, todos tinham sido levados aos campos de extermínio. 

Cada vez que isso acontecia, ela lutava com mais força para salvar a meninada. E a única coisa certa era que os meninos morreriam se permanecessem ali. Começou a tirá-los em ambulâncias como vitimas de tifo, mas logo se valeu de tudo o que estivesse ao seu alcance: cestos de lixo, caixas de ferramentas, carregamentos de mercadorias, sacos de batatas, ataúdes... Nas suas mãos, qualquer coisa se transformava numa via de escape. Conseguiu recrutar ao menos uma pessoa de cada um dos dez centros do Departamento de Bem-Estar Social. Com a ajuda dessas pessoas elaborou centros de documentos falsos, com assinaturas falsificadas, dando identidade temporária aos meninos judeus. Irena vivia os tempos da guerra pensando nos tempos da paz. Por isso não se cansava manter com vida esses meninos.

Queria que um dia pudessem recuperar seus verdadeiros nomes, sua identidade, suas histórias pessoais, suas famílias. Foi quando inventou um arquivo que registrava os nomes dos meninos e as suas novas identidades.
Anotava os dados em pedaços pequenos de papel que enterrava, dentro de potes de conserva, debaixo de uma arvore de macas, no jardim do seu vizinho. Guardou, sem que ninguém suspeitasse, o passado de 2500 meninos, até que os nazistas foram embora.
Um dia, os nazistas souberam das suas atividades. Em 20 de Outubro de 1943, Irene foi detida pela Gestapo e levada a prisão de Pawiak onde foi brutalmente torturada. Num colchão de palha da sua cela, encontrou uma estampa de Jesus Cristo. E ficou com ela até 1979, quando doou-a a João Paulo II.

Irena era a única que sabia os nomes e onde se encontravam as famílias que albergaram aos meninos judeus; suportou a tortura e se recusou a trair seus colaboradores ou a qualquer dos meninos ocultos.
Quebraram-lhe os pés e as pernas, alem de sofrer inúmeras torturas. Mas ninguém conseguiu romper a sua vontade. Foi condenada a morte, mas sentença que nunca chegou a se cumprir porque a caminho do lugar da execução, o soldado a deixou escapar.

A resistência o tinha subornado porque não queriam que Irene morresse com o segredo da localização dos meninos. Oficialmente ela constava nas listas dos executados. A partir de então, continuou trabalhando, mas com uma identidade falsa. No final da guerra, ela mesmo desenterrou os vidros de conserva e fez uso das anotações para encontrar aos 2.500 meninos que colocou com famílias adotivas.

Ajuntou-as aos seus parentes espalhados pela Europa, mas a maioria tinha perdido as suas famílias nos campos de concentração nazistas. Os meninos só a conheciam pelo apelido: Jolanta. Anos mais tarde, quando a sua historia saiu num jornal junto com fotos suas, da época, diversas pessoas começaram a chamá-la para dizer:

“ Lembro de seu rosto... sou um daqueles meninos, lhe devo a minha vida, meu futuro, e gostaria de vê-la!”

Seu pai, um medico que faleceu de tifo quando ela ainda era pequena, lhe fez memorizar o seguinte: Irena tinha no seu quarto fotos com alguns daqueles meninos sobreviventes ou com filhos deles.
"Ajude sempre a quem estiver se afogando, sem levar em conta a sua religião ou nacionalidade. Ajudar cada dia alguém tem de ser uma necessidade que saia do coração"
Irena vive anos numa cadeira de rodas, por causa das lesões causadas pelas torturas sofridas pela Gestapo. Não se considera uma heroína. Nunca reivindicou crédito algum pelas suas ações.
“Poderia ter feito mais”, responde sempre. “Este lamento me acompanhará ate o dia de minha morte!”
“ Nao se plantam sementes de comida. Plantam-se sementes de bondade. Tratem de fazer um circulo de bondade, este os rodearão e farão crescer mais e mais

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