9 de fev. de 2009

Da responsabilidade à compaixão

Cuidar do futuro viabilizando o possível obriga a coibir-nos, a vigiar para que não se tomem no presente posições, não se profiram palavras, não se use os tempos de uma forma que definitivamente o empobreça. A compaixão inscreve-se diretamente neste cuidar, como sua expressão mais funda e mais íntegra; nela convergem as diferentes dimensões que compõem a responsabilidade. A compaixão constitui a forma suprema da identificação: é-se mais si mesmo na exata medida em que cresce a capacidade de nos identificarmos com a verdade dos outros; representa igualmente a forma suprema da responsabilidade, no abraço fraterno que rompe fronteiras. Contra a perspectiva liberal, por ora hegemonica e avassaladora, a minha liberdade, a reivindicação da autoria de si por si, não termina onde começa a liberdade do outro; a liberdade só é real na linha do encontro e não da demarcação. Cum-patire, aceitar ser paciente e sofredor, ao lado do outro que sofre, é o limite superior da responsabilidade. De todo o outro? E sem curar de eliminar o que faz sofrer? Compadecido sobretudo daquele que é frágil e vulnerável, daquele que é vítima, daquele que está ameaçado de não ter futuro e para o qual o possível se detém à sua beira. A compaixão assegura, garante que esse tem um futuro e que há para ele um poder ser, porque estamos aí com ele, respondendo por ele.
Manuel do Carmo Ferreira

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