2 de fev. de 2009

Estudo indica fatores de risco para depressão materna

Na gestação, os fatores de risco são: estar grávida pela primeira ou segunda vez e não desejar a gestação. Já na depressão pós-parto, os fatores são: não ter religião, ter um companheiro desempregado, entre outros

Uma dissertação de mestrado defendida em novembro na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP mostra os fatores de risco para a ocorrência de depressão durante a gravidez e o pós-parto.

Na gestação, os fatores de risco são: estar grávida pela primeira ou segunda vez e não desejar a gestação. Já na depressão pós-parto, os fatores são: não ter religião, ter um companheiro desempregado, ter tido depressão na gestação, não receber suporte do Sistema Único de Saúde (SUS), não receber ajuda para cuidar do recém nascido e não receber ajuda do companheiro.

"A gestação e o pós-parto são os períodos da vida da mulher em que ela mais sofre de depressão", explica Valéria Feitosa, autora da pesquisa e enfermeira especialista em psiquiatria "A rotina da mulher muda, muitas vezes ela não tem condições financeiras ou apoio da família. E ainda há as dificuldades com os hormônios" . Das 47 mulheres pesquisadas, 43% tiveram depressão durante a gestação e 30% durante o pós-parto. O levantamento foi feito com mulheres de baixa renda de uma maternidade em Uberaba (MG), e, segundo a pesquisadora, os dados refletem a realidade do País.

O professor da Jorge Luis Pedrão, da EERP, orientou o estudo. Para chegar às informações, a pesquisadora comparou informações dadas pelas mães com dados médicos. Durante a gestação e pós-parto, as mulheres responderam dois questionários sobre sua situação sócio-econômica e de saúde, e sobre a saúde do bebê. A pesquisadora entrevistou as mulheres para saber se elas recebiam ajuda nas tarefas diárias e tinham apoio emocional e perguntou se eram bem tratadas pelo SUS. Por fim, Valéria pediu para as mulheres preencherem dois questionários que avaliavam se elas tinham ou não depressão, e a intensidade da doença.

A pesquisa aponta que as gestantes com depressão apresentaram menos problemas na gestação e seus filhos nasceram com melhores pesos e estaturas. Elas também alimentavam seus filhos de forma mais apropriada à idade. Para a enfermeira, as gestantes com depressão mais leve ficariam mais ansiosas, o que as levaria a visitar mais vezes o médico. Por outro lado, as mulheres com depressão na gestação fizeram mais cesáreas e partos com maior duração. Elas e seus filhos tiveram mais doenças. Todas as gestantes que não desejaram a gravidez tiveram sintomas de depressão durante a gestação, mas não depois do parto.

A depressão durante a gestação também foi mais freqüente do que no pós-parto. "Talvez isso aconteceu porque ainda não existe uma lista de perguntas específicas para depressão durante a gestação. Mas já existe uma para depressão pós-parto." O estudo também revelou que não receber apoio do SUS e do companheiro são fatores de risco para depressão. As mulheres depressivas faziam todas as consultas sozinhas. Por outro lado, as mulheres que diziam receber apoio do sistema de saúde adoeciam menos de depressão.

A pesquisadora afirma que é fácil identificar paciente em situação de risco, pois os hospitais costumam pedir as informações necessárias. Porém, os profissionais de saúde não as usam para prevenir ou tratar a depressão. "Para minha surpresa, muitas pacientes me ligavam para chorar. Elas procuravam o sistema de saúde e as pessoas achavam que era bobeira ou mentira", ressalta. Para mudar esse quadro, Valéria sugere que os médicos utilizem as escalas de medir depressão, façam grupos de acolhimento para as pacientes doentes e encaminhem as gestantes para profissionais especializados em saúde mental. "O assunto daria uma outra dissertação. Mas, para começar, essas soluções já estariam de bom tamanho".

Agência USP

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