5 de nov. de 2009

Ilustres desaparecidos

Daí então você vai, acorda e começa a cismar. Que fim levou fulano? Que fim levou tal coisa? Não, não é a idade. Isso pode dar em qualquer época da vida. Dar conta de certos sumiços, digo. Pode ser um velho amigo que você não vê há séculos, pode ser uma marca de colírio que era a único que resolvia qualquer inflamação nos seus olhos. Pode ser um cinema que derrubaram sem você se dar conta. Pode ser uma atriz de cinema que, cada vez que aparecia uma fotografia dela, em jornal ou revista, você se detinha um pouquinho mais para apreciar. Pode ser um político. Dos nossos, dos estrangeiros. Esses desaparecimentos não conhecem fronteiras. Os jogadores de futebol estão bem alto na lista de ilustres desaparecidos. Pode ser também mania que desapareceu. Que fim levou aquela história que há alguns anos rolava entre tudo quanto é celebridade de que tinha sido violada, ou violado, pelos pais, que, em geral, além do mais, também praticavam o satanismo? As gírias e bordões fazem fila para se mandarem. Pode ser moda que leva a breca. Quem decidiu que esse ou aquele “look” já eram? Quem decretou um fim aos jeans boca-de-sino? E a música gênero disco e as discotecas? E por aí vai. Estranho e interessante é quando o que some, o que o gato engole, já era em si estranho e interessante. Pense bem, ponha a mão no coração, com os olhos perscrutadores diga a verdade: qual foi a última vez que você viu um disco voador? Ou, no mínimo, leu sobre alguém que viu um OVNI? Leu alguma coisa nos jornais sobre gente sequestrada por alienígenas? Nada. Coisa alguma. Feito fantasma ou assombração desapareceram nos deixando essas outras tolices fantasiosas a que, por falta de capacidade ou imaginação, chamamos de recessão, aquecimento mundial, conflitos armados em vários pontos do globo terrestre. Por outro lado - e péssimo lado -, mesmo não sendo uma boa, os piratas voltaram. Sem Errol Flynn, sem perna de pau, sem venda no olho, sem cara de mau. Nesse sumiço todo o que mais me desperta a curiosidade é o triste fim do Triângulo das Bermudas. Tinha uma época em que você não podia abrir o jornal ou ligar a televisão sem dar de cara com mais um mistério envolvendo o Triângulo das Bermudas. Sumia barquinho de pesca com cubano tentando fugir para Miami, sumia navio, sumia avião, sumia nadador audaz. Surgia livro que não acabava mais a respeito. Toda sorte de explicações. De alienígenas em ação às infrutíferas tentativas de cientificar o grande segredo da região, passando por teorias que sopravam vida na igualmente desaparecida Atlântida, mais conhecida como “O Continente Perdido”. Perdeu-se, pois, nas Bermudas, toda uma região em forma de vasto triângulo, que pode ou não ter sido uma mera (mera?) consequência das atividades solares magnéticas. Quem achar ganha um doce. Muito melhor um Triângulo das Bermudas do que um Pentágono no Iraque ou Afeganistão. Ivan Lessa
Picture by Basquiat

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