20 de jul. de 2010

O cinema não passa mais cinema Houve um tempo em que pegar um cineminha era um programa ideal. Cinema era lugar de pensamento, diversão, exercício de dúvidas, construção de gosto e fortalecimento de convicções políticas. De uns tempos para cá, a programação tem sido marcada pelo interesse exclusivo nas bilheterias que a diversidade ficou condenada. Só há lugar para os blockbusters, esses filmes que já chegam com marketing consolidado e têm como maior qualidade fazer as contas a cada fim de semana para ver quanto faturaram. Os filmes e cineastas tambem mudaram. Há vários elementos envolvidos nessa mudança. Em primeiro lugar, o mundo parece ter se tornado mais burro. É um juízo radical mas singelo: a inteligência é sempre exigente. Além disso há um vínculo necessário entre a beleza e a compreensão. Quanto mais profundo um pensamento maior a probabilidade de que ele exprima verdades igualmente profundas. No caso da arte, essa relação se estabelece em produções que apelam a um só tempo para a emoção e o entendimento. Hoje, a procura é por efeitos e, dessa forma, se contam os laços que ligam estética, ética e epistemologia. Além da perda de substância, o vazio da produção cinematográfica atual é exemplo da perversão da arte em nome da economia. Os filmes valem pelo que faturam. Como o mercado é cada vez mais tocado pelo desejo adolescente da compulsão à repetição, os filmes se tornaram franquias: vampiros, comédias românticas, catástrofes, super-heróis. Não há lugar para adultos nas salas de cinema. Essa juvenilização combina, em outra vertente, com a forma como o programa cinema se transformou: um convescote barulhento, cheio de comida e porcarias, interrompido por telefones e faniquitos. Outro elemento que precisa ser considerado é a incapacidade dos programadores de preservarem um espaço ecologicamente viável para a inteligência. Se todas as salas só programam filmes de adolescentes, os adultos têm duas saídas: ou se tornam adolescentes (triste realidade, cada vez mais presente) ou procuram outra forma de diversão. Nos dois casos, a longo prazo, os cinemas têm tudo para se tornar um negócio com perspectiva de crise. Sem motivação, o gosto tocado, a necessidade incessante de rapidez, o espectador se cansa e muda de estímulo. Esse pode ser uma ponta de sucesso de filmes em 3D, visto menos pela narrativa que pela experiência sensorial. João Paulo Jornal EM / pensar 17/07/10
imagem: René Magritte

Um comentário:

Bel B disse...

Não concordo. Tenho mais de 50 anos e sou frequentadora assídua de cinema. Não vi nenhum filme da saga dos vampiros, nem vejo os filmes de ação do circuito comercial. Quanto ao 3D é tecnologia e inovação, obrigatório as vezes, para cinéfilos. Há grandes filmes que não agradam ao grande público e nestes casos ficam pouquíssimo tempo nos cinemas. É preciso estar atento, para não perdê-los. Felizmente há salas de arte, onde normalmente há bons filmes em cartaz, principalmente europeus e recentemente de outros lugares tais como, IrÃ, Coreia, Japão, etc.

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