3 de jul. de 2010

Poema de amor

Este é um poema de amor por isso nele não poderá faltar a menção a alguma flor e por isso digo rosa ou lírio ou simplesmente rubro, rubro e espero as páginas imantarem-se de vermelho por isso digo febre e noite e fumo para dizer ansiedade e desperdício de sêmen e de horas e cigarros à janela acesos como estrelas com a noite numa ponta e nós consumindo-nos na outra este é definitivamente um poema de amor por isso nele devo dizer casa e olhos e neblina e não devo dizer que o amor é uma doença uma doença do pensamento uma desordem que põe tudo o mais em desordem uma perda que põe tudo a perder e porque é um poema de amor sob pena de ser devolvido como uma carta sem destinatário ( e todos devem saber que não se deve brincar com os correios) este poema deve dirigir-se a alguém porque a alguém o amor deve ferir com sua pata negra e então à falta de outro este poema eu dedico (mas não tema, o tempo também nisso porá termo) a você.
Ana Martins Marques
arte: René Magritte

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