19 de nov. de 2010

Palavra de fã - Paul McCartney em São Paulo


Canções que fazem parte do repertório dos shows que Paul McCartney faz em São Paulo são analisadas pelos beatlemaníacos Samuel Rosa, Márcio Borges, Marcelo Thomé e Thiago Corrêa


Com os 120 mil ingressos (metade para cada uma das noites) vendidos em poucos dias, a hora é de correr pro abraço.

Neste domingo, no Estádio do Morumbi, Paul McCartney faz a primeira das duas apresentações de Up and coming tour em São Paulo, depois da estreia, no início deste mês, em Porto Alegre.

Há 17 anos sem vir ao país, o ex-Beatle, que além de sir carrega o título de maior artista vivo da música popular, toca por quase três horas, sem demonstrar, em momento algum, o peso de seus 68 anos. Além de farto material dos Beatles, McCartney enfatiza o repertório setentista dos Wings. Seu melhor álbum do período, considerado ainda o clássico da banda que manteve ao lado da mulher, Linda, teve seis de suas 10 canções incluídas: Band on the run, de 1973, remasterizado há pouco. 


A turnê, que conta com três dezenas de datas, tem um set list que vem se repetindo continuamente, com poucas modificações. No último fim de semana, em Buenos Aires, por exemplo, ele abriu o primeiro show com Venus and Mars/Rock show, também do Wings. No dia seguinte, no Estádio do River Plate, começou com Magical mystery tour, dos Beatles. Pode ser assim em São Paulo, já que serão dois shows. Ou não. As apostas estão feitas. 


O Estado de Minas convidou quatro beatlemaníacos para comentar parte do repertório (com suas possíveis variações, a lista vem abaixo, na ordem de apresentação): Márcio Borges, autor de Para Lennon e McCartney (1970, em parceria com Lô e Fernando Brant); Samuel Rosa, líder do Skank, banda que na discografia produzida nesta década vem reforçando a influência dos Beatles; Marcelo Thomé, baixista e vocalista da banda cover Anthology, que desde o anúncio da vinda da turnê ao Brasil não tem tido sequer um fim de semana de folga; e Thiago Corrêa, vocalista do grupo Transmissor, outro que traz a banda inglesa em seu DNA. 


Dos quatro, somente Borges não estará no Morumbi neste domingo. . Venus and Mars/Rock Show (do álbum Venus and Mars, de 1975) Wings. Antológico. Inesquecível. Vou traduzir o que disse um fã no YouTube porque ele falou tudo que eu gostaria de dizer: "Paul McCartney = gênio! O mais genuíno, brilhante, espetacular, fabuloso, excelente, impressionante, fantástico, incrível, assombroso, encantador, imponente, boa-praça, boa-pinta e a maior personagem que jamais existiu. Não há palavras no universo que descrevam como ele é genial. 


Nunca me cansarei de ouvi-lo. Sempre abro um sorriso." Bom, esse é mais fã do que eu. (Márcio Borges) . Jet (do álbum Band on the run, 1973) Impecável pela produção e timbres maravilhosos como o fuzz (tipo de distorção) grandioso, além da sempre marcante melodia de Paul, que não sai da memória. Com uma veia meio hard rock mesclada com uma parte B claramente reconhecível do universo Beatle, essa música é uma espécie de "Beatles meets Van Halen" e com certeza influenciou uma estética que seria comum na década seguinte. (Thiago Corrêa) . 


All my loving . Letting go (Venus and Mars, 1975) Uma das minhas preferidas da época dos Wings. É também uma das mais subestimadas canções do Paul. Com seu riff de guitarra marcante e um ritmo envolvente, foi emocionante ouvir e ver este rock sendo tocado pelo próprio Paul a apenas alguns metros de distância. (Marcelo Thomé) . Got to get you into my life ou Drive my car . Highway . Let me roll it/Foxy lady . The long and winding road . Nineteen hundred and eighty-five (Band on the run, 1973) A música traz uma pitada do que poderia ter sido uma canção dos Beatles, porém sem o contraste necessário oferecido pelos outros integrantes do grupo. 


Com a doçura da parte marcante do piano e várias dinâmicas resultando num final grandioso, essa música com cara de clássico não chega a me empolgar. (TC) . (I want to) Come home ou Let 'em in . My love . I'm looking through you ou I've just seen a face . Two of us ou And I love her . Blackbird (do Álbum branco dos Beatles, 1968) O Álbum branco é ótimo para se ver a diferença de composição e assinatura de Lennon e McCartney. 


O disco é um rascunho do que viria a ser a carreira solo de cada um. Blackbird é dessa fornada, de uma fase bem folk em que ele, apesar de ser baixista, toca violão. Para mim é obra-prima. (Samuel Rosa) . Here Today (do álbum Tug of war, 1982) Segundo o próprio Paul, é a mais difícil de ser tocada nesta turnê devido à sua história: feita para John Lennon depois de sua morte, McCartney interpreta esta bela canção de forma magnífica. 


Em Porto Alegre, fui às lágrimas, pois é um dos momentos mais emocionantes do show. (MT) . Dance Tonight (do álbum Memory almost full, 2007) O multi-instrumentista Paul McCartney pega um bandolim e empolga toda a plateia não apenas pelo estilo sing-along da música, mas também pela despojada performance de seu baterista, Abe Laboriel Jr., que dança do início ao fim e rouba a cena. (MT) . Mrs Vandebilt (Band on the run, 1973) Essa também é do tempo do Wings, do álbum Band on the run, cuja música título, aliás, é bem melhor do que essa. É animada, batidona, mas não é nem de longe alguma das minhas prediletas do velho Macca. (MB) .


 Eleanor Rigby . Ram on . Something . Sing the changes (álbum Electric arguments, 2008, em que Paul assina The Fireman) Essa música traz um sentimento que passeia pelo mundo do U2. Conheci-a na TV com o Paul se apresentando na marquise do Ed Sullivan Theater, em Nova York. A primeira coisa que pensei foi: “Como é que esse cara consegue ser tão jovem?” Sua vitalidade impressiona muito, além de sua voz, que pouco sofreu com o passar desses longos anos. (TC) . Band on the run (Band on the run, 1973) Não acreditei que estava assistindo a este clássico ao vivo. A reação não poderia ter sido diferente em todo o Beira-Rio: levou a plateia ao êxtase, que cantou e vibrou desde o primeiro acorde. 


Ótimo exemplo da qualidade técnica e do entrosamento total dos músicos que acompanham Paul nesta turnê. (MT) . Ob-la-di, Ob-la-da . Back in the U.S.S.R. . I've got a feeling . Paperback writer . A day in the life (Sgt.Pepper’s lonely hearts club band, 1967) e Give peace a chance Essa sim é uma canção 50% Paul e 50% John. Não fizeram a música juntos, mas emendaram duas partes: “Woke up, fell out of bed…”, meio alegrinha, do Paul com “I read the news today oh boy…” do John. É brilhante, pois mesmo assinada como parceria, você vê que são músicas bem diferentes. 


É ainda de uma outra fase dos Beatles, em que eles não estavam em busca do pop perfeito com refrão. (SR) . Let it be . Live and let die (composta para o filme homônimo de 007, de 1973) É uma das músicas mais difíceis para se definir sem cometer um erro. Obra-prima do Paul, deve ser uma pedra no sapato dos ferrenhos desdenhosos de sua carreira pós-Beatles. Tem ainda todos os elementos marcantes da inigualável capacidade que o Paul tem para escrever melodias, aliada a um riff tão especial que, na minha opinião, remete e se equipara a emocionantes clássicos da música erudita, como o final da Nona sinfonia de Beethoven. (TC) . 


Hey Jude (do compacto Hey Jude/Revolution, 1970) É a expressão maior da melodia inerente na obra de Paul. Uma música que sintetiza e glorifica o senso melódico como valor eterno na cultura pop mundial. (TC) Bis . Day tripper . Lady Madonna . Get back . Yesterday (do álbum Help! dos Beatles, 1965) Foi um momento solene, uma pausa na avacalhação à Trapalhões daqueles quatro garotos travessos a correr pelas ruas de Londres fugindo de menininhas ensandecidas. Um poema sombrio e nostálgico, fora de contexto, de quem ainda nem tinha composto When I'm sixty four, menos ainda barrado os 70, mas já andava cheio de saudades de um "ontem" que seria o oposto metafórico do "dia que virá", tão cantado e decantado aqui na terra brasilis naqueles mesmos anos de Yesterday lá e ditadura cá... (MB) . 


Helter Skelter (do Álbum branco, 1968) Foi para provar que, antes mesmo de Ronaldo Bastos celebrizar a frase de efeito a respeito do disco Clube da Esquina de 1972, "os Beatles eram Rolling Stones". Mantras, Rajneesh, flower power e porrada! Essa é uma das músicas mais descaradas daquela época: “I'm coming down fast but don't let me break you" Helter Skelter significa barulho, confusão, trapalhada, e estava escrito a sangue nas paredes da casa onde foram encontradas as vítimas de Charles Manson. 


E alguns ainda dizem que Beatles não eram rock... (MB) . Sgt. Pepper's lonely hearts club band (do álbum homônimo dos Beatles, 1967) Assim como o disco, uma faixa revolucionária. Tudo o que está neste álbum é de extrema sofisticação até os dias de hoje, pelo tipo de música, pela capa, pelos temas abordados. São os Beatles deixando de ser adolescentes. (SR) . The end
Mariana Peixoto

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