5 de abr. de 2011

Sobre a maturidade masculina

Durante muito tempo a cultura popular tem passado a imagem de um homem que não coincide com a sua masculinidade. Muitos não sabem o que é ser verdadeiramente homem, ninguém os ensinou. Buscam viver de aparências, fingindo serem íntegros em sua personalidade. Passam parte de suas vidas escondendo-se de si e dos outros, tentando mostrar uma imagem que não lhes pertence.
A sociedade atual apresenta a figura do homem perfeito como sendo aquele que se dedica ao trabalho, se esforça para ser um empresário famoso no mundo empresarial, que nunca perde, mas sempre ganha nos negócios.

Uma máquina ambulante de produção. Isso tem feito com que o homem reprimisse tudo o que vem a ser empecilho para a sua ascese no campo sócio-econômico, inclusive o seu lado sentimental, dos afetos e da sensibilidade. Diante dessa realidade surge o questionamento: Por quê os homens se tornaram tão vazios de sentimentos e tão superficiais? Tal problema pode ser estudado à luz da psicologia de Carl Gustav Jung.
Para Jung, a personalidade é constituída de várias instâncias que estão em constante tensão, onde uma se opõe à outra. Dentre essas se destacam a anima e animus. A primeira seria a imagem coletiva da mulher presente no inconsciente do homem, levando-o a ter características femininas em sua personalidade. A segunda, pelo contrário, é a imagem masculina presente no inconsciente da mulher. Essas imago são denominadas arquétipos (conjunto de imagens herdadas de nossos ancestrais) e se encontram no inconsciente coletivo de todo indivíduo. São elas que permitem a identificação do homem coma natureza da mulher e vice-versa.
De acordo com Jung "não existe homem algum, tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino."[1] O fato é que, na maioria das vezes, os homens ocultam esta vida afetiva, que em muitos casos é vista como característica própria da mulher. Com isso o homem acredita ser uma virtude reprimir esses traços de sua personalidade. O que ele não sabe é que todo material reprimido não é anulado. Ele é acumulado no inconsciente, podendo retornar ao consciente de outras formas.

A repressão da anima pelo homem pode criar no mundo externo a imagem de um homem forte, firme em suas decisões e aparentemente realizado. Entretanto, quando ele se depara com o mundo interior, percebe que existe uma criança delicada, que tem medo de si e dos outros e ao mesmo quer se lançar em busca de uma vida plena, de paixão, ternura e amizade. Com isso, se percebe que um dos problemas ligados à masculinidade se deve à não aceitação da imago feminina.

Analisando a formação do homem no contexto da modernidade, fica evidente o desenvolvimento desordenado de sua personalidade. Não ensinaram o menino a ser homem. O fato é que ele cresce dentro de um ambiente onde o método educativo consiste na supressão ou repressão das fraquezas. A sociedade, sobretudo na cultura ocidental, introduziu na cabeça dos meninos que o homem, para provar a sua masculinidade, não podia expressar sentimento algum. O homem-varão não pode chorar, ser carinhoso, dizer palavras dóceis nem ser educado. Ele não pode manifestar características que pertencem às mulheres.

Desse modo, formou-se muitos homens grosseiros, machões, verdadeiros "tanques de guerra". Homens superficiais que preferem se relacionar com o mundo financeiro da empresa a ousar demonstrar sensibilidade para com os filhos e a esposa. "A maioria esmagadora dos homens é incapaz de colocar-se individualmente na alma do outro".[2] O menino que cresce reprimindo a sua anima possivelmente terá problemas no relacionamento com os outros, sobretudo com as mulheres. É perceptível a falta de intimidade presente no relacionamento de homens que sufocam a sua anima. Quem não conhece um modelo de homem assim?
Portanto, é necessário que o homem tenha coragem de se lançar num caminho de maturação e de resgate da sua autêntica masculinidade. O psicólogo austríaco Steve Bidduph em seu livro, Por que os homens são assim? diz que "se existe um primeiro passo a ser dado pelos homens em direção à cura, provavelmente é começarem a ser mais verdadeiros".[3] Isto é, assumir que da forma que vivem na sociedade não os torna felizes.

Aceitar que viver fingindo ser alguém é tolice, e só trará sofrimento para si mesmo. Para Jung o ponto de maturidade da psique humana está na harmonia das várias instâncias. Neste caso, a harmonia entre anima e animus, cuja falta de desenvolvimento de um ou do outro retém o pleno desabrochar da personalidade. É preciso que o homem tome consciência desta bissexualidade inata na sua personalidade, ou seja, a presença da natureza feminina, possibilitando assim, seu encontro com a verdadeira masculinidade.

"O homem natural vive em todo homem. Ele é belo e divino. Tem uma enorme energia fundamental e um grande amor pelo mundo. É tão educador, protetor e criador quanto a figura feminina, mas educa, protege e cria a seu jeito masculino. ... A tarefa do homem é se conhecer melhor, de modo a aumentar sua contribuição para o mundo e a honestidade para consigo" Asa Baber, em Wingspan.[4]
Alex Martins de Freitas

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