27 de jul. de 2007

A curva da vida


Cada período de sete anos é um ciclo que traz lições importantes para corpo, mente e espírito"Somos atores, diretores e roteiristas do filme de nossas vidas – que é único e exclusivo. Também atuamos nos filmes alheios, como personagens. O trabalho biográfico, sob a forma de coaching, encara essas histórias como um patrimônio existencial formado por nossos encontros e desencontros, emoções e atitudes.

Mais ainda: reconhece essas experiências como uma fonte que revela os potenciais de cada um para a felicidade e para a missão que tem na vida. Apesar da imensa diversidade – afinal, não há duas pessoas iguais neste mundo –, algumas leis biográficas são imutáveis e valem para todos. Conhecer essas leis e entender como elas atuam em nossas vidas é um dos instrumentos mais poderosos para quem deseja tomar o destino nas mãos.

Na linha de pesquisas do pensador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), esse trabalho promove uma aproximação consciente de três aspectos fundamentais de nossa existência: as questões espirituais e as relacionadas à vida e ao trabalho. Com essa visão, a busca da felicidade ganha sentido amplo e envolve aspectos pessoais e familiares, além daqueles ligados à carreira, à liderança e ao nosso papel dentro das organizações.

Quando as pessoas conhecem as leis que regem a vida, encontram coincidências e discrepâncias. Muitos executivos, por exemplo, evoluem precocemente no nível intelectual (pensar) e no querer (agir), em detrimento da maturidade emocional (sentir). O grau de realização profissional depende em grande parte da qualidade de nossas vidas, de nosso equilíbrio interno. Assim, ao conseguir respostas satisfatórias para as questões espirituais, teremos uma chance muito maior de viver uma existência plena.

As referencias para nosso desenvolvimento nas diversas fases da vida são as seguintes:
do momento em que nascemos aos 21 anos há o amadurecimento biológico, do corpo;
dos 21 aos 42 anos, nos desenvolvemos psicologicamente;
e a partir dos 42 anos acontece o amadurecimento espiritual.

Cada uma dessas fases pode ser subdividida em três períodos de sete anos – exatamente como faziam os antigos, que encaravam a vida como uma serie de setênios e os marcavam com ritos de passagem.
Alguns desses ritos sobrevivem até hoje.
Para os católicos, por exemplo, 7 anos é a idade que se faz a primeira comunhão;
aos 14 anos, vem a crisma.
Os 14 anos também marcam o final da fase infantil e o início da juvenil.
Aos 21 anos, segundo tradições romanas, começa a maioridade.

Há também fenômenos fisiológicos ligados à passagem dos setênios.
Aos 7 anos, os dentes de leite caem.
A cada 7 anos, nossos órgão têm todas as suas cédulas renovadas.
É possível usar o mesmo raciocínio em relação à carreira. Se alguém me pedisse para descrever os setênios da vida pessoal e profissional, poderia fazer desta maneira:

Fase emotiva:
Dos 21 aos 28 anos
Para representar essa fase, os gregos usavam a imagem arquetípica do centauro. Metade homem, metade cavalo – querendo dizer que somos “meio bestas” porque ainda não conseguimos dominar as emoções. Nesse setênio as habilidades técnicas tornaram-se mais evidentes. O jovem quer saber como as coisas funcionam e como o conhecimento técnico é aplicado. Muitos trainess chegam à empresa nessa etapa da vida, sem noção da complexidade que os espera.

O 28º ano de vida geralmente é marcado pela crise do talento. Até então, tudo é espontâneo, mas a partir daí as realizações dependem 90% da transpiração – a inspiração contribui com apensas 10% do sucesso. Depois dos 28 anos, muitos talentos vão para o anonimato e não são poucos os profissionais que entram em depressão por não saber lidar com isso.

É mais ou menos assim que acontece.
Dos 21 aos 42 anos, as forças vitais mantêm o equilíbrio,
e a partir dos 42 anos inicia-se o declínio biológico. A individualidade toma posse do corpo ao nascimento, integra-se com ele até o meio da vida. A partir daí começa a desprender-se até desligar-se do corpo físico na morte. É o palco das vivencias e lutas internas e sofre influências do meio ambiente. Na primeira metade da vida, a curva da alma acompanha a curva biológica. Mas depois para onde evolui a curva anímica? Para baixo, acompanhando a curva biológica, ou para cima, seguindo a curva espiritual? Depende de como conduzimos a vida – essa é uma questão de escolha pessoal.

Fase racional:
Dos 28 aos 35 anos
De centauros, nos transformamos em cavaleiros, uma vez que conseguimos controlar mais as rédeas de nossas emoções. A razão domina os impulsos e começamos a ponderar antes de tomar decisões. Nessa fase, desabrocham as habilidades sociais e passamos a considerar os outros em nossas decisões. Saber falar e saber ouvir é uma característica evidente em profissionais dessa faixa etária. É a fase em que o eu está mais ligado ao corpo físico. Até aqui quase todos os ventos nos foram favoráveis. Agora é hora de começar a devolver ao mundo os benefícios que recebemos.
O momento é crucial. Entre os 30 e os 33 anos, vemos a diferença entre a biografia interna (ser) e a externa (ter). É possível ter dinheiro, bens , diplomas, sexo, poder e status. A biografia interna preocupa-se com questões de outra natureza. Do tipo: qual é a qualidade de minhas relações pessoais? Qual é meu papel na família e na comunidade? Qual é o sentido mais profundo de uma experiência, de um encontro ou de uma conversa? Profissionalmente falando, nessa fase muitas pessoas já ocupam cargos de chefia e precisam se preocupar em delegar. Mas há conflito entre delegar responsabilidades reais e delegar apenas tarefas, mantendo o controle da situação. Alguns executivos dessa faixa etária têm uma lógica implacável, muitas vezes marcada pela insensibilidade.
Eles se deixam fascinar por modismos de gestão, planejamento, organização e controle. Desejam o poder e tudo o que os cerca.

Fase consciente:
Dos 35 aos 42 anos
Essa é a época de assumir responsabilidades. Os frutos de nossos esforços começam a aparecer. Sentimos segurança interior, estamos em pleno vigor físico e ainda dispostos a assumir riscos. Conseguimos entender situações complexas. No setênio anterior, vivemos a ilusão de que o céu é o limite – agora, percebemos que nós mesmos é que somos o limite.

Perto dos 40 anos, começamos a nos fazer perguntas como: quem sou eu? Qual é o sentido da vida? O que me dá satisfação? O que faço é coerente com meus valores? Trata-se da crise da autenticidade.
Partimos em busca de algo novo, mais verdadeiro e autêntico. Ninguém tem respostas para nossas questões a não ser nós mesmos. A vivencia é de solidão. As mulheres fazem esse questionamento em torno dos 35 anos. Os homens podem passar por esse conflito um setênio para a frente, quando têm entre 45 e 50 anos.

Depois dos 42 anos, homens e mulheres começam a sentir o declínio das forças físicas. Muitos, no entanto, continuam mantendo o pique anterior. Há casos de exageros que terminam em rupturas, infartos ou estafas que levam a pessoa reavaliar a vida.
Na carreira, essa é uma fase em que se tem consciência de que motivação e entusiasmo são fundamentais. Por causa disso, o profissional que ocupa cargos de comando começa a delegar responsabilidades e a estimular a autoconfiança da equipe. A grande preocupação é administrar pessoas. Nessa fase também é possível perceber se o profissional iniciou seu caminho de autodesenvolvimento ou se ele enveredou pela biografia externa, o que fica claro quando se torna um tirano frustrado. Quanto mais autoridade exerce, menos liderança tem. Em torno dos 42 anos, o eu começa a se retirar aos poucos, iniciando pelo sistema metabólico/sexual/motor.

Aos 49 anos, a mulher tem a menopausa.
Entre os 49 e os 56 anos, o eu se retira do sistema rítmico (formado por coração e pulmões), e a partir dos 56 do neurossensorial. É quando vem o amadurecimento espiritual, resultado das vivencias da alma. A frase que diz que a vida começa aos 40 tem realmente uma razão de ser, já que é mais ou menos nessa faixa etária que temos a noção exata da identidade que procuramos a vida inteira. Aprendemos a dizer não às expectativas dos outros e tentamos ser autênticos. Os detalhes passam a não ter tanta importância – o que vale é o todo e a inter-relação dos fenômenos. Nessa fase conquistamos o dom da visão holística e conseguimos enxergar fatos distantes e ralacioná-los entre si.

Na carreira, seguimos administrando pessoas e nos preocupando com o desenvolvimento da equipe. Percebemos erros como oportunidades e incentivamos a criatividade do grupo. Executivos nessa fase agem com transparência, não seguem modismos e criam conceitos próprios. Eles enxergam a organização num contexto amplo e sabem antecipar-se a situações e desafios. “A partir dos 50 anos enxergamos os problemas de vários ângulos. Com o tempo, a intuição fica mais e mais aguçada”Fase inspirativa: Dos 49 aos 56 anosNo processo de perda da energia vital, o eu afrouxa a ligação com o sistema rítmico. Por isso, nessa fase, recomenda-se cuidado redobrado com os ritmos (dormir, comer e as horas dedicadas ao trabalho e ao lazer, por exemplo), pois eles trazem vitalidade. Na carreira, desenvolve-se a capacidade de enxergar os problemas de vários aspectos.

O profissional que está nessa fase reconhece que todos os caminhos acabam levando a Roma e, por isso mesmo, deixa que seus subordinados encontrem o próprio caminho. Tem consciência de que o sucesso futuro reside nos talentos. Prepara as pessoas para desafios e sente prazer em atuar como coach. Um profissional dessa faixa etária costuma trabalhar com perguntas e entende que os jovens têm direito de errar. Visualiza pontos estratégicos e deixa espaço para auto-realização. Administra o potencial estratégico e “do vir a ser” das pessoas e da empresa em que trabalha. Fase intuitiva: Dos 56 aos 63 anosMais de dois terços das obras da humanidade que resistiram ao tempo foram criadas por pessoas acima dos 60 anos.

Há grandes estadistas, compositores, escritores, pintores e outras celebridades que realizaram seus efeitos nessa faixa etária. À medida que envelhecemos, o eu emancipa-se e fica livre para criar. Perto dos 60 anos, os sentidos, que funcionam como janelas para o mundo exterior, começam a se fechar. Usamos óculos, a capacidade auditiva diminui, o paladar, o tato e o olfato ficam menos aguçados. Isso cria a possibilidade de uma viagem para dentro de nós mesmos, na qual poderemos encontrar nossa essência interior. Enxergamos que cada experiência por que passamos tem a ver com nossa identidade. Um profissional que tem mais de 56 anos de idade desenvolve visões de futuro, inspira as pessoas, é um exemplo de conduta ética, fala pouco e ouve muito.

Ele dá as diretrizes e deixa aos outros a execução das tarefas. Sabe aconselhar e administrar os potenciais espirituais da empresa, zelando por sua missão, seus valores e princípios. Enxerga tendências e dá respostas intuitivas e criativas para as necessidades futuras. Cada vez mais a vida se alonga e temos um período produtivo maior. No entanto, as pesquisas sobre pessoas com mais de 63 anos no contexto empresarial ainda estão sendo realizadas. Mas a experiência mostra que o processo de espiritualização se acentua com o tempo, tornando-nos cada vez mais hábeis em desvendar os mistérios que nos cercam.
Jair Moggi, escritor especializado em Recursos Humanos
picture by Michael Parkes

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...