29 de set. de 2007

O advogado do diabo


Considero o filme "O advogado do diabo", com Al Pacino e Keanu Reaves, como um dos mais interessantes que já assisti. 


É uma excelente metáfora da vida, um verdadeiro "chacoalhão" na maneira como enxergamos nossas prioridades e de como é fácil perder-se no meio do caminho. 


O filme retrata a carreira de um promotor bem sucedido que jamais perdeu um caso. Um jovem com uma carreira brilhante, casado com uma linda mulher que, aparentemente, tinha tudo para ser feliz. 


No entanto, no meio do caminho, ele recebe uma proposta para trabalhar em um escritório de advocacia. E, sem perceber, estava entrando em uma grande armadilha em que sua vida profissional e seus anseios pessoais seriam colocados em xeque. Podem ficar tranqüilos que não sou daqueles chatos que conta o filme para todo mundo. Vá hoje mesmo na locadora e pegue-o para o final de semana. 


Irá aprender muitas coisas valiosas para sua vida pessoal e profissional, principalmente sobre o perigo da vaidade. No filme, a vaidade é colocada de uma maneira muito sugestiva, cheia de sensualidade e maquiada da realização de nossos sonhos. Bem, se me permitem, eu diria que na vida real a vaidade é uma das maiores pedras que o ser humano precisa aprender a vencer. Um dos problemas é que ela é muito confundida com auto-estima e muitos vaidosos "de plantão" escondem-se atrás deste álibi. Não, vaidade não é auto-estima. 


Auto-estima é ter consciência de seu valor, reconhecer seus pontos fracos e fortes sem se abater com o que descobre. Acima de tudo é reconhecer seu lugar no mundo e seu valor neste espaço. A vaidade é a auto-estima que adoeceu ou mesmo um sinal de inferioridade. Quem é muito vaidoso, vangloria-se de tudo e tem sempre a necessidade de mostrar para os outros que foi ele(a) quem fez ou deixou de fazer, demonstra sua insegurança e deixa patente sua necessidade de chamar a atenção de quem o rodeia, não que desejar ser reconhecido seja algo ruim, absolutamente. Mas daí a fazer disso uma meta, acima do bom senso e do respeito a capacidade das outras pessoas, vai uma longa distância. No contexto profissional é necessário cuidar da imagem, da maneira como nos vestimos, como nos comportamos, como nos apresentamos ao mercado. 


É, sem dúvida, essencial que saibamos demonstrar nosso valor e despertar no mercado de trabalho uma atração por nossa capacidade produtiva, afinal disso depende nosso sustento. Os grandes problemas são os caminhos que, às vezes, escolhemos para fazer todos esses pressupostos se materializarem. 


A linha entre o marketing pessoal bem feito e a vaidade enrustida que aparece para todos é muito tênue. É preciso exercitar o equilíbrio entre o que desejamos mostrar e o resultado que queremos obter e a forma como vamos fazer isso e a impressão que vamos passar para os outros. É comum encontrar pessoas que somente falam de si em uma roda de bate papo, não se importam com os outros. Esquecem que nascemos com dois ouvidos e uma boca apenas. 


Há aqueles que se preocupam tanto em aparecer que esquecem que a melhor forma de aparecer é despertando nos outros a vontade de se interessar por nós. No marketing há uma premissa interessante para avaliar a qualidade de uma excelente propaganda: se alguém elogiar a forma como foi o vendido o produto ela não foi boa. Afinal, esse comentário é sinal que perceberam que houve uma propaganda. Uma proposta: peça a pessoas de sua confiança que tracem um perfil a seu respeito. Pergunte a elas como lhe enxergam. Pergunte quais são seus pontos fortes e fracos. Pergunte qual imagem você lhes passa. 


Não se assuste se em alguns casos o que elas responderem não corresponder a sua expectativa. É muito comum que a maneira como os outros nos enxergam seja diferente da forma como achamos que elas nos enxergam. Depois pense em uma frase, um slogan que sintetize sua imagem, sintetize você! Isso mesmo. Uma frase e nada mais. E depois peça a essas pessoas ( de preferência que sejam de diferentes áreas de sua vida) que digam uma frase que sintetize a forma como elas lhe vêem. 


Outra vez, não se surpreenda se o que ouvir não estiver congruente com o que você escreveu. A partir daí seu grande desafio vai ser manter o perfil que você descobriu, caso o aprecie, ou modifica-lo, caso não goste muito da imagem que passa para o mundo a seu redor ( é o mais provável). O objetivo não é nos moldar ao mundo, mas perceber que quando somos vaidosos temos a ilusão que o mundo deve se moldar a nós, que tudo deve ocorrer no nosso tempo e da forma como desejamos e sabemos que, na realidade, não é assim que a vida funciona! Voltando ao filme "O advogado do diabo", a frase que mais me chamou a atenção é: 
"Vaidade é meu pecado predileto!".
Ricardo Melo

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