30 de nov. de 2010

Hamilton Naki

Hamilton Naki, um sul-africano negro, de 78 anos, morreu no final de maio de 2005. 


A notícia não rendeu manchetes, mas a história dele é uma das mais extraordinárias do século 20. "The Economist" contou-a em seu obituário. Naki era um grande cirurgião. 


Foi ele quem retirou do corpo da doadora o coração transplantado para o peito de Louis Washkanky, em dezembro de 1967, na cidade do Cabo, na África do Sul, na primeira operação de transplante cardíaco humano bem-sucedida. É um trabalho delicadíssimo. O coração doado tem de ser retirado e preservado com o máximo cuidado. 


Naki era talvez o segundo homem mais importante na equipe que fez o primeiro transplante cardíaco da história. Mas não podia aparecer porque era negro no país do apartheid. O cirurgião-chefe do grupo, o branco Christian Barnard (foto abaixo), tornou-se uma celebridade instantânea. Mas Hamilton Naki não podia nem sair nas fotografias da equipe. Quando apareceu numa, por descuido, o hospital informou que era um faxineiro. Naki usava jaleco e máscara, mas jamais estudara medicina ou cirurgia.


Tinha largado a escola aos 14 anos. Era jardineiro na Escola de Medicina da Cidade do Cabo. Mas aprendia depressa e era curioso. Tornou-se o faz-tudo na clínica cirúrgica da escola, onde os médicos brancos treinavam as técnicas de transplante em cães e porcos. 


Começou limpando os chiqueiros. Aprendeu cirurgia assistindo experiências com animais. Tornou-se um cirurgião excepcional, a tal ponto que Barnard requisitou-o para sua equipe. Era uma quebra das leis sul-africanas. Naki, negro, não podia operar pacientes nem tocar no sangue de brancos. Mas o hospital abriu uma exceção para ele. Virou um cirurgião, mas clandestino. Era o melhor, dava aulas aos estudantes brancos, mas ganhava salário de técnico de laboratório, o máximo que o hospital podia pagar a um negro. 


Vivia num barraco sem luz elétrica nem água corrente, num gueto da periferia. Depois que o apartheid acabou, ganhou uma condecoração e um diploma de médico honorário. Ele nunca reclamou das injustiças que sofreu durante toda a vida. Este assunto foi matéria de quase todos os grandes jornais norte-americanos. Não se tem notícia de sua divulgação na imprensa brasileira. 
A versão em português foi extraída da página da Aliança Cooperativista Nacional - Unimed.

Um comentário:

Anônimo disse...

A imprensa brasileira se preocupa em "entreter" o povo, nunca informá-lo ou instruí-lo. Aos amigos interessados, existe um filme que conta a história de Haki. Não sei onde encontrar, mas é certo que nem as NETs da vida não programam.
Dudu

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