9 de dez. de 2007

Livro de receitas


Está na Bíblia: “Vamos comer e beber, pois amanhã morreremos”.

Não pretendo me ater às divagações etílicas, e sim às delícias da gastronomia.

E mais: quero tratar da arte de cozinhar para uma mulher. O ato de preparar uma boa comida (no sentido culinário da coisa) para um belo espécime feminino é uma arma de sedução tão poderosa quanto aquele olhar morteiro, aquele sorriso malicioso ou aquele cartão de crédito sem limites.


Aliás, sexo e gastronomia sempre caminharam juntos. São instintos básicos do homem que se relacionam. Duvida? Prova disso são as palavras que usamos para ambos os universos. Ou vai me dizer que só usa termos como “morder”, “esquentar”, “lamber”, “chupar” e “comer” só na sua cozinha ou na sua sala de jantar? Se disser que sim, você só pode ser o sobrinho-neto da Madre Tereza ou algum político do PT (que sempre é inocente).

Quando cozinhamos, mobilizamos os cinco sentidos humanos. Assim como quando fazemos amor. Relembre comigo: olfato, paladar, tato, visão e audição. O aroma tentador da cebola e do alho refogados; o cheiro provocante de uma mulher apaixonada. O sabor de um vinho brincando na boca; o gosto de uma boca brincando na nossa. A textura ardente de uma maçã verde; os contornos macios de um seio maduro. A comida disposta no prato; a mulher disposta na cama. O som da comida que se faz; o som do amor que se produz.

Ouvi dizer, inclusive, que em sânscrito – quem for especialista me corrija, por favor – existe um único termo para definir as palavras “emoção” e “fome”. Até na iconografia cristã isso aparece. Se pegarmos o episódio da Última Ceia, em que Cristo divide o pão com os apóstolos, percebemos que Ele, ao mesmo tempo, pratica um ato culinário e de amor. Também em Jesus, comida e amor são inseparáveis. Divina sabedoria.

Por falar nisso, já dizia o poetinha maior Vinicius de Moraes: “Para viver um grande amor, conta pontos saber fazer coisinhas, ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, filés com fritas – comidinhas para depois do amor”. Se a culinária é infalível no “antes” (com o pacote completo, é claro: você de mangas arregaçadas, taça de vinho ao lado e a mesa posta, à luz de velas), o que não dirá no “depois”, em que saciamos, dessa forma, ambas as fomes. A comida (no sentido culinário da coisa, repito!) também é ótima no “durante”. Mickey Rourke e Kim Basinger não me deixam mentir.

O fato é: mulher adora homem que sabe cozinhar. Hoje já faz parte do charme masculino e é tão galanteador quanto abrir a porta do carro para ela ou pagar a conta do restaurante. Se você não sabe tocar violão, recitar poemas, não tem um Porsche e nem se parece com o Brad Pitt, saber cozinhar é uma ótima pedida para despertar o interesse daquela gata ou, então, para iniciar um papo promissor.

“Esse cabernet seria perfeito para acompanhar o fondue que eu preparo”;
“Hum... esse paillard de filé ficaria ótimo com o meu risotto di formaggi!”.
E se você ouvir como resposta: “Nossa, você cozinha?”, ela mordeu a isca.
Só lhe resta perguntar: — Na sua cozinha ou na minha?
Samuel Swerts
Picture by Loran Speck

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