O tempo passa depressa para uns e devagar para outros. Depende sempre do ponto de vista. Para quem começou a vida há poucos anos, o tempo é lento, lerdo, demorado; para quem passou da metade, o tempo é mais depressa, urge, voa. No balanço, que a vida é curta, não há dúvida. O tempo tem uma seqüência ordinária, que a vida não tem. Ele vai passando, ela anda em círculos. Ele é linear, ela vai e volta, às vezes sem rumo, mas caminham lado a lado: nenhum dos dois pára de passar, nem a vida, nem o tempo. Às vezes, o tempo certo demora a chegar; às vezes, não chega nunca; às vezes, chega e o interessado nem nota, deixa rolar.
Como naquela história do cavalo que passa arreado. Tem quem diga que ele só passa uma vez, tem quem acredite que as chances se repetem. O cavalo passaria arreado de novo. É como perder o ônibus, que demorou tanto. Depois vem outro. Pode demorar menos ou demorar mais, mas vem. Nem é possível ter muita certeza se há um tempo para cada situação. No Eclesiastes está escrito que sim. Tempo de nascer e de morrer, tempo de amar, tempo de plantar e de colher. Difícil, certamente, é acertar o tempo de um e o tempo de outro, a hora certa.
Há quem queira colher sem plantar, há quem queira plantar e não tem mais tempo ou chance de colher. No meio dos erros e dos acertos a vida vai passando. Há tempos certos, quase exatos, como as estações, como as plantas.
Um exemplo é a jabuticabeira. Primeiro, ela demora muito para produzir seus frutos, a ponto de a sabedoria popular exagerar dizendo que “quem planta não colhe”. Depois, quando dá os frutos saborosos, eles passam muito depressa do ponto. Se não forem colhidos logo, apodrecem, murcham, caem pelo chão. Como o cavalo que passou arreado e, quando menos se espera, lá vai ele, ao longe, fazendo poeira. Tarde demais. A jabuticabeira é demorada, a jabuticaba é depressa.
Há tempos que são marcados na folhinha, têm data certa. Natal, por exemplo, tem tempo certo; espírito de Natal também tem tempo certo. Espírito de Natal vem com força, é bom, saboroso, suculento, doce e derramado, como as jabuticabas. Mas, como a fruta, dura pouco, passa depressa, porque a vida teima em tornar ao de sempre. O espírito fraterno, que vem com força, vai com pressa. E todo mundo volta a ser egoísta, a brigar no trânsito, a perder a paciência, a furar a fila, a pecar por pensamentos, palavras e obras. Natal é tempo que vai e volta. Todo ano é possível lembrar do tempo do nascimento, vida e morte de Jesus, o revolucionário filho de Deus, que ousava pregar um mundo melhor. Fez discípulos e seguidores e deixou marcas profundas, encarnando a luta do bem contra o mal.
Se o final foi ou será feliz, o tempo ainda não respondeu. Houve outros revolucionários, em outros tempos, com melhor ou pior sorte. Cada um teve seu tempo. Outros natais chegam, ou seja, outras oportunidades, ainda que demorem. Ao longo de uma existência normal, há vários natais, várias oportunidades. Hoje, por exemplo, é Natal. É possível sorvê-lo. Aliás, é preciso sorvê-lo, como uma chance única que chegou novamente. O tempo da jabuticabeira, que é demorada, com o sabor da jabuticaba, que é depressa. Feliz Natal!
Maurício Lara
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