O legado de Lennon é agora mais relevante que nunca. O governo de Nixon espiou-o e tentou deportá-lo, tudo porque se opunha à guerra do Vietnam. Os paralelismos com o programa de escutas telefónicas não autorizadas levado a cabo pela administração Bush, juntamente com a participação do Pentágono na espionagem a nível nacional e as prisões massivas de imigrantes são arrepiantes, e as lições que tudo isto apresenta são vitais.
Yoko Ono concebeu a torre da paz há 40 anos, no começo da sua relação com Lennon. Ela cresceu no Japão e sobreviveu ao bombardeamento de Tóquio na Segunda Guerra Mundial. Contou-me o seguinte: "Graças ao que passei durante a Segunda Guerra Mundial, tenho gravado o terrível que é viver uma guerra".
Yoko continuou: "Ocorreu-me construir uma torre luminosa, e a ideia encantou John, um farol que me surge de vez em quando. Foi na altura em que me convidou, em 1967...era a primeira vez que me convidava para ir a sua casa. Pensei que haveria uma festa ou coisa parecida, mas não, foi um dia muito tranquilo. E disse-me: ' Bom, na realidade convidei-te porque queria saber se podes construir o farol no meu jardim', ao que lhe respondi: 'Oh, querido, não, não. É apenas uma ideia conceptual. Não sei construir nada', e deu-me vontade de rir. Mas foi então, há 40 anos, quando ele quis a sua torre luminosa".
Há quarenta anos, o jovem casal foi-se envolvendo cada vez mais no movimento contra a guerra do Vietnam. O FBI, às ordens de J. Edgar Hoover, dedicou imensos recursos para atacar as pessoas críticas, que na sua maioria exerciam o seu direito à dissidência de forma perfeitamente legal. Tudo isto ficou conhecido mais tarde como COINTELPRO, o programa de contra-espionagem do FBI, que durante décadas espiou grupos e organizações dos EUA, infiltrando-se e interferindo nas suas actividades.
Lennon era um pacifista na tradição de Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr. Enquanto o movimento anti-guerra ia crescendo na sua capacidade de militância, Lennon e Ono casaram-se e usaram a lua-de-mel como um apelo público à paz. Decidiram passar uma semana na cama, no que chamaram um "Bed in for Peace" ("Na cama pela Paz"). Conscientes de que a sua ação atrairia os meios de comunicação de todo o mundo, os recém-casados asseguraram-se de que o seu apelo à paz seria ouvido e que todas as fotografias tiradas tinham de incluir a palavra "Peace" (Paz). Lançaram uma campanha de posters e cartazes publicitários, usando a frase "The War is Over-If you want it ("A guerra acabou - se tu quiseres"). Estas ações eram criativas, leves e descontraídas, mas claramente ameaçadoras para a administração Nixon.
Foram estabelecendo uma relação mais estreita com o movimento anti-guerra dos EUA e, em 1971, planearam uma grande tournée de concertos para conquistar votos que ajudassem a derrotar Nixon. Nixon e Hoover intensificaram a campanha para neutralizar Lennon.
O FBI aumentou a vigilância e o cerco a Lennon, e em seguida tratou de deportá-lo. As atividades de Lennon foram também seguidas pela CIA, como revelaram documentos secretos recentemente desclassificados. O senador ultra-conservador Strom Thurmond escreveu um memorando secreto em que advogava a deportação de Lennon, enviou-o ao procurador-geral dos EUA e deu-se início ao processo. Lennon escapou à tentativa de deportação e em 1980, com o lançamento do disco Double Fantasy, voltou a demonstrar a sua brilhante criatividade, mas foi assassinado uma semana depois.
Neste momento, sucedem-se as revelações sobre as práticas de vigilância e escutas telefónicas levadas a cabo pelo atual governo. A companhia de telecomunicações norte-americana Verizon acaba de revelar ao Congresso que forneceu ao governo registos de clientes seus por mais de 94.000 vezes desde 2005. A União pelas Liberdades Civis dos EUA (American Civil Liberties Union) descobriu a conivência entre o Pentágono e o FBI para contornar a lei a fim de obter informação financeira de cidadãos norte-americanos.
Amy Goodman
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