Ao final de cinco meses de investigações e debates, a Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes, por uma expressiva maioria, decidiu recomendar a destituição de Richard Nixon da presidência dos Estados Unidos. Desde a ratificação da Constituição americana, em 1789, uma dúzia de altos funcionários federais sofreu processo de impeachment e apenas um presidente, Andrew Johnson, em 1868, chegou a ser processado. Mais de um século depois, Nixon dava a impressão, na semana passada, de um presidente em frangalhos.
Enclausurado, imobilizado na Casa Branca, acessível apenas a alguns raros assessores, invisível para a população americana, ele parecia sem rumo e sem estratégia para enfrentar seus adversários. As próprias sessões transmitidas por TV da Comissão da Justiça, com sua longa ladainha de acusações contra o presidente, já representaram um severo golpe para o chefe da Casa Branca.
O caso, que ficou conhecido como Watergate, teve início na madrugada do dia 17 de junho de 1972. A porta que dava acesso ao Comitê Nacional do Partido Democrata foi arrombada. Lá dentro, cinco homens usando luvas cirúrgicas carregavam máquinas fotográficas e pequenos transmissores. O objetivo da invasão, descoberto mais tarde, era instalar aparelhos de escuta eletrônica nas salas. Um ex-assessor do presidente disse que ele vinha gravando todas as conversas na Sala Oval da Casa Branca desde 1971.
Durante as investigações, foram divulgadas ao público algumas conversas de Nixon, repletas de palavrões, o que fez ir ao chão a aura de integridade da presidência. No total haviam 4.000 horas de gravação, mas o presidente usou de todas as manobras possíveis para preservá-las. E negou, até o último momento, que tivesse algum conhecimento sobre a invasão, e que tenha tentado obstruir o caminho dos investigadores. Mas, por fim, surgiu um material que provava exatamente o contrário. Barry Goldwater, um senador super-conservador, foi quem deu o toque a Nixon, em 7 de agosto de 1974, de que o impeachment estava prestes a ser aprovado pelos líderes do Congresso. Nixon renunciou no dia seguinte.
O ex-presidente, então, preparou uma maneira de restaurar, o máximo possível, sua vida pública. Em seu livro autobiográfico “Na Arena”, um dos nove que escreveu, ele descreve seu drama: “Ninguém havia ido tão alto e caído tão baixo”. Durante os anos em que foi presidente, Nixon visitou Pequim, foi para Moscou, depois para Paris (onde fez o acordo de cessar-fogo com o governo do Vietnã). Em 1992, pediu e conseguiu, sem grandes problemas, dinheiro para ajudar a salvar a nascente democracia na Rússia. Aproveitou para fazer as pazes com a imprensa.
Sua vida, dali em diante, foi confortável, mas sem luxos. Para não dar margens a especulações sobre a origem do seu patrimônio financeiro, durante anos ele recusou qualquer cachê oferecido por seus discursos, diferente de colegas que tiveram nessa prática uma boa fonte de renda. Nos últimos anos, o presidente gostava de caminhar pelas redondezas de onde morava, em Nova York, enquanto ainda estava escuro, e passava o resto do dia na biblioteca, lendo e escrevendo. Nixon morreu em abril de 1994, aos 81 anos, em conseqüência de um derrame cerebral.
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