Não lembro de nenhum caso de homicídio que tenha tomado tanto espaço nos noticiários como o de Isabella Nardoni. Não consegui ler nada a esse respeito, troquei sistematicamente de canal, fiquei apenas nas manchetes, nos títulos garrafais, nas chamadas. Os detalhes da crueldade, pior contra crianças, me geram ojeriza mais que espírito de vingança.
Acredito na lei do Karma, na lei de causa e efeito que partiu de outras vidas e se alongará por muitas outras. O castigo virá do alto, implacável e sombrio, muito mais certeiro e apropriado de quanto eu possa provocar. Meu tempo é precioso para desperdiçá- lo em detalhes de um crime. Viro a página, finjo que não existe, assim como não olho os acidentes com que, vez ou outra, cruzo no caminho com multidões assistindo embasbacadas à remoção de vítimas. Não olho de propósito um espetáculo macabro, não quero levar para casa lembranças tristes, cenas horripilantes.
Acrescentaria tristeza lá onde procuro felicidade, daria mais razões aos meus pesadelos. Pra quê? Quero pensar num mundo bonito, numa obra divina que só não é melhor porque a emporcalhamos com sentimentos rasteiros. Fico eventualmente mais atento à expressão dos espectadores dos desastres. No exato momento em que devoram as cenas, abrem os olhos, esquecem do pudor, entregam por inteiro o que se esconde no fundo de suas almas perturbadas. Ignorância, confusão, feras, lagartos, urubus.
Pra que se ligar a uma desgraça? Fosse pra consolar. Fosse para prestar solidariedade, mas reconheçamos é por uma patológica curiosidade. A mesma de horror que levava multidões à praça pública para ver o carrasco descer o cutelo sobre o condenado, ou ainda para admirar um herege se contorcer entre as chamas da fogueira. Que prazer é esse que não me atrai? Como defini-lo. Fome de desgraça, compulsão ao sadismo, necromania, perversidade ancestral? O que mais?
Acredito na lei do Karma, na lei de causa e efeito que partiu de outras vidas e se alongará por muitas outras. O castigo virá do alto, implacável e sombrio, muito mais certeiro e apropriado de quanto eu possa provocar. Meu tempo é precioso para desperdiçá- lo em detalhes de um crime. Viro a página, finjo que não existe, assim como não olho os acidentes com que, vez ou outra, cruzo no caminho com multidões assistindo embasbacadas à remoção de vítimas. Não olho de propósito um espetáculo macabro, não quero levar para casa lembranças tristes, cenas horripilantes.
Acrescentaria tristeza lá onde procuro felicidade, daria mais razões aos meus pesadelos. Pra quê? Quero pensar num mundo bonito, numa obra divina que só não é melhor porque a emporcalhamos com sentimentos rasteiros. Fico eventualmente mais atento à expressão dos espectadores dos desastres. No exato momento em que devoram as cenas, abrem os olhos, esquecem do pudor, entregam por inteiro o que se esconde no fundo de suas almas perturbadas. Ignorância, confusão, feras, lagartos, urubus.
Pra que se ligar a uma desgraça? Fosse pra consolar. Fosse para prestar solidariedade, mas reconheçamos é por uma patológica curiosidade. A mesma de horror que levava multidões à praça pública para ver o carrasco descer o cutelo sobre o condenado, ou ainda para admirar um herege se contorcer entre as chamas da fogueira. Que prazer é esse que não me atrai? Como defini-lo. Fome de desgraça, compulsão ao sadismo, necromania, perversidade ancestral? O que mais?
Será que o sofrimento dos outros pode gerar prazer? Ou é a forma de cultivar o instinto justiceiro que queremos expropriar de Deus? Isabella está morta. Pior que ela, nesse momento, aposto que estão seu pai e sua madrasta, condenados a uma vida que perdeu o sentido de ser. Haja piedade, meu Deus.
Vittorio Medioli
Um comentário:
Muito feliz este comentário a respeito de mais uma tragédia a qual muitos de nós nos deliciamos .......
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