21 de abr. de 2008

Pensar globalmente nunca significou pensar globalizadamente

Dia e noite, recebemos um bombardeio constante de informações. A mídia transmite doses maciças de notícias e de entretenimento, quase sempre de maneira que diferenciar uma coisa da outra seja quase impossível.

O show vira notícia e a notícia se torna o show da hora. A fronteira entre a realidade e a fantasia midiática é tênue, subliminar, propositadamente maquiada. Quando se pensa nisso, o sistema se vê questionado.

A finalidade original dos meios de comunicação - informar - se perde num emaranhado de interesses corporativos. É no que dá reduzir o planeta a um grande mercado...Acredito que pensar globalmente nunca significou pensar globalizadamente. Ter um olhar global significa (ao menos para mim) ter uma visão macro, além dos limites geográficos, sociais, políticos, raciais e religiosos. É pensar como cidadão do mundo. Isso implica em acesso amplo a todo tipo de informação com um mínimo de credibilidade, isenção e imparcialidade.A mídia selvagem e bobalizante, porém, tem nossa atenção permanente, garantindo uma quase unanimidade informativa que não nos salva da ignorância.

Nos empanturra de tudo, menos de conteúdo isento. As exceções, no Brasil, ficam por conta das rádios e televisões educativas, estatais, que ainda se prendem ao conceito de serviço público e mantêm uma produção livre de artimanhas publicitárias.Mas, quando os chamados reality shows (que de reais só têm o faturamento) passam a se tornar parâmetro para a celebridade, ou quando o ciberespaço abriga uma "segunda vida" (o jogo on-line Second Life), em que as pessoas virtualizam uma realidade imaginária, é bom tocar o alarme da consciência e da função de ferramentas como a TV e a Internet.

Seria ingênuo imaginar um mundo no qual todos estivessem bem informados sobre tudo. Está além da capacidade humana. Mas, a interferência estratégica feita sistematicamente nos noticiários, por exemplo, afeta diretamente a nossa cidadania. E as pessoas (sejam quem forem!) que decidem o que, quando e como devemos ser informados, reduzindo e espetacularizando as notícias, são os agentes desse ataque à inteligência; à nossa e à delas próprias.

A fronteira entre a realidade e a fantasia midiática é tênue, subliminar, propositadamente maquiada. Filtrar tudo o que nos cai diante dos olhos e nos ouvidos é, nestes tempos, uma tarefa estressante. A chamada fadiga da informação pode nos transformar em auto-excluídos, em pessoas voluntariamente afastadas de tudo o que é atualizado em muitas áreas da atividade humana. E isso, além de abortar iniciativas pessoais, desestimula, desagrega, desmobiliza e desmonta todo tipo de projeto coletivo para a sociedade.

Talvez, a cura para o uso canibal da grande mídia venha a surgir dela mesma, quando essa negação de suas origens comece a comprometer sua performance. De tanto mentir estrategicamente, cairia perigosamente o índice de sua eficácia como veículo de vendas; tanto de produtos quanto de idéias. Nosso horizonte interativo, que surge com novidades a cada instante, não pode ficar refém de interesses desumanizadores. Se é mesmo verdade que cada homem ou mulher tem seu preço, seria muito saudável que a sociedade buscasse uma valorização urgente do nosso imaginário e da nossa dignidade.
J. Olímpio

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