2 de jun. de 2008

Ode à beleza

Não tens corpo, nem patria, nem familia,
Não tens curvas ao jogo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te roi.
Es a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte ,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim.
És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem patria, sem familia,
Tudo reposa em paz no teu regaço.
Miguel Torga

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...