Existem mulheres que adoram receber os amigos. A facilidade com que organizam um jantar é invejável. Tudo funciona à perfeição e quando as pessoas vão embora elas estão felizes, já pensando no próximo.
Não é o meu caso. Porém, às vezes me dou conta de que não é possível ter tantos amigos e nunca convidá-los para nada; aí, tiro forças do meu peito e começo a sofrer.
Primeiro, com a lista. Quantos vou convidar? Teria que ser uns 30, mas isso seria demais para mim; decido dividir em dois jantares de 15. Abro a agenda, escolhendo as pessoas de quem mais gosto. Em seguida, tenho que ver se elas vão combinar umas com as outras. Lembro que A não se dá com B, que se chamar C não posso convidar D, pois eles tiveram um caso no século passado, essas coisas. É a primeira das complicações. Depois disso, começo a telefonar. Um não pode porque tem que acordar cedo no dia seguinte; o outro vai viajar e não garante se voltará a tempo; a outra fez uma plástica e não sabe se a cara já vai estar desinchada. Refaço a lista e em dois dias o problema fica resolvido. O primeiro deles.É hora de pensar na comida.
Já sei que um não come carne, é vegetariano, e a outra tem alergia a camarão. Decido então por uma massa, um prato de bacalhau e uma salada. A sobremesa vai ser comprada pronta, mas vou ter que servir várias frutas, pois a maioria está de dieta. Aí começa o problema das bebidas. Como era bom o tempo em que todo mundo bebia uísque e continuava com o mesmo copo durante e depois do jantar. Agora tem os copos e os vinhos; daqueles eu não entendo nada, e sei que alguns gostam de beber vinho, sendo que uns preferem o branco, outros o tinto.Vou a um fornecedor que me indicam e estipulo que nenhuma garrafa deve custar mais de 60 reais.
Mas de quantas vou precisar? E quem sabe? Como fui recomendada por um bom cliente, o vendedor me alivia: que eu leve uma caixa de cada um e o que sobrar posso devolver.Chega o dia e tenho que sair para comprar as flores, ir ao cabeleireiro, explicar à empregada como servir e em que travessas etc. etc. Às 7 horas da noite, a vontade é de ter um mal súbito, mas, na impossibilidade, tomo um tranqüilizante – o primeiro. Será que a comida vai dar? E os salgadinhos, meu Deus, os salgadinhos? Saio correndo para um supermercado e compro pacotes e pacotes de nozes, amendoins, damascos secos, que vou espalhando pela casa.
Isso depois de catar nos armários as cumbuquinhas certas, que, claro, não sei onde estão. E sempre sofrendo, sofrendo muito.Chega o primeiro casal e, como não tenho marido nem copeiro, pergunto o que eles gostariam de beber. Começa, então, a abertura dos vinhos. “Tinto ou branco?”E lá vou eu, tendo que ser gentil, alegre, agradável, lutando com o saca-rolhas. É claro que existem também os que bebem uísque ou vodca ou gim-tônica, bebidas que preciso ter de prontidão, fora a club soda, a água tônica normal e a light e o gelo, que não pode faltar.
Cruzes!Acaba dando tudo certo, todo mundo sai dizendo que adorou, quando é que vou fazer outro – ai! –, e eu, que não bebi uma só gota de álcool nem comi uma só migalha de nada, me espicho no sofá, tiro os sapatos e peço à empregada para me preparar um uísque enorme, com bastante gelo, enquanto olho para o teto repetindo: “Nunca mais, nunca mais”.Penso nas mulheres que fazem isso com a maior facilidade, com a maior alegria, que adoram ter gente em casa e se divertem muito quando recebem. E morro de inveja delas.
Danuza Leão
Um comentário:
gostei desse blog.gostei de vir aqui. Parabens
Maurizio
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