O ódio deixa sinais inequívocos no cérebro. É o que mostra uma pesquisa inglesa que mapeou as áreas cerebrais ativadas em voluntários enquanto viam fotos de desafetos. Os resultados mostram que existe um padrão único de atividade no cérebro em um contexto de ódio e que, embora bem diferentes, esse sentimento e o amor romântico ativam duas estruturas cerebrais em comum.
Os pesquisadores analisaram a atividade cerebral de 17 homens e mulheres que olhavam fotos tanto de pessoas odiadas – geralmente um ex-amor ou um adversário do trabalho – quanto de conhecidos neutros. O efeito provocado pelas fotos dos desafetos foi a ativação de um conjunto de áreas que formam o chamado circuito do ódio.
“O estudo mostra que o ódio certamente tem um efeito na atividade cerebral”, diz à CH On-line Semir Zeki, do University College London (Reino Unido). “Esse sentimento tem origem no cérebro, que é o centro de nossas emoções e da consciência”, completa o pesquisador, autor principal do artigo que apresenta os resultados do estudo, publicado em outubro na revista PLoS One.
Algumas áreas que pertencem ao circuito ativado pelo ódio estão ligadas ao planejamento e à execução de movimentos – o córtex pré-motor – e à previsão das ações de outras pessoas – o pólo frontal. “Nossa hipótese é que a visão de uma pessoa odiada mobilize o sistema motor para uma possibilidade de ataque ou defesa”, avalia Zeki. “A previsão da ação do outro também seria importante no confronto com uma pessoa odiada.” Outra estrutura envolvida no planejamento motor e ativada pelo ódio é o putâmen direito, também estimulado pelos sentimentos de medo, desprezo e repugnância.
O padrão cerebral identificado pelos cientistas é distinto do relacionado a emoções como medo, perigo e agressividade, embora haja uma parte do cérebro associada à agressividade que é ativada por todos esses sentimentos. Amor e ódio Os pesquisadores já haviam realizado estudos semelhantes em relação ao amor romântico. A comparação entre os efeitos do ódio e do amor no cérebro mostrou que duas áreas – o putâmen e a insula – são ativadas pelos dois sentimentos. Zeki destaca que amor e ódio, embora aparentemente antagônicos, se confundem e interagem em muitos momentos.
“O dia-a-dia providencia exemplos em que essas conflitantes emoções se entrelaçam”, diz. E exemplifica: “Se um companheiro nos trai, o ódio resultante é provavelmente muito mais intenso do que se tivéssemos sido traídos por um estranho”. Uma diferença encontrada entre os efeitos provocados pelos dois sentimentos foi o padrão de desativação de algumas regiões cerebrais. No caso do amor, zonas do córtex cerebral relacionadas ao julgamento e à razão são desativadas, o que faz com que o indivíduo seja menos crítico e exigente em relação à pessoa amada. Já em situações de ódio, somente uma pequena região do córtex frontal fica desativada.
“O padrão de desativação encontrado foi muito mais restrito em comparação ao observado nos estudos sobre o amor”, afirma Zeki. “A desativação provocada pelo ódio pode estar relacionada a uma mudança de atenção: o indivíduo pára de se preocupar com o espaço exterior e passa a ter uma experiência interna associada com a ansiedade”, explica. Os pesquisadores ressaltam que os resultados dizem respeito ao ódio a um indivíduo. Eles pretendem no futuro estudar os efeitos cerebrais do ódio contra grupos de pessoas, seja em função da raça, do gênero ou da opção política.
Tatiane Leal
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