Que queres, menino triste? que me páras no farol? Que sonho escuro que viste, Pois teus olhos não têm sol?
Tua madrasta é a rua, com seu cimento gelado. E de noite, nem a lua te dá um olhar de trocado…
Quem te largou neste mundo, para catares esmola? Se roubas, és vagabundo… Mas quem te roubou a escola?
E quem te arrancou da mão um brinquedo e uma esperança? Quem te tirou, sem perdão, o direito a ser criança?
Tua escola é a calçada, que freqüentas todo em trapos. Se o dia não rende nada, logo apanhas uns sopapos.
Menino, no olhar me imploras muito mais do que um favor. Querias que tuas horas fossem preenchidas de amor!
Mas o que vês são os carros! Passam depressa, sem dó. Os sorrisos te são raros. O Brasil te deixa só.
Minha poesia já chora: os meninos são milhões. Será que o povo de agora perdeu os seus corações?
Vá correndo, minha Musa pedir ao homem tão duro, que das riquezas abusa, que reparta seu futuro!
Poderá haver perdão, dizei-me vós, Senhor Deus, para a megera nação que assim trata os filhos seus?
E a Musa conclama alto, com resquícios de esperança: Brasil, não jogues no asfalto A alma de uma criança!
Dora Incontri
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