13 de jul. de 2009

O que é uma emoção? Efeitos das drogas sobre o processo emocional


A emoção é um campo de estudo complexo. Apesar de todos nós sabermos dizer quando estamos emocionados é extremamente difícil para qualquer um de nós responder a pergunta: “o que é uma emoção?”. 

Os cientistas definem emoção como um sistema que envolve variáveis subjetivas, fisiológicas, expressivas e comportamentais. Isso quer dizer que uma emoção envolve uma experiência subjetiva que apenas o sujeito dela pode testemunhar, um conjunto de reações fisiológicas que se pode medir por instrumentos específicos, um padrão de expressão facial e corporal que se pode observar de fora e comportamentos de aproximação, fuga, ataque, paralisação, verbalização, etc. que também podem ser observados objetivamente. 

O que é um processo emocional? A emoção também se caracteriza como um processo. Um processo envolve uma sucessão de ocorrências, um desdobramento de acontecimentos no tempo. Como processo, a emoção se distingue de um estado, ou seja, de um momento desse processo. Sendo assim, o processo emocional se refere a um conjunto de transformações ao longo do tempo, que ocorrem devido a mudanças no modo de pensar e perceber em consequência do que o indivíduo faz na situação emocional. O tempo de elaboração desse processo emocional será proporcional à intesidade da situação vivida e à complexidade da situação emocional (as coisas que estão em jogo). Mas o que é isso que o indivíduo faz e que transforma seu estado emocional num processo? A pessoa emocionada faz várias coisas, conscientes e inconscientes. Ela tenta regular seu estado de modo a se sentir com controle sobre o mesmo. 

Assim, ela pode tentar olhar o que está acontecendo por outro ângulo, de modo a se sentir menos abalada, ou pode alimentar ainda mais o ponto de vista que já havia assumido, para se sentir mais forte. Pode procurar outras pessoas para compartilhar e pedir apoio e pode também tentar alterar a situação objetiva que lhe iniciou o processo emocional. A pessoa também pode fazer esforços para controlar seu estado corporal, pode respirar mais profundamente, pode tentar relaxar seus músculos, pode tentar se distrair para não pensar mais na situação emocional. Todos esses esforços se desdobram no tempo e acarretam, na medida de seu desenvolvimento, mudanças na dinâmica do processo emocional. É como uma dança de acoplamentos entre o sujeito e a situação emocional, de modo que a cada instante o estado emocional se altera em função de mudanças no modo de interpretar, de sentir, de agir, e no próprio ambiente físico e social em que a pessoa está inserida. Que fenômeno magnífico é o processo emocional! E como depende dos esforços que o indivíduo realiza para entender e lidar com o que está sentindo! Assim, vemos a importância de se poder passar pelo processo emocional e descobrir diferentes formas de reconhecê-lo, entendê-lo, suportá-lo e superá-lo. 

Mas o que acontece em relação às drogas, entendidas aqui como produtos químicos, naturais ou sintéticos, não prescritos e utilizados com o objetivo de alterar estados de consciência? Como as drogas afetam os estados emocionais Ocorre que quando as drogas são utilizadas para lidar com estados emocionais, substituem todo esse conjunto de esforços que constituem a essência do processo emocional. É como se todo o processo de interpretar, encontrar novos ângulos, descobrir como suportar o fervilhar interno de imagens e sensações, não precisasse mais existir. Com um baseado, uma aspirada de coca, uma “bala”(comprimido de ecstasy), alguns goles ou qualquer outro produto que altere meu estado de consciência na direção que eu desejo, poder-se-ía “abreviar” o processo. O efeito desta solução é drástico, pois destitui o indivíduo da posição de ator no cenário emocional. Mais devastador ainda é se isso ocorre no período de desenvolvimento em que o indivíduo amadurece e constrói as estruturas e recursos para o manejo emocional. 

Aquilo que aparentemente o liberta do sofrimento é precisamente aquilo que o vai aprisionar, já que atrofia as ferramentas de que precisa para enfrentar suas próprias emoções. Ou seja, desenvolve-se a rotina de usar alguma droga para manejar sentimentos difíceis. A discussão sobre as drogas assume, em geral, o caminho da conscientização dos efeitos químicos sobre o corpo e a mente. Raramente se discute o efeito das drogas sobre o processo emocional. Quando alguém passa por um conflito, como uma discussão com alguém significativo, normalmente existe um tempo pelo qual o processo emocional se desdobra, em que a pessoa sofre e tenta encontrar formas de ver e pensar que representem a melhor solução para o conflito. Às vezes se vai dormir ainda em conflito e acorda-se no dia seguinte com novas imagens e sentimentos a respeito do mesmo. 

Com o tempo e sem drogas, o indivíduo sucede diferentes modos de sentir e pensar que fazem parte do processo emocional. Diferentes estados emocionais se fazem seguir nesse processo. Essa é a essência do processo emocional: o suceder de estados que encaminham o indivíduo para a superação e manejo de seus conflitos e experiências com o mundo. As drogas interrompem esse processo e dão ao indivíduo a ilusão de que superou o conflito. Na verdade, o que temos foi a perda de autoria sobre a solução e dissolução do processo emocional. 
Maurício Bastos

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