Ela está presente em todos nós e é encarada como algo ruim. Mas é possível tirar proveito desse sentimento para evoluir, e sem prejudicar ninguém
Conta uma antiga fábula que, depois de muito fugir de uma cruel serpente, o vaga-lume se rendeu, pedindo apenas para que ela lhe respondesse três perguntas, antes de devorá-lo.
Um pouco relutante, mas satisfeita por mostrar sua superioridade diante da presa, a serpente aceitou a proposta. Para começar, o inseto quis saber se fazia parte da cadeia alimentar de sua perseguidora.
Rapidamente, ela respondeu que não. Percebendo que não se tratava de uma questão alimentar, o vaga-lume tentou puxar pela memória algo pessoal. No entanto, não se recordou de nenhum conflito entre eles. Questionou, então, se já havia feito algum mal à cobra. Ela balançou a cabeça negativamente. Confuso e sem entender o que se passava, ele perguntou, por fim, o que fazia a serpente caçá-lo com tanta insistência e ódio. A resposta foi objetiva. "É que não suporto vê-lo brilhar", disse. Essa simples história retrata com clareza um sentimento conhecido por todos nós: a inveja. Afinal, quem é que nunca se sentiu incomodado com o sucesso alheio, desejou estar no lugar de outra pessoa ou possuir algo que não era seu? E mais que isso, qual de nós nunca notou (e temeu!) olhos invejosos diante de um momento feliz que estava vivenciando? "A inveja faz parte da natureza humana.
E, por mais que as pessoas a evitem e sintam vergonha de admiti-la, é preciso reconhecer sua ação em nossas vidas e, assim, encontrar uma forma de trabalhá-la", ressalta a terapeuta transpessoal Cida Medeiros, de São Paulo. Olhando para dentro Uma das principais questões acerca da inveja é a competitividade. Apesar de esse conceito ser um velho conhecido dos seres humanos - antes ligado a questões importantes, como a sobrevivência - atualmente, sua atuação é muito mais intensa e abrange as mais diversas áreas.
"A cultura moderna prega padrões profissionais, estéticos e até pessoais que levam as pessoas a competirem o tempo todo, sem nem sequer se dar conta disso. E competição leva à comparação. Esse é o ponto de partida para muitas situações em que a inveja figura", comenta Cida Medeiros. O raciocínio é lógico: quando comparamos duas ou mais pessoas, alguém termina em posição de desvantagem. E é aí que, ge- ralmente, pinta aquele incômodo per- sistente, quase que como uma voz que nos estimula a cobiçar o trunfo do outro. No início, a coisa é branda: a gente re- conhece as qualidades dele e até lamenta por não ser daquele jeito.
Existem casos, porém, em que a inveja toma proporções tão grandes que cria o desejo de destruir o ser invejado. Aí, aparecem aquelas situações tí- picas. Sabe aquele cara que vive caçando defeitos em você e espa- lha boatos maldosos por aí? Pois é, tudo pode ter começado em um mo- mento no qual você se destacou. Por isso, um dos principais antído- tos contra a inveja mora dentro de cada um de nós. É a autoestima. Afinal, quem se conhece bem consegue identi- ficar suas virtudes e habilidades e não perde de vista seu valor. Sobra então, pouco espaço para o sentimento de in- ferioridade, grande fomentador da dor de cotovelo. "É im- portante lembrar que cada pessoa é única e, portanto, deve ser observada e admirada de forma particular", afirma a psicóloga clínica Priscila Araújo, de São Paulo.
A inveja pode funcionar como ferramenta para o crescimento O incentivo que faltava Pare por alguns instantes e reflita: quais são as coisas que mais despertam inveja em você? Certamente, irá perceber que, no geral, a origem dessa emoção são as conquistas alheias: a sua amiga que foi promovida para um cargo bacana, o vizinho que comprou um carro novo, sua prima que arranjou um namorado incrível. Então, não dá para negar: a inveja vem tam- bém da admiração, que, em determinado ponto, acaba envenenada por sentimen- tos negativos. Muita gente acredita, no entanto, que acertando a dose e saben- do direcioná-la é possível livrar a inveja do estigma de vilã.
E mais do que isso, dá até para utilizá-la em favor próprio, sem prejudicar o outro. "A inveja pode funcionar como ferramenta para o crescimento. Isso ocorre quando as pessoas enxergam aquele que obteve sucesso como um exemplo e fazem disso um es- tímulo para buscar o que desejam ter ou ser", explica Priscila Araújo. É o que chamamos de inveja boa e os especialistas de inveja criativa. Acontece que, muitas vezes, presenciar a vitória de outra pessoa nos desperta a vontade de vencer também. Aí, começamos uma série de atitudes benéficas: pensamos no que nos falta para chegar lá, plane- jamos, mudamos aquilo que não estava bom... É como um empurrãozinho, a força que faltava para irmos atrás de nossos objetivos.
"Diante disso, fica claro que mesmo os sentimentos que rotulamos como negativos podem vir a serviço de algo, revelando-se, na verdade, transformadores. O segredo é acolher as emoções como parte de nós, refletir sobre elas e tudo o que sinalizam", finaliza Cida Medeiros.
Patrícia Affonso
Um pouco relutante, mas satisfeita por mostrar sua superioridade diante da presa, a serpente aceitou a proposta. Para começar, o inseto quis saber se fazia parte da cadeia alimentar de sua perseguidora.
Rapidamente, ela respondeu que não. Percebendo que não se tratava de uma questão alimentar, o vaga-lume tentou puxar pela memória algo pessoal. No entanto, não se recordou de nenhum conflito entre eles. Questionou, então, se já havia feito algum mal à cobra. Ela balançou a cabeça negativamente. Confuso e sem entender o que se passava, ele perguntou, por fim, o que fazia a serpente caçá-lo com tanta insistência e ódio. A resposta foi objetiva. "É que não suporto vê-lo brilhar", disse. Essa simples história retrata com clareza um sentimento conhecido por todos nós: a inveja. Afinal, quem é que nunca se sentiu incomodado com o sucesso alheio, desejou estar no lugar de outra pessoa ou possuir algo que não era seu? E mais que isso, qual de nós nunca notou (e temeu!) olhos invejosos diante de um momento feliz que estava vivenciando? "A inveja faz parte da natureza humana.
E, por mais que as pessoas a evitem e sintam vergonha de admiti-la, é preciso reconhecer sua ação em nossas vidas e, assim, encontrar uma forma de trabalhá-la", ressalta a terapeuta transpessoal Cida Medeiros, de São Paulo. Olhando para dentro Uma das principais questões acerca da inveja é a competitividade. Apesar de esse conceito ser um velho conhecido dos seres humanos - antes ligado a questões importantes, como a sobrevivência - atualmente, sua atuação é muito mais intensa e abrange as mais diversas áreas.
"A cultura moderna prega padrões profissionais, estéticos e até pessoais que levam as pessoas a competirem o tempo todo, sem nem sequer se dar conta disso. E competição leva à comparação. Esse é o ponto de partida para muitas situações em que a inveja figura", comenta Cida Medeiros. O raciocínio é lógico: quando comparamos duas ou mais pessoas, alguém termina em posição de desvantagem. E é aí que, ge- ralmente, pinta aquele incômodo per- sistente, quase que como uma voz que nos estimula a cobiçar o trunfo do outro. No início, a coisa é branda: a gente re- conhece as qualidades dele e até lamenta por não ser daquele jeito.
Existem casos, porém, em que a inveja toma proporções tão grandes que cria o desejo de destruir o ser invejado. Aí, aparecem aquelas situações tí- picas. Sabe aquele cara que vive caçando defeitos em você e espa- lha boatos maldosos por aí? Pois é, tudo pode ter começado em um mo- mento no qual você se destacou. Por isso, um dos principais antído- tos contra a inveja mora dentro de cada um de nós. É a autoestima. Afinal, quem se conhece bem consegue identi- ficar suas virtudes e habilidades e não perde de vista seu valor. Sobra então, pouco espaço para o sentimento de in- ferioridade, grande fomentador da dor de cotovelo. "É im- portante lembrar que cada pessoa é única e, portanto, deve ser observada e admirada de forma particular", afirma a psicóloga clínica Priscila Araújo, de São Paulo.
A inveja pode funcionar como ferramenta para o crescimento O incentivo que faltava Pare por alguns instantes e reflita: quais são as coisas que mais despertam inveja em você? Certamente, irá perceber que, no geral, a origem dessa emoção são as conquistas alheias: a sua amiga que foi promovida para um cargo bacana, o vizinho que comprou um carro novo, sua prima que arranjou um namorado incrível. Então, não dá para negar: a inveja vem tam- bém da admiração, que, em determinado ponto, acaba envenenada por sentimen- tos negativos. Muita gente acredita, no entanto, que acertando a dose e saben- do direcioná-la é possível livrar a inveja do estigma de vilã.
E mais do que isso, dá até para utilizá-la em favor próprio, sem prejudicar o outro. "A inveja pode funcionar como ferramenta para o crescimento. Isso ocorre quando as pessoas enxergam aquele que obteve sucesso como um exemplo e fazem disso um es- tímulo para buscar o que desejam ter ou ser", explica Priscila Araújo. É o que chamamos de inveja boa e os especialistas de inveja criativa. Acontece que, muitas vezes, presenciar a vitória de outra pessoa nos desperta a vontade de vencer também. Aí, começamos uma série de atitudes benéficas: pensamos no que nos falta para chegar lá, plane- jamos, mudamos aquilo que não estava bom... É como um empurrãozinho, a força que faltava para irmos atrás de nossos objetivos.
"Diante disso, fica claro que mesmo os sentimentos que rotulamos como negativos podem vir a serviço de algo, revelando-se, na verdade, transformadores. O segredo é acolher as emoções como parte de nós, refletir sobre elas e tudo o que sinalizam", finaliza Cida Medeiros.
Patrícia Affonso
Nenhum comentário:
Postar um comentário