2 de mar. de 2010

Ditadura da beleza

Não é de hoje que somos sistematicamente submetidos a um forte apelo pela valorização da estética. Abrimos as revistas, ligamos a TV, olhamos outdoors pelas ruas e lá estão expostos corpos esquálidos como ideal de perfeição feminina, sem falar do culto à malhação - imagens que pouco refletem os padrões reais da grande maioria da população. A cada dia proliferam academias, clínicas de estética, novos tratamentos antienvelhecimento, antiestrias, “antiisso”, “antiaquilo...” ufa!!! É tanta informação e novas propostas que, se não tivermos senso crítico, somos levados a querer experimentar tudo ou, pior ainda, sentimos nossa auto-estima despencar. Vivemos hoje sob uma ditadura do corpo. A todo o momento surgem novas dietas, clínicas de estética, tipos de ginásticas e mais um arsenal de produtos para o corpo que remetem a novos padrões corporais de beleza, que prometem para aqueles insatisfeitos com suas formas o caminho para a perfeição corporal. Se você não está dentro deste tipo determinado, será um excluído social. Como podemos ver no nosso dia-a-dia, a maioria dos brasileiros deseja estar em forma e busca os mais variados artifícios para encontrar esse corpo ideal. Porém, nessa busca os caminhos muitas vezes são os mais controversos possíveis. Em primeiro lugar deve-se avaliar o aspecto psicológico de por que você quer emagrecer, quais são seus objetivos com esta mudança e, principalmente, qual o desconforto que você tem, seja psicológico ou físico. Hoje o bem-estar físico está em primeiro lugar e só depois o psicológico, indo de encontro ao velho ditado que diz “mente sã em corpo são”. O que se percebe é que muitos buscam a todo custo atingir padrões que muitas vezes não condizem com seu biótipo, abusando das dietas milagrosas, das fórmulas mágicas de remédios para emagrecimento e do excesso de exercícios físicos. Em um determinado momento os excessos poderão ter uma conseqüência danosa ao organismo, levando a uma desnutrição silenciosa ou a uma fadiga crônica, prejudicando a vida profissional ou pessoal do indivíduo. É preciso respeitar o organismo para se obter bons resultados e o processo de emagrecimento deve ser a longo prazo. Em média o corpo leva 18 meses para chegar a um peso e forma ideais. Todo este arsenal de beleza, aliado ao avanço da cirurgia plástica e ao acesso cada vez maior de pessoas das diversas camadas sociais, passou a ter um grande impacto nesta área da medicina.
Na busca do corpo ideal, pessoas querem a todo o custo se adaptar aos padrões reinantes, e visando um resultado rápido recorrem a grandes cirurgias de correção e implantes, em processos que muitas vezes submetem o paciente a diversos tipos de procedimentos em uma só cirurgia. É fundamental alertar que a cirurgia estética é um procedimento cirúrgico e como tal deve ser respeitado. Fazer uma coisa de cada vez e a seu tempo e não se expor a riscos desnecessários, que podem vir a terminar em resultados insatisfatórios ou até mesmo em complicações graves para o paciente. As prioridades inverteram-se. Se um marciano chegar hoje à Terra, vai achar que a celulite é mais importante do que a queimadura. Essa seria a percepção que ele teria da celulite, que é o que todo mundo fala. Parece um problema de saúde pública. Agora virou foco de interesse não somente do médico, como da própria televisão e da mídia que usa aquele gancho para poder faturar. O interesse é no produto como algo comercial e não médico.
A cirurgia estética tornou-se um objeto de consumo cada vez mais separado do ambiente médico. Porque uma amiga fez, a outra tem de fazer também, então se chega a esse absurdo. Qual é a percepção hoje da cirurgia plástica? Primeiro a promoção mercadológica, segundo criar sonhos. O sonho de ser jovem eternamente e da beleza ideal. A cirurgia plástica não é uma cirurgia no corpo, mas no cérebro. Modifica-se a personalidade da pessoa com o bisturi. É a cirurgia da vaidade. Não há nada de errado em procurar estar de bem com a vida e com você mesmo, o importante é fazer isso de forma correta, com boa orientação e no tempo certo. Neste caso, o papel do cirurgião plástico hoje é fundamental para avaliar se o paciente realmente precisa da correção ou não. Muitas vezes, uma boa orientação psicológica pode evitar um procedimento arriscado e o cirurgião poderá atuar no que realmente precisa ser melhorado em seu paciente. Neste caso, ambos saem ganhando em segurança e na confiança de se alcançar um resultado que atenda as expectativas de sucesso do paciente. Jorge Antônio de Menezes

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