29 de jun. de 2010

Maria José Bretas

ARREMESSO DE PESO O dia nasce como a calvície avança atrás da testa. Partindo de trinta e três, partindo ostras no quintal, caramujo todos ameaçados. Cães respondem a um termômetro que mal conhecem.
Tenho um lençol Artex cativante com flores aplicadas, mas podem murchar, vai estar quente-doze horas de frente. A alma não gosta dos dias úteis, prefere vagar nos dias fúteis.
Não encontro os chinelos siameses, não calço o número de ontem. No travesseiro perco uma das orelhas incrédulas, não importa. Van Gogh vivem só com uma. Acordo de vez, dobro duas colchas que agora parecem insensatas, fecho-as no armário com o mostruário disponível que desboto.
Já passo das 7:30, água morna derrete o sabonete e os cabelos que desistem ficam presos na teia do ralo.

RONDA o cachorro tem repetido seus latidos. Ainda não tenho a decifração,mas ele tem longo alcance e possui correspondentes na vizinhança. Minha cabeça, contemplada com orelhas e conchas, escuta por segundo dois cães por metro quadrado.

Nem o head-phone os isola por ser um problema de outra ordem: tenho queda para escutá-los, estão situados na vigésima quinta hora, nesta insônia precisa, faço um chá para redimir um ódio insidioso. A lua cheia encerra seu poema e se distancia. Os livros estão em ondas alfabéticas, não decido qual me salvaria.

Nenhum dos cães obedece, quando finalmente junto ao portão suplico que voltem a ser suaves, domésticos. E são quatro cães de porte médio, com cores primarias, ainda dado como inocentes.

Maria José Bretas - in: Locação do Imóvel - 1997

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