27 de jun. de 2010

Gentilezas Urbanas

A relação luz e sombra é um jogo. A relação sombra e umidade é gentileza. No jogo o fascínio está, usando as regras pré-estabelecidas, na ideia de vencer. O fascínio da conquista. Na gentileza o fascínio está na viagem entre a memória estabelecida e a lembrança pessoal. 


Se no jogo as regras são ordens, na gentileza permeia o silencio, o intervalo, o vazio, que são âncoras, são paradas que fazem o corpo repousar e a mente trabalhar. A gentileza serve também para criar distâncias entre as coisas, tornando-as mas nítidas ao olhar. 


Criar nitidez. Num mundo real a gentileza urbana, como expressão humana, nasce de abstrações e é essencialmente abstrata, mesmo que fale da noite, do dia, da luz, da sombra, do cheiro, das estrelas, dos vestígios, das ruínas, das perdas, das flores, das cores, das pedras inertes, das escalas, das proporções, do peso, da chuva, do vento. 


 A gentileza urbana deve vir permeada de memórias, de vazios, de silêncio, para que possa ser social, aglutinando em uma massa só quem faz, com o que faz, para quem faz. A gentileza urbana é forte. Prescinde de autoria. É anônima. Não se sabe às vezes quem fez a gentileza urbana, mas é para todos. A gentileza urbana é como o perfume da florada. Não há como impedir o perfume da florada. O enriquecimento da memória é feito de gentilezas. 
Sakae Ishii
abril, 1989

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