5 de nov. de 2010

Importante é o que lhe interessa

Digamos que você queira diminuir seus gastos mensais, seja para estancar um desequilíbrio financeiro, seja simplesmente para aumentar a poupança em busca de um desejado objetivo de consumo.
Uma estratégia comum e bastante equivocada é a de começar a apontar os supérfluos e limar diversos focos de consumo corriqueiro.
Essa estratégia deve ser reconsiderada, pois raramente se percebe que os gastos descompromissados de pequeno valor, que alguns insistem em chamar de supérfluos, correspondem à fonte mais frequente de felicidade em nossas vidas.
Os pequenos gastos nem sempre são tão pequenos quanto se imagina quando os somamos ao final de um mês.
Mesmo o mais rudimentar dos controles financeiros nos ajuda a comprovar isso. Além disso, se chamamos de supérfluo aquele consumo que não nos traz utilidade, é difícil exemplificar um gasto supérfluo.
Não importa se a pessoa comprou 20 pares de sapato ou uma enorme coleção de canecas; se os bens comprados não eram necessários, talvez o ato de consumo tenha sido a necessidade de alguém frustrado com outros aspectos da vida.
Indubitavelmente, a melhor tradução de felicidade está nas grandes conquistas, como o primeiro emprego, ter um filho ou quitar a casa própria. Mas, será que podemos desprezar a felicidade que nos traz um cafezinho, uma revista ou uma "quick massage"? E a felicidade de dispor de parte de nossa renda para ajudar a uma causa humanitária?
Infelizmente, estamos habituados a dar mais importância a aspectos burocráticos de nossas vidas, como o padrão da moradia, do carro e da moda que temos no guarda-roupas, e a deixar em segundo plano aspectos de consumo que realmente individualizam nossa personalidade.
Abomino a ideia de, diante da necessidade de economizar, partirmos para a corrosão da felicidade familiar, sugerindo o banimento de hábitos individuais para viabilizar uma conquista de médio ou longo prazo.
Parece-me mais sensato economizar em poucas e grandes escolhas, trocando o automóvel da família por um mais barato, por exemplo, com o intuito de preservar a multiplicidade de fontes diárias de felicidade.
Pessoas mais felizes vivem melhor, dormem melhor, são mais criativas e produtivas. Isso tem a ver com consumo. Você conhece algum artista ou escritor famoso que não cultive excentricidades?
Por outro lado, você conhece algum relacionamento que resista à falta de hábitos que quebrem a rotina?
Obviamente, em algumas situações precisamos fazer sacrifícios e efetuar cortes radicais de gastos.
Não é má estratégia, desde que seja adotada de forma intensa, por prazo definido e não muito longo, e com o objetivo de alcançar uma grande recompensa. Fiz cortes radicais de gastos para viabilizar uma celebração de casamento especial.
Conheço jovens que poupam radicalmente para viabilizar um intercâmbio cultural. Isso não é problema, pois se trata de uma espécie de gincana -sacrificar-se para ser recompensado. Porém, quando o sacrifício estende-se por anos, deixa de ser gincana e passa a ser sofrimento. Inquestionavelmente, o hábito de poupar nos ajuda a multiplicar conquistas na vida. Porém, antes de começar os cortes de gastos, proponha-se a elaborar um ranking de prioridades entre seus hábitos de consumo mensais. É um bom exercício de autoconhecimento.
A ordem desse ranking deve obedecer ao sentimento de realização pessoal que cada hábito lhe traz. Quanto maior o prazer obtido, mais alta a posição no ranking.
Para alguns, estará no topo o cafezinho diário ou a verba do happy hour com os amigos. Para outros, a contribuição à igreja ou a associações assistencialistas. Há quem prefira garantir a verba para comprar roupas e estar na moda. Pouco importa.
O interessante é que, conscientizando-se de forma racional sobre a importância de cada gasto para você, será mais fácil identificar o que menos contribui para sua felicidade. Esse será o gasto a ser cortado para priorizar seus objetivos
Gustavo Cerbasi

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