20 de dez. de 2010

A matemática do amor


Sim, dá para calcular se seu relacionamento vai dar certo. 


A amizade vale 10; o desrespeito e a indiferença tiram pontos. Conferimos os detalhes dessa equação com o psicólogo americano John Gottman, que pesquisa o tema há 35 anos e criou o teste de conexão emocional 


O amor não é ciência, mas a saúde de um relacionamento pode ser diagnosticada. 


Isso é o que faz o Ph.D. e professor emérito de psicologia da Universidade de Washington John Gottman em seu Love Lab, o Laboratório do Amor. 


Há 35 anos pesquisando relacionamentos, ele já acompanhou mais de 3 mil casais nos Estados Unidos, escreveu 37 livros e mais de 130 artigos. 


Em 1996, fundou o The Gottman Institute ao lado da mulher, a psicóloga Julie Schwartz Gottman. Para prever as chances de sucesso conjugal, Gottman criou uma metodologia capaz de mensurar os ingredientes que fazem a receita amorosa crescer ou desandar. E garante que o índice de acerto dessa balança chega a 90%. 


A estratégia para avaliar o casamento consiste em várias etapas – de preenchimento de formulários até entrevistas filmadas, onde os casais relatam suas histórias e seus conflitos. Nessas sessões, cada cônjuge é equipado com sensores para monitorar batimentos cardíacos, grau de movimentos que faz na cadeira etc. A equipe do cientista analisa o material observando sinais posturais que revelam a dinâmica do casal para além do discurso verbal. 


Ao longo de três décadas de pesquisa, foi ficando evidente que as atitudes que alimentam ou destroem um casamento se repetem e têm um grau de previsibilidade. Para Gottman, o tripé básico do casamento bem-sucedido é amor, confiança e respeito. Mas esse tripé não se sustenta se não for alimentado: é aqui que a amizade entra na conta de modo determinante. Primeiro filho Uma das fases de tensão do casamento é marcada pela chegada do primeiro filho. De acordo com os estudos de Gottman, cerca de 67% dos casais veem o casamento se deteriorar nessa fase. 


De 130 casais pesquisados, 25% se divorciaram nos cinco anos seguintes ao nascimento do primogênito. Isso acontece porque a libido da mulher costuma diminuir, ela se volta para o bebê e o marido deixa de ser prioridade para ela. “O importante é entender que o filho que chega é dos dois. Considero que a obrigação do pai é a mesma da mãe. Foi Claudio que me ensinou a dar banho na Maria. Nós aprendemos juntos a criar nossas filhas”, explica Maria Fernanda. Mas, embora estivessem mais dedicados às crianças, nem ela nem o marido descuidaram da relação. 


“Depois de colocar as meninas para dormir, fazemos questão de ter um momento nosso. Ao jantar e tomar um bom vinho juntos, garantimos um tempo para conversar. E, se não der para sair, vemos um filme em casa mesmo.” Erro de cálculo Como saber se ele é o homem certo? Namorando. “O amor é míope e o namoro é um par de óculos”, diz Ailton Amélio da Silva, professor de psicologia da Universidade de São Paulo no seu livro O Mapa do Amor(Gente Editora). 


Ele desaconselha trocar alianças sob pressão, seja porque está grávida, seja porque a família ou o namorado insiste. E ninguém deve casar achando que vai “regenerar”o outro. Amélio afirma que algumas características mudam, as pessoas podem melhorar, porém as graves falhas de caráter raramente se alteram. 


Se o namorado nunca trabalha ou fica bêbado todo fim de semana, não imagine que mudará depois do casório. 


Fuja da raia caso o moço se revele: 
1. mentiroso, 
2. infiel, 
3. desonesto, 
4. violento, 
5. machista,
6. egoísta. 


Amigos íntimos A amizade é decisiva porque favorece a conversa e facilita a criação da intimidade. “Conhecer o parceiro é essencial”, diz o psicólogo. Claro que o sexo e a paixão têm um peso importante. Mas, para manter o fogo aceso ao longo do tempo, é preciso ter um genuíno interesse pelo par e saber como lhe agradar. A amizade ajuda até no gerenciamento de crises. “Ela nos torna mais receptivos para ouvir o outro lado”, completa Gottman. Além disso, amigos adoram se divertir juntos. 


 A teoria foi comprovada na prática pela empresária Maria Fernanda Franco, 38 anos, e pelo gestor de recursos Claudio Fernandes, 39, casados há nove anos e pais de duas meninas, Maria, 6 anos, e Helena, 3. “Somos muito parceiros”, diz Maria Fernanda, frisando que um apoia o outro não só na dificuldade mas também no prazer. Quando Claudio começou a se interesser por vinhos, dei um curso para ele de presente.” Decisões que vão mexer com o cotidiano são tomadas em conjunto: “Foi o que aconteceu quando meu marido quis fazer mestrado. 


Ponderamos tudo juntos antes de ele partir para a ação. Sabíamos que seria muito puxado e ele teria menos tempo para a família”, diz Maria Fernanda. Ser amigo é ótimo, mas ser amante também. Para isso, o casal desenvolveu algumas estratégias. “Ter banheiro separado é fundamental para preservar a privacidade – ninguém precisa ver o outro passar fio dental”, acredita Claudio. Ele aposta nas pequenas delicadezas para manter o romance, como presentear a mulher com uma joia no aniversário de casamento ou fazer questão de levá-la para jantar fora toda semana. Contas impossíveis Para quem está procurando um par ou tendo dificuldades com algum pretendente, é bom poder identificar as contraindicações. 


Gottman alerta que existem pessoas que não nasceram para casar. Os incapazes de confiar em alguém ou os emocionalmente frios se dão mesmo melhor em relações temporárias. Para o especialista, se a incapacidade de confiar é estrutural – ou seja, se vem desde a infância –, ela é irreversível. Quanto às pessoas frias, o relacionamento só avançará se o par também for mais racional, sem expectativas de grandes emoções. Por fim, os estudos comprovam a famosa incompatibilidade de gênios. Quando um gosta de viver num clima de conflito e o outro não, é problema na certa. Idem para a situação em que um deseja discutir a relação e o outro foge disso – se ninguém topar mudar, o fracasso é apenas uma questão de tempo. Há ainda os tipos alérgicos a compromisso. 


É o caso dos egoístas ao extremo. Afinal, a natureza do casamento é a vida a dois. A advogada Paula* acredita que essa era a dificuldade do ex-marido. Ele só se preocupava com os próprios assuntos. É um homem que se basta, não precisa de ninguém. Não agia assim só comigo, mas com todos ao seu redor.” Ela sentia que nada do que falava era importante para Marcelo*. Ele não a acompanhava em nenhum evento social ou programa com amigos. Por outro lado, Paula admite que o ex sempre se portou assim. Ela é que acalentava a esperança de que mudaria depois do casamento (veja o quadro “Erro de cálculo”). 


Isso não ocorreu e em três anos eles se separaram. Para os românticos, que hesitam em misturar amor com números, Gottman frisa que é possível, sim, medir e analisar características e atitudes que facilitam ou dificultam a vida a dois. Não há, porém, método capaz de encontrar o parceiro “certo” para alguém. A flecha do cupido não está na mão da ciência. Tem coisas que só o coração explica. E ele sempre pode receber um novo amor, caso o antigo não tenha dado certo. Os 4 cavaleiros do apocalipse De acordo com os estudos do psicólogo John Gottman, 50% dos divórcios ocorrem até o sexto ano de casamento. Os motivos variam, mas estão associados a uma série de comportamentos tão destruidores que o cientista apelidou-os de “os quatro cavaleiros do apocalipse”. 


Uma parte desses venenos tem antídotos – que só funcionam se os parceiros tiverem realmente interesse em mudar para permanecer juntos.


1. Crítica 
A pessoa tem uma lente negativa; só consegue ver erros, não reconhece os esforços e acertos do par.
Antídoto
Generosidade, capacidade de enxergar e valorizar o melhor do outro. 


2. Defesa 
Ataca para se defender e costuma culpabilizar o outro por todas as dificuldades da vida a dois.
Antídoto
Amizade e justiça. 
Imagine como agiria se, em vez do seu par, estivesse um amigo na sua frente. Isso ajuda a aumentar a confiança e a cortesia. E seja justa: admita também as próprias dificuldades em vez de só acusar seu par. 


 3. Indiferença 
Nunca escuta o que o outro diz ou finge que não escutou.
Antídoto
Mais atenção e respeito à opinião e ao sentimento do cônjuge. Afinal, se nada do que ele fala interessa, por que insistir nessa relação? 


4. Desprezo 
Humilha, ridiculariza o parceiro e sente-se superior.
Antídoto
Não existe remédio nesse caso. Não há motivo para permanecer casada quando o desrespeito e o desamor se instalam. 
Noris Martinelli

Um comentário:

Vicente disse...

O amor é sim uma ciência. Pode não ser uma ciência exata, mas é uma ciência...

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