1 de jan. de 2011

Ano novo, vida nova


Todo ano, à meia-noite do dia 31 de dezembro, nós comemoramos a passagem para o dia 1º de janeiro dizendo feliz Ano Novo. 


Como se o ano tivesse vida própria e autonomia para nos trazer felicidade e nós pudessemos conjurar a infelicidade. Os chineses soltam rojões para afastar as energias negativas. 


Rojões embalados em papel vermelho, a cor que serve para conjurar o mal. 


Sempre disse feliz Ano Novo sem refletir sobre a frase. 


Sem me dar esse luxo. Contento-me com o fato de dizê-la, abraçando os que estão por perto. 


Há alguns anos, no entanto, envio a uma lista de amigos e conhecidos, um e-mail com O ano será novo se você for de paz. Por que a paz é a nossa principal conquista. Quem evita a guerra e a luta de prestígio pode ter esperança. Não é fácil ser de paz, pois a pulsão de morte existe e nós não somos educados para contê-la. 


A exemplo disso, uma frase comumente proferida diante de uma contrariedade: “Se você fizer isso eu te mato”. Uma frase que legitima o assassinato e exibe o lado negro do inconsciente. Freud diz mesmo que basta pensar na importância do mandamento “Não matarás” para deduzir que somos produtos de gerações de assassinos e temos a paixão do crime no sangue. 


Só é de paz quem se empenha continuamente em sê-lo. Só assim é possível não se desviar do bom caminho. Ou seja, daquele em que não queremos saber do ódio e a palavra prima por existir uma escuta verdadeira. Ser de paz é uma arte sobre a qual ainda não se escreveu um livro equivalente à Arte da Guerra de Sun Tsu. 


Como se nós precisássemos aprender mais sobre a manobra das tropas do que sobre o acordo entre as pessoas. A arte da paz implica uma disciplina baseada nas vantagens pacifistas de agir de um ou de outro modo. Uma disciplina à qual subjaz a ética da delicadeza, que tanto ensina o cuidado quanto o respeito. Quem se exercita nesta disciplina presta um grande serviço aos outros e a si mesmo, fazendo um tempo novo acontecer. Há várias maneiras de ser delicado. Uma delas é a de quem se dispõe a escutar, consegue se abstrair de si para deixar o outro existir, falando o que precisa. 


Amar é isso. 


E, quem se dispõe a escutar, não perde tempo. Pelo contrário, ganha pois se surpreende e se renova com o tesouro das palavras e das vidas. Cada vida é uma, absolutamente singular. Como cada flor. Nenhuma rosa é semelhante à outra. Mais ou menos aberta, mais ou menos branca, rosa, ou vermelha. Quando não tem uma cor menos convencional. Para que o ano seja novo, basta se deixar surpreender pelos outros, colher assim a flor do jardim. 
Betty Milan

Um comentário:

Anônimo disse...

a minha flor tem um receptáculo estreito, as pétalas longas e rosa chicletes, e um estigma...[uma palavra?]...sublimado!

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