Quem não se lembra de ter rido, compartilhado e serpenteado comentários ao ver circulando pela internet o vídeo da cantora Vanusa errando a letra do hino nacional?
Eu também ri.
Ela, em sua defesa, alegou estar passando por problemas de saúde e sofrendo efeito de fortes remédios.
Mas isso não nos convence, deviam ser drogas, devia estar bêbada, devia estar debochando do nosso símbolo patriótico: o hino (letra que a gente era forçado a aprender na escola sem saber porquê, e reclamava sem mais poder).
Dois anos depois, Vanusa novamente erra uma letra em apresentação pública, o evento era a premiação do Troféu Sexo MPB. A cantora subiu ao palco por ganhar um dos prêmios da noite e errou a letra de uma música sua, sucesso que está acostumada a cantar há anos. Nessa noite, ela interrompe a letra, confundida em versos, e anuncia que pretende se aposentar.
Adquiriu síndrome do pânico desde que virou alvo das piadas do Brasil inteiro no episódio primeiramente relatado: "Eu estou com síndrome do pânico. Tomo remédio para dormir e para depressão desde o episódio em que errei a letra do Hino. Eu esqueci a letra aqui hoje porque desenvolvi um pavor de subir ao palco, tenho medo de errar de novo", disse. E termina: "Eu perdi a infância dos meus filhos para poder cantar. Tive uma carreira reta e limpa e, na única vez que erro, me transformo na cantora que errou o Hino Nacional.
Sem sentimentalismo barato, ela é uma pessoa pública, não é? Tem que pagar o preço por isso. Além do mais, temos o direito à liberdade de expressão! LIBERDADE DE EXPRESSÃO, esse termo nunca foi tão utilizado, justamente por ser tão eficaz. Eu digo o que eu quero, não me preocupo com o que os outros vão pensar ou sentir e alego: eu tenho direito à liberdade de expressão. A gente fala o que quer sob a santa proteção dessa liberdade que falam por aí e ponho sobre mim a áurea da originalidade e personalidade.
O seu poder de se expressar não te concede o direito de ser cruel.
Eu não sou artista, mas me considero uma pessoa pública, sou professora. Meu público gira em torno de umas 500 pessoas, divididas em três escolas. Assim como os artistas, nós professores, criamos nosso personagem, divulgamos aos alunos apenas parte do que somos e, por perceberem isso, o interesse deles em saber sobre nossa vida pessoal é notória. Hoje eles têm acesso a parte dela, através das redes sociais. Eles podem saber um pouco mais sobre nós através das nossas publicações, seleções de músicas, sabem por onde e com quem andamos através das fotos que tiramos. Isso não é de todo o ruim.
Mas... eles também conhecem a liberdade de expressão. Recentemente um episódio me deixou bastante chateada. Uma amiga minha, também professora, tem sido vítima de ataques de seus alunos pelo facebook. Eles alegam que ela colocou na prova questões de matérias que não foram dadas e por esse motivo ela foi chamada de antiprofissional, infantil e virou a pior professora do mundo numa série de insultos diários e públicos aos olhos delas, os olhos meus, aos olhos dos nossos amigos, inimigos, dos nossos patrões.
Eu não venho em defesa da Vanusa ou da professora apenas, venho em defesa de uma coisa que foi esquecida há algum tempo: a solidariedade humana. Buscar entender e respeitar o outro não pode ser deixado de lado pela nossa extrema ânsia de rir a qualquer custo, mesmo que para isso alguém saia ofendido, machucado, doente. Isso não é um direito seu.
Luciana Oliveira - JazzMan!
Um comentário:
Tudo que vc colocou em seu artigo é a pura expressão desta falta de solidariedade de que tanto falamos, tanto cultuamos e tão pouco praticamos
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