23 de set. de 2012

Prometeu


A humanidade vive refém do materialismo mais feroz. Do custo comparado ao benefício, da lucratividade a qualquer preço, do consumismo idiota, da necessidade de remunerar acionistas anônimos, de pagar juros a banqueiros, impostos aos Césares, esquecendo-se de dar a Deus o que é de Deus. 
Cada um tem seu primado, que se esvanece como bolha a esbarrar no desejo e nos espinhos de outro primado. 
É o Prometeu imortal acorrentado ao rochedo com a águia comendo-lhe um fígado que se regenera a cada bicada. 
“Vaidade das vaidades”, disse Eclesiastes; “Fome de vento”, traduziu poeticamente um letrado francês. “Maia”, ilusão da matéria, sustentam os textos sagrados orientais.
“O desejo é o começo da infelicidade”, ensinou Gautama Buddha. “Doe tudo aos outros e me siga; seu será o reino do céu”, ensinou Jesus. Cristão de verdade é o yoguin, o saddhu, o homem santo que, na Índia, como um Francisco de Assis, adota o conselho de Jesus e larga tudo.
O resto parece um álibi, uma fermentação colossal de ideias e pretextos. É o vento que não sacia a nossa fome, é a águia que não mata, mas tortura Prometeu. É o César, imperador do mundo, que deseja possuir a Lua que brilha no céu de Roma. É o Midas que, a tocar os alimentos, transforma tudo em ouro e padece da fome mais brutal.
 
Bem sabe até o desprevenido que, ao morrer, nada levará. Sabe, mas não se importa. Acumula bens sem conseguir saciar a fome de vaidade. Vaidade para quê? Dizia Descartes: “Vive bem quem bem se esconde”, mas todos querem aparecer e aumentar seu saldo de maus-olhados.
 
Mais do que nunca, Platão! Mais do que nunca, seu mito da caverna para explicar o que é fácil entender e poucos tentam entender. E, no mito, o sábio grego mostra uma humanidade acorrentada, olhando suas sombras refletidas no fundo de uma caverna, enquanto o planeta, o sol, as galáxias, o universo brilham e prosperam lá fora.
 
A que serve essa luta se tudo é passageiro? A que serve ser governador se o desejo de ser presidente nos gera infelicidade?
 
Muito mais vale um pouco de tranquilidade, e o calor dos nossos amigos para comemorar no fim do dia com paz e serenidade uma mesa farta. A mesa que é o sonho de tantos desesperados.
Levante os olhos, mas sem desejar a Lua, esse astro que morreu e só inspira vampiros e lobisomens. Este é o maior desafio: aprender a dominar a si mesmo. O resto é mais simples. É consequência.
Vittorio Medioli

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