23 de nov. de 2007

Esopo


Fábulas são "histórias fictícias que simulam verdades", têm sempre fundo moral ou didático, envolvem freqüentemente deuses e animais falantes e são, muitas vezes, humorísticas.
Dos fabulistas que escreveram em grego, Esopo é sem dúvida o mais importante, e talvez seja também o mais antigo. Ironicamente, embora as fábulas sejam bem conhecidas, pouco se sabe sobre os fabulistas.

Segundo a tradição, Esopo era um ex-escravo procedente da Frígia, região que ficava na parte noroeste da Anatólia, e que viveu em meados do século VI.
Todos os dados que temos a seu respeito são incertos e, ironicamente, fabulosos. Na realidade, as historietas em prosa que circulavam na Antigüidade sob seu nome e das quais conhecemos cerca de duzentas e cinqüenta são totalmente anônimas.
Embora as fábulas já estivessem presentes em alguns dos mais antigos textos gregos (Ilíada, Odisséia, Os rabalhos e os Dias), somente nos séculos -V e -IV alcançaram popularidade, notadamente junto aos filósofos e poetas cômicos.
Eis alguns exemplos: Platão; Aristofanes.
No fim do Período Clássico, foram incorporadas como recurso discursivo pelos oradores.
Apesar da popularidade da fábula, a primeira coletânea, a Coletânea de Discursos Esópicos de Demétrio de Fáleron, surgiu apenas no início do Período Helenístico, e não chegou até nós.
Todas as coleções que sobreviveram datam do Período Greco-Romano.

Dentre as fábulas atribuídas a Esopo, ditas "esópicas", cerca de duzentas e setenta chegaram até nós. Mais ou menos duzentas e trinta foram reunidas na Antigüidade em forma de coletânea nos séculos IV-V e compõem uma coleção que os eruditos modernos chamam de Augustana; outras quarenta, aproximadamente, provêm de manuscritos diversos.
Em geral, a fábula começa pelo título, depois vem uma curta narrativa em prosa e, quase sempre, um epimítio.

No epimítio o fabulista freqüentemente apresenta aquilo que chamamos, na atualidade, de "moral da história". Os personagens são muito variados: homens e mulheres, personagens mais ou menos hist ricos, deuses e deusas, animais falantes — todos descritos de forma sucinta, porém muito viva.

O marido e a mulher difícil
Um homem tinha uma mulher de gênio muito difícil com todos da casa, e quis saber se também com os escravos do pai dela se comportava do mesmo modo; por isso, com uma desculpa bem arranjada, enviou-a ao pai. Depois de alguns dias, ela regressou e o marido perguntou como os
escravos a tinham acolhido. Ela respondeu: "os boieiros e os pastores olharam- me por baixo das sobrancelhas". E ele disse a ela: "Mas, mulher, se você se tornou odiosa a eles, que conduzem os rebanhos de madrugada e à tarde voltam, o que se pode esperar daqueles com quem você convive todos os dias?"
Assim, muitas vezes tornam-se evidentes as coisas grandes a partir das pequenas, e as ocultas a partir das visíveis.

Hermes e o escultor
Hermes, querendo saber da estima que gozava entre os homens, apresentou-se em forma humana na oficina de um escultor. Vendo uma estátua de Zeus, perguntou quanto era. Ao lhe responderem que era uma dracma, riu e perguntou quanto era uma de Hera, e responderam que era ainda mais cara. Vendo também a estátua dele, supôs que, por ser um mensageiro e também favorecer o lucro, era bem considerado por todos os homens. Por isso perguntou quanto era uma de Hermes, e o entalhador disse: " Se você comprar essas, eu a darei de brinde".
A fábula convém aos homens presunçosos, que não gozam de nenhuma consideração junto aos demais.

O lobo e o cordeiro
Um lobo viu um cordeiro bebendo no rio e quis devorá-lo através de um motivo bem fundamentado. Assim, colocou-se mais acima e depois acusou-o de turvar a água e não permitir-lhe beber. O cordeiro disse que bebia com o extremo do lábio e, além disso, não é possível do lado de baixo turvar a água do lado de cima. O lobo, falhando na acusação, disse: "Mas no ano passado você injuriou meu pai". E quando o cordeiro respondeu que nessa época nem tinha nascido, o lobo disse: "Se você tem justificativas de mais, não te comerei de menos".
A fábula mostra que para aqueles cujo propósito é injusto, nenhuma justificativa tem valor.

A leoa e a raposa
A leoa, reprovada pela raposa por ter um só filhote ao invés de muitos, respondeu:
"Sim, mas um leão.". A fábula mostra que a excelência não está na quantidade, mas na qualidade.

Wilson A. Ribeiro Jr.

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