Dos fabulistas que escreveram em grego, Esopo é sem dúvida o mais importante, e talvez seja também o mais antigo. Ironicamente, embora as fábulas sejam bem conhecidas, pouco se sabe sobre os fabulistas.
Apesar da popularidade da fábula, a primeira coletânea, a Coletânea de Discursos Esópicos de Demétrio de Fáleron, surgiu apenas no início do Período Helenístico, e não chegou até nós.
Dentre as fábulas atribuídas a Esopo, ditas "esópicas", cerca de duzentas e setenta chegaram até nós. Mais ou menos duzentas e trinta foram reunidas na Antigüidade em forma de coletânea nos séculos IV-V e compõem uma coleção que os eruditos modernos chamam de Augustana; outras quarenta, aproximadamente, provêm de manuscritos diversos.
Em geral, a fábula começa pelo título, depois vem uma curta narrativa em prosa e, quase sempre, um epimítio.
O marido e a mulher difícil
Um homem tinha uma mulher de gênio muito difícil com todos da casa, e quis saber se também com os escravos do pai dela se comportava do mesmo modo; por isso, com uma desculpa bem arranjada, enviou-a ao pai. Depois de alguns dias, ela regressou e o marido perguntou como os
escravos a tinham acolhido. Ela respondeu: "os boieiros e os pastores olharam- me por baixo das sobrancelhas". E ele disse a ela: "Mas, mulher, se você se tornou odiosa a eles, que conduzem os rebanhos de madrugada e à tarde voltam, o que se pode esperar daqueles com quem você convive todos os dias?"
Assim, muitas vezes tornam-se evidentes as coisas grandes a partir das pequenas, e as ocultas a partir das visíveis.
Hermes e o escultor
Hermes, querendo saber da estima que gozava entre os homens, apresentou-se em forma humana na oficina de um escultor. Vendo uma estátua de Zeus, perguntou quanto era. Ao lhe responderem que era uma dracma, riu e perguntou quanto era uma de Hera, e responderam que era ainda mais cara. Vendo também a estátua dele, supôs que, por ser um mensageiro e também favorecer o lucro, era bem considerado por todos os homens. Por isso perguntou quanto era uma de Hermes, e o entalhador disse: " Se você comprar essas, eu a darei de brinde".
A fábula convém aos homens presunçosos, que não gozam de nenhuma consideração junto aos demais.
O lobo e o cordeiro
Um lobo viu um cordeiro bebendo no rio e quis devorá-lo através de um motivo bem fundamentado. Assim, colocou-se mais acima e depois acusou-o de turvar a água e não permitir-lhe beber. O cordeiro disse que bebia com o extremo do lábio e, além disso, não é possível do lado de baixo turvar a água do lado de cima. O lobo, falhando na acusação, disse: "Mas no ano passado você injuriou meu pai". E quando o cordeiro respondeu que nessa época nem tinha nascido, o lobo disse: "Se você tem justificativas de mais, não te comerei de menos".
A fábula mostra que para aqueles cujo propósito é injusto, nenhuma justificativa tem valor.
A leoa e a raposa
A leoa, reprovada pela raposa por ter um só filhote ao invés de muitos, respondeu: "Sim, mas um leão.". A fábula mostra que a excelência não está na quantidade, mas na qualidade.
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